Piracicaba na Revolução de 1932, segundo Jacob Diehl Netto

Funcionários municipais formaram um batalhão na Revolução de 1932

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi esquecida durante a ditadura militar de 1964 por tratar-se de um movimento épico em defesa das liberdades democráticas, influindo nos destinos do Brasil. Piracicaba,em 1932, engajou-se fortemente na convocação cívica, sendo muitos os piracicabanos que se alistaram para defender os paulistas diante da ditadura Vargas, que já se prenunciava. O advogado e jornalista Jacob Diehl Netto foi um desses heróis e revolucionáros. Em 1935, três anos depois do levante revolucionário, Jacob Diehl Netto publicou, na imprensa local, vários textos mostrando a realidade das batalhas e o envolvimento dos piracicabanos. Reproduzimos, para registro histórico, alguns comentários:

14 de agosto

… “despertamos bem dispostos, como se tivéssemos dormindo em nossa casa. No quintal da casa, é claro, porque o céu é nosso teto. Começa a aborrecer-nos a falta de serviço. Pelo meio dia, a fuzilaria inimiga começa a castigar-nos e logo depois a artilharia… Um aviso: às 19 hs avançaremos, acompanhando um guia, a encontrar o nosso comandante, que fez sozinho um reconhecimento e nos espera na posição que será nossa, mais adiante.

Ao escurecer, chega o guia. É Dimas Passini, o bravo soldado e pescador piracicabano, um dos reis do nosso ‘Salto’. A ordem é para avançarmos em coluna de um, com o máximo cuidado, em completo silêncio, distantes 5 m uns dos outros. Passini me conta que a caminhada vai ser dura, subindo e descendo morros formidáveis, através de pastos escorregadios. Saímos, andamos e andamos, por altos e baixos…. Paramos, esperamos largo tempo, infindável tempo. Que haverá? Há sombras, que vão e vêm, que trocam idéias, concertam providências. Nossa perplexidade aumenta de minuto a minuto, enquanto uma hora inteira se passa. Afinal, temos ordem para retroceder. Passini perdera, no escuro, a picada que abrira à plena luz. Pudera! Ele é pescador, não caçador.

E voltamos, com as mesmas pernas, a dormir no mesmo lugar de onde saímos…..”

15 de agosto

.. “de amanhã em diante nossa tropa terá a denominação de Coluna Boaventura. Não é sem tristeza que eu vejo essa mudança, de que tenho notícia cedo, e em que se vai um tanto de recordação de minha terra, mas devo reconhecer que ela é justa. Os voluntários piracicabanos, desde que tiveram de marchar para as trincheiras, foram separados uns dos outros quase integralmente, reduzidos a pequenos grupos dispersos, sem a menor assistência moral, desprovidos de recursos materiais, mal alimentados, mal vestidos, muitas vezes sem comando. Em Silveiras, depois da retirada de Areias, dávamos a impressão de uma horda de mercenários, vindos de vários pontos, ao deus dará …

Devemos ao tenente Boaventura estarmos juntos, no maior número possível. Mas não estamos sozinhos. Para aumentar o contingente dispersado pela mutilação inicial do Batalhão Piracicabano, teve nosso comandante de reunir, sob suas ordens, soldados de outras procedências, em grande número. A coluna já não pode ter um qualificativo piracicabano. É justo que tenha o nome de seu chefe e praza os céus que possa honrá-lo. A rapaziada agrícola (NR: Estudantes da Esalq que se alistaram) está aqui quase toda. Sempre entusiasmada, sempre alegre. Não se esquecem de sua escola os bravos estudantes, nem deixam de se reunir aos vivas que lhes dão…”

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