A Sesmaria, a Povoação e a Freguesia

A Expansão Sertanista e a praia fizeram recuar as nações indígenas do Vale Médio do Tietê, onde se incluíam os sertões do Piracicaba. No séc. XVIII restaram a mata subtropical, a hidrografia e a fauna.

Em 1722, Luís Pedroso de Barros, objetivando alcançar o perdão por um crime que não cometera, empresariou a abertura do célebre Picadão de Mato Grosso, cujo risco, ligando S.Paulo a Cuiabá, atravessava o rio Piracicaba, bem á altura do porto, próximo ao seu formoso Salto. O executor do primeiro segmento deste longo caminho, conectando Itu a Piracicaba, foi Felipe Cardoso, entre 1722 e 1723. Logo após ele, partiu Luís Pedroso de Barros, completando-se a varação dos Campos de Araraquara até o Paraná. Em 1726, já passavam por Piracicaba os primeiros comboios para Cuiabá.

Em recompensa aos serviços prestados, Felipe Cardoso recebeu d’el Rei a sesmaria de uma légua de quadra, tendo o porto de Piracicaba bem ao centro, enquanto Luís Pedroso de Barros obteve o perdão e mercês. Por falta de visão administrativa, o governo português logo proibiu a utilização deste caminho e a sesmaria de Felipe Cardoso entrou em decadência. A picada não tardou a ser engolida pelo mato.

Piracicaba continuou procurada, através do rio, por gente procedente de Araraitaguaba (Porto Feliz), interessada nas altíssimas árvores de ximbaúva para a construção das canoas maçoneiras indispensáveis aos rios da bacia platina. Foi assim que se tornou conhecida pelo ituano Antônio Corrêa Barbosa, armador de monções em Porto Feliz e escolhido pelo Capitão General D.Luís Antonio de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus, em 1766, para organizar uma povoação nos sertões de Piracicaba, especialmente localizada na barra com o rio Tietê.

O momento era de guerra na fronteira entre castelhanos e portugueses. Outro ituano, o Capitão João Martins de Barros, recebera a incumbência de fundar o Forte de Iguatemi na fronteira paraguaia, havendo partido de Araraitaguaba em 27/07/1767. Dois dias antes, Antônio Corrêa Barbosa se deslocava com a sua gente para fundar Piracicaba, tida como povoação estratégica.

Como se constituía aquela antiga sociedade estabelecida na margem direita do rio, no velho porto? Eram administrados (índios carijós), escravos (provavelmente, índios), mulatos, caboclos, brancos pobres, comandados pelo Diretor-Povoador Antônio Corrêa Barbosa, que trazia a jovem esposa, dona Ana de Lara, alguns filhos pequenos, muitos parentes e amigos. Não chegavam a duzentas pessoas!

Manter viva a Povoação foi tarefa de gigante. Grande alegria animou os “povos” no momento em que Piracicaba foi elevada à Freguesia (1774), tendo por orago Santo Antônio. A comunidade plantada ao pé do Salto sobrevivia da produção das suas roças e da construção das canoas com as quais abastecia as necessidades monçoneiras de Araraitaguaba, particularmente, Iguatemi.

Em 1777, o Forte foi conquistado e destruído pelos espanhóis e índios guaiacurus. O fim da guerra coincidiu com o avanço da fronteira agrícola de Itu no rumo dos sertões do Piracicaba. Chegara o momento de introduzir os canaviais, os engenhos e a escravaria, de produzir o ouro branco (açúcar), que já começava a encontrar colocação no mercado internacional pelo porto de Santos.

O Capitão Antônio Corrêa Barbosa e Frei Tomé de Jesus (o pároco da Freguesia), tomaram a iniciativa de mudar Piracicaba para a margem esquerda do rio, a fim de aproximá-la da estrada de Itu. A área destinada a sediar a comunidade transplantada foi adquirida no cartório de Itu, pelo valor de oitenta mil réis, em 1778. Operada a mudança, neste mesmo ano, Piracicaba era tão somente a Rua da Praia (hoje, rua do Porto). O Largo dos Pescadores permaneceu como o principal logradouro daquela comunidade que continuava ligada ao rio, seja como roceiros, pescadores ou interessados nos comboios que pediam passagem para o rumo dos Campos de Araraquara. Só muito lentamente, Piracicaba começou a escalar a rampa do Picadão (rua Morais Barros), em direção à esplanada de Santo Antônio (praça José Bonifácio).

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