Memória – Centro Cultural Martha Watts (17)
Reproduzimos, em capítulos, um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano – trajetórias que influenciaram a educação do Estado de São Paulo, no final do século XIX. Este conteúdo foi reunido em publicação de junho de 2003, que comemorou a inauguração do Centro Cultural Martha Watts.
O terreno da rua Boa Morte que abriga o Colégio Piracicabano foi adquirido em 1882, pelo missionário norte-americano rev. John James Ransom, então chefe da missão metodista episcopal no Brasil, e um dos companheiros de Martha Watts em sua viagem ao país. Financiada pela Sociedade Missionária de Mulheres Metodistas dos EUA, a obra foi levantada entre as ruas Ourives e Esperança, que, mais tarde, seriam conhecidas como Rangel Pestana e Dom Pedro II.
Cento e vinte anos depois, o prédio começaria a ser restaurado para receber o Centro Cultural Martha Watts.
A construção do edifício principal teve início em janeiro de 1883, sob a responsabilidade do arquiteto Antonio de Matheus Haussler. Ele também projetou o palácio Campos Elysios, que pertenceu à família Pacheco e Chaves e se tornou sede do governo do Estado de São Paulo, na avenida Rio Branco. O prédio principal abriu suas portas para os primeiros alunos no ano seguinte e foi minuciosamente descrito em carta por sua fundadora e primeira diretora, Miss Watts. Em sua dissertação de mestrado, o arquiteto Marcelo Cachioni, responsável pelo restauro do edifício, relata que, na época, a obra foi avaliada em US$ 19 mil, segundo declarações do próprio rev. Ransom.
Características neoclássicas
O estilo da edificação revela características da arquitetura norte-americana (como a alvenaria aparente), com influência do neoclássico paladiano (expressa na simetria da fachada). Era comum na Grã-Bretanha e no sul dos Estados Unidos do século 19. O arquiteto Hélio Dias explica que o estilo é conhecido como colonial americano, justamente porque “os Estados Unidos, ao realizar suas missões e ampliar suas colônias, levavam, entre outros itens da cultura, sua tipologia arquitetural”.
Mesmo não tendo sido o primeiro prédio de grande porte na cidade, o edifício do Colégio causou impacto. Piracicaba já vivia um processo de mudança em sua paisagem, com a instalação de empreendimentos diversos. A cidade abrigava os palacetes de Luiz de Queiroz e do Barão de Resende, além da Chácara Nazaré, o Teatro Santo Estêvão, o Engenho Central, entre outros. Nesse contexto, Cachioni destaca que o prédio foi especialmente importante para a rua Boa Morte, destacando-se pelo seu porte e recuo na calçada.
Mas a maior inovação foi a questão sanitária, destaca Cachioni. O prédio já atendia a essas exigências, mesmo antes de legislação específica. Isso era expresso, por exemplo, no porão (que isolava o prédio da umidade da terra), e nas janelas grandes para boas iluminação e ventilação. Cachioni acredita, ainda, que, possivelmente, este “tenha sido um dos primeiros edifícios da cidade cobertos com telhas francesas do tipo ‘Marselha”.
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