Cervejaria Wagner: Piracicaba aprendeu a fazer

A primeira cervejaria de Piracicaba surgiu no século passado trazida diretamente da Alemanha por Jacob Wagner, que já possuía no sangue o gosto e a tradição germânica pelo consumo da bebida e o expandia para outros lugares.

A cervejaria Wagner é apenas uma lembrança do passado, mas sua passagem por Piracicaba se mantém guardada em registros fotográficos e nas recordações dos mais velhos, já que permaneceu aberta até em meados da década de 20.

O artista plástico Renato Wagner, neto do fundador, tinha algumas esparsas informações sobre a trajetória pioneira, fruto de conversas familiares que ouvia desde quando era menino. Renato afirmou não saber exatamente qual foi o motivo que levou Jacob Wagner a abandonar a pátria alemã e partir para uma aventura em solo brasileiro. “Provavelmente tenha sido mesmo esse espírito de pioneirismo que o fez vir para cá. Eu não sei bem quais eram as condições econômicas da Alemanha no início do século passado, mas creio que, para eles, o Brasil era uma espécie de paraíso inexplorado onde haveria chances de se enriquecer. E, além de tudo, existia aquela aura de ser um lugar tropical, que exercia uma forte atração na mente de todos os europeus”.

BEBIDA ARTESANAL

Jacob Wagner deu início a sua aventura tropical se dedicando a algo que já estava fortemente presente, como uma marca, em sua vivência alemã: a cerveja, é claro. A primeira instalação da fábrica era num pequeno barracão próximo ao Palacete Boyes. Renato diz que, logo no começo, a Cerveja

Wagner contou com uma boa aceitação do público piracicabano. E tinha um motivo muito especial para isso. “A produção da bebida era feita de maneira tipicamente artesanal, exatamente do mesmo jeito que ele fazia na Alemanha. A fórmula só tinha lúpulo, malte e cevada, sem qualquer outro componente, como existe agora”.

Jacob Wagner às vezes vendia seu produto para uns poucos bares da cidade, mas o principal de seu comércio vinha da entrega a domicílio, como diz Renato. “O transporte era feito através de carrinhos puxados a cavalo, com as garrafas sendo acomodadas em engradados de metal. E, inclusive, uma das coisas que chamava a atenção era que a cerveja não era fechada com uma tampinha de metal, mas sim com uma bolinha de gude que era colocada no gargalo. A pressão que se formava dentro da garrafa é que a conservava fechada” .

As cervejas Wagner logo se tornaram bastante apreciadas, com um público consumidor que incluía todas as classes sociais, se bem que naquela época essas diferenças não eram tão marcantes. “Era comum que o meu avô – diz Renato – parasse com seu carrinho à porta do Teatro Santo Estevão quando havia grandes apresentações. E na hora do intervalo ele vendia quase tudo” .

Renato discordou de que a cerveja no início do século era uma bebida mais refinada e exclusiva das pessoas de maiores posses. “Não era assim, já era considerada uma bebida popular, aceita por todo mundo, o pessoal gostava e tinha uma boa saída. No princípio havia alguns preconceitos, como por exemplo, o de que uma mulher não era muito aceita se fosse vista tomando cerveja em público, mas depois isto acabou passando”.

PERSEGUIÇÃO

Depois de seu começo ao lado do Palacete Boyes, a Cervejaria Wagner mudou de endereço, passando para uma instalação mais ampla à rua Benjamin Constant esquina com a Dom Pedro lI, onde ficou até 1918. Neste lugar conheceu uma fase de maior progresso, mas ao mesmo enfrentaram condições difíceis.

Como a que aconteceu quando estourou a Primeira Guerra Mundial e os alemães eram vistos como vilões que iniciaram o conflito. Renato Wagner ouviu muitas histórias a esse respeito e que quase atingiram sua família. “Naquele ano, algumas pessoas organizaram manifestações de protesto contra os alemães, estendendo isso para estabelecimentos comerciais de Piracicaba que eram dirigidos por pessoas dessa nacionalidade. A Chapelaria Wolgemuth, por exemplo, que ficava na rua do Comércio, hoje Governador Pedro de Toledo, foi totalmente depredada. E depois disso os manifestantes partiram para a cervejaria do meu avô”.

Renato Wagner ainda não era nascido neste ano, mas o episódio era um dos mais recordados por sua mãe Ana Dorta Wagner, que nunca o esqueceu. “Ela me contou que chegaram dezenas de pessoas chegaram gritando coisas como “Fora, Alemão”. Isso causou um susto muito grande e eles tiveram que ficar trancados dentro da casa que tinham nos fundos da cervejaria. Puderam ouvir todas as palavras dos manifestantes, até que alguém disse: “Mas o Wagner, ele é gente boa”. Com isso, a coisa esfriou e eles foram embora sem quebrar nada.

Depois da morte de Jacob Wagner, a Cervejaria acabou sendo herdada por seus três filhos João, Ricardo e Pedro. Mas, como diz Renato, “meus dois tios acabaram desistindo do negócio e compraram uma fazenda em Charqueada”. Assim, a fábrica foi vendida para a Cervejaria Rio Claro, que começou a vender a Caracu, que alcançou grande sucesso de vendas. Quem prosseguiu com o ramo de cervejas foi seu pai, Jollo Wagner, que abriu outra fábrica de mesmo nome em Vila Rezende. O local durou pouco tempo, pois em 1921, ele partiu para Lins com um novo empreendimento, localizado na praça central da cidade e que durou até sua morte, em 1927.

Renato Wagner disse que, desta história toda, fica uma lição de pioneirismo.

2 comentários

  1. Sidnei em 21/08/2013 às 21:10

    Minha mae, Ruth Wagner, filha de Pedro Wagner conta uma passagem bem interessante da epoca da Cervejaria Wagner, diz ela que uma vez eles erram em uma das dosagens em um dos ingredientes da receita, mas que resolveram vender mesma assim. So que, o que eles nao esperavam e que muitos do que consumiram essa remessa fossem gostar tanto ao ponto de pediram para repetir e e ai que vem o mais engracado da historia… o unico problema era que eles nao lembravam a receita.

    • Julia Wagner em 08/01/2023 às 16:57

      Olá Sidnei! Sou bisneta de João Wagner, irmão do Pedro. Meu avô, Renato Wagner (falecido em 1995) contava essa mesma história. Será que consigo contato seu?

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