Sobre a mãe brasileira de Thomas Mann (2)

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No final do século IXX, o rio Piracicaba era uma das vias de acesso ao sertão. (foto: acervo Cecílio Elias Netto)

O rio Piracicaba era, então, uma das vias de penetração do sertão paulista, uma das bocas do sertão como se dizia, sendo o seu porto frequentado, anualmente, por mais de 400 canoas, que transportavam principalmente sal para as fazendas do interior, alcançando lugares tão distantes como Lençoes e Avanhadava. Emilio Zaluar e o diplomata suíço J.J. Von Tschudi, que visitaram a vila em meados do século, testemunham o grande movimento que representava a navegação do rio Piracicaba.

De posse da concessão, João Luiz Bruhns, como passou a ser chamado, tomou logo providências para executar o seu projeto, construindo o vapor O EXPLORADOR, que faz a sua primeira viagem entre Piracicaba e a Fazenda das Ondas, superando as cachoeiras do Enxofre e do Algodoal, no dia 13 de janeiro de 1875, regressando no dia seguinte a Piracicaba, sem problemas.

Anuncia, então, que a Companhia Fluvial Sul Paulista, da qual era gerente, segundo relatório do Presidente da Província e documentos da Câmara Municipal, iria inaugurar, brevemente, uma linha regular de navegação entre Piracicaba e Lençoes.

D. Pedro II só conheceu efetivamente Bruhns em 1877, quando a sua empresa já funcionava há mais de dois anos, ao visitar Piracicaba, havendo percorrido o rio, em um dos vapores da empresa, até o local denominado Limoeiro, embarcando no porto denominado Canal Torto, onde chegara com a ajuda de canoas.

A Companhia Fluvial Sul Paulista funcionou por muitos anos e possuía, em 1884, uma frota de três vapores que arrastavam enormes chatas até o porto de Piracicaba, transportando em média, por ano, 240 mil toneladas de mercadorias diversas, havendo a companhia sido vendida, em 1885, à Estrada de Ferro Ituana, que construiu, no Canal Torto, depois batizado como Porto de João Alfredo, uma estação de sua linha férrea integrada à hidrovia.

É provável haja João Luiz Bruhns se convencido da impraticabilidade da navegação do rio Tietê, um rio muito encachoeirado, ainda que a navegação até Lençoes fosse permanente, havendo se mudado para Parati ou Angra dos Reis. Em Piracicaba, ele deixou fora de qualquer dúvida descendentes que ainda vivem por lá. A sua família correspondia-se com os parentes alemães, conforme um deles, Paulo Bruhns, confidenciou ao jornalista Breno Ferraz do Amaral, que me transferiu essas informações que divulguei em um Almanaque de Piracicaba, que publiquei em 1955.

É interessante verificar que agora, mais de cem anos depois, a navegação do rio Tietê, partindo exatamente de Piracicaba, está sendo viabilizada pela construção de várias comportas, obedecendo a mesma rota implantada pelo avô de Thomas Mann.

(continua no próximo post)

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