O Papel Pioneiro de Piracicaba na Construção Fabril na Província de São Paulo (IX)

Figura 06: Empresa Hidráulica ao lado do salto de Piracicaba. Arquivo Câmara Municipal de Piracicaba

Figura 06: Empresa Hidráulica ao lado do salto de Piracicaba. Arquivo Câmara Municipal de Piracicaba

As primeiras experiências de iluminação pública elétrica na cidade foram realizadas em 2 de agosto de 1893, nos Largos da Matriz e do Teatro, e parcialmente nas Ruas Prudente de Moraes, São José, Alferes José Caetano, Moraes Barros, Gov. Pedro de Toledo, Benjamim Constant, 13 de Maio e Santo Antonio. Novas experiências se deram em 2 de setembro e no dia 4, do mesmo mês o serviço de iluminação elétrica já funcionava regularmente, iniciando-se as instalações domiciliares. Em 6 de outubro de 1893 a iluminação pública elétrica foi oficialmente inaugurada, funcionando com apenas 120 lâmpadas de 32 velas, das 235 prometidas em contrato. O pioneirismo de Piracicaba na iluminação elétrica é tão significativo que a primeira central elétrica do mundo foi instalada em 1882, apenas 11 anos antes, em Nova Iorque, após a criação da lâmpada incandescente por Thomas Alva Edison em 1979. A Capital de São Paulo somente inaugurou seu sistema em 1899.

Após a morte de Luiz de Queiroz em 1898, sua viúva assumiu a empresa denominada ‘Usina Termo-Elétrica L. de Queiroz’, que por várias vezes foi multada pela Câmara, por desserviços prestados à população. De acordo com a vontade de Luiz de Queiroz, a empresa deveria passar à Municipalidade, provavelmente após o fim do contrato. No entanto, a Câmara abriu mão da doação permitindo a venda para a firma ‘Ignarra, Penteado & Cia’. Às vésperas do término do contrato, a rede estava a cargo da ‘Southern Brasil Electric’, a qual também detinha o privilégio do serviço de bondes desde 1915.

Figura 02: Fábrica de Tecidos vista da Rua 13 de Maio em 1906. (Rotellini, 1906).

Figura 02: Fábrica de Tecidos vista da Rua 13 de Maio em 1906. (Rotellini, 1906).

A Usina, ainda existente, foi edificada em alvenaria aparente, vidraças de abrir e as telhas de capa e canal, com um anexo em madeira que se estruturava de forma semelhante ao esquema enxaimel (desaparecido). Neste pequeno edifício fabril aparece uma característica importante da alvenaria aparente em Piracicaba: a gama de cores variadas nos tijolos. Em propriedade particular, não permite acesso público.

No mesmo território ribeirinho onde se instalaram o Engenho Central e a Santa Francisca, consta também anterior a 1887 a existência de três fábricas de cerveja em Piracicaba, localizadas próximo ao Salto. Pertenciam a Jacob Wagner, Sachs & Filhos e Manoel Barbosa Gomes e os proprietários tinham acordo de preço único a 18$000 por cem garrafas (Guerrini, 1970). Costa (1972) em artigo no JP intitulado ‘Grita a Antiga’ relacionou doze fabricantes de bebidas gasosas, alcoólicas ou não, relatando um protesto abaixo-assinado pelos proprietários que anunciava o fechamento de suas fábricas contra o aumento dos impostos sobre seus produtos em 1896. Os signatários eram Jacob Wagner, Antonio José de Andrade Pinto, Rafaello Aloissi e Irmão, Benedicto Faustino de Toledo, José Fernandes Barreira, André Sachs, Hermann Ravache, Nicolau Kleiner, Manoel Jorge Veríssimo, Adrian e Lutjens, Henrique Cartagenova, José Miguel de Andrade e A. J. de Andrade Pinto. O autor destaca que dos doze fabricantes seis eram de procedência alemã, dois eram italianos e os demais brasileiros de origem portuguesa. Costa (1972) comenta que a paralização não deve ter sido duradoura, uma vez que os estabelecimentos reabriram e muitos destes funcionaram por muitos anos, “pois muita gente, depois deste acontecido, bebeu cerveja do Wagner, bebeu cerveja do Sachs e (…) muita Cotubaína, muita Abacatina, muita Maçã, muita Gengibirra e muita Gasosa fabricadas pelos herdeiros ou sucessores de José Miguel de Andrade” (Costa, 1972).

Outras indústrias de destaque, no passado, foram a Usina Monte Alegre, afastada do Centro, mas próxima ao Rio Piracicaba; a Empresa Mecânica e Construtora Teixeira Mendes & Cia. que trabalhava com peças de madeira e metal na fabricação de máquinas agrícolas; além da refinadora de açúcar e a beneficiadora de arroz de Terenzio Galesi; a Refinadora de Açúcar Pentagna, Nogueira & Cia (junto ao conjunto ferroviário da E.F. Sorocabana no Centro) e das Indústrias Dedini na Vila Rezende. Na maioria, as empresas citadas deixaram de operar em seus edifícios originais, fato que coloca em risco a permanência dos conjuntos fabris na paisagem urbana de Piracicaba.

Marcelo Cachioni
Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico do IPPLAP Piracicaba-SP
Professor de Patrimônio Histórico na ASSER Rio Claro-SP e Técnicas Retrospectivas na FIEL Limeira-SP

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