Elias Rocha, o Elias dos Bonecos (4)

Os Bonecos de Elias funcionaram como um elo entre as várias manifestações culturais e religiosas do povo de Piracicaba. Ultrapassando os limites desta cidade, muitas iniciativas foram feitas no sentido de divulgar e valorizar o trabalho do artista.

Na segunda metade do século 20 brasileiro, quando o rio Piracicaba tornou-se um dos mais poluídos do Brasil, os bonecos do Elias assumiram uma função e um destino plural, mesclando arte, cultura, política e religião, adquirindo uma força simbólica bastante expressiva para Piracicaba e região.

Os bonecos funcionaram como um elo entre as várias manifestações culturais e religiosas do povo de Piracicaba, presentes, por exemplo, na Festa do Divino. A íntima ligação entre arte e religião esteve presente em outras ocasiões, como na Semana Santa e no Natal, quando presépios foram montados em espaços públicos e históricos, como a Casa do Povoador e o Engenho Central.

Algumas iniciativas foram feitas no sentido de divulgar e valorizar o trabalho de Elias dos Bonecos. Luci Torrezan, publicitária, que trabalhou na Casa das Artes Plásticas Miguel Dutra, convidou Elias para expor alguns bonecos em uma mostra paralela do 16o Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Das pessoas que visitaram o Salão e conheceram seu trabalho, entre elas, o arquiteto e então Diretor da Pinacoteca do Estado, Pietro M. Bardi, surgiram convites para novas exposições em São Paulo.

Em 1979, Elias e seus bonecos foram convidados a participarem de uma exposição no Centro Cultural São Paulo. Nos anos seguintes, os bonecos foram expostos no SESC Fábrica Pompéia e novamente no Centro Cultural São Paulo. A Empresa Paulista de Televisão EPTV (retransmissora da Rede Globo) de Campinas, exibiu no ano de 1983, uma reportagem sobre o artista com o título: “A arte de Elias Rocha: criador de boneco torna mais alegre a Rua do Porto”. Nesse mesmo ano, em São Paulo, os bonecos do Elias participam de uma manifestação ecológica contra a poluição do rio Tietê.

Em 1988, a Prefeitura Municipal de Piracicaba, através da Secretaria de Ação Cultural, realizou “O Sacristão do Rio Sagrado”, uma vídeo-reportagem, que destacava o cotidiano de vida de Elias Rocha.

Na década de 90, foi visível a participação cada vez maior dos bonecos não só em movimentos de protestos contra a poluição do rio, mas também, em eventos culturais, políticos, sociais e religiosos.

Em 1998, simultaneamente, aconteceu na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) uma greve de professores e um Seminário do Movimento dos Sem Terra (MST), no qual os bonecos do Elias, caracterizados como trabalhadores rurais e professores desempregados, portavam cartazes e faixas, compartilhando um espaço no Campus entre estudantes e integrantes do MST.

Como parte integrante da paisagem da orla ribeirinha e da Casa do Povoador, os bonecos de Elias estão presentes em quadros e fotografias de muitos artistas piracicabanos, como Renato Wagner (in memoriam), Ciro de Oliveira e Silva (in memoriam), Sônia Piedade, Eduardo e Marcelo Araújo, Maria Cecília Neves, Eduardo Ferreira Grosso, Milton Martini, Mônica Santana, Chico Coelho, Luiza Libardi, Marilu Trevisan.

Na área da fotografia, há os trabalhos de Beth Betting, Jussara Neves, Henrique Spaviéri, Alessandro Maschio, Nordahl Neptune, Éssio Palone, Claudio Coradini, Justino Lucente e Antonio Siqueira Barbosa. Na área videográfica, há os trabalhos de Milton Martini (O Sacristão do Rio Sagrado, de 1988) e de Nordahl C Neptune (Os Bonecos do Elias dos Bonecos, de1999, e Dança dos Bonecos, de 2000).

Na literatura, os livros: Retrato das Tradições Piracicabanas, de Hugo P. Carradore, e Os bonecos de Elias como elementos de Folkmídia, na publicidade e propaganda institucional da Prefeitura Municipal de Piracicaba, de Mauricio Tadeu Bueloni, a poesia de Ézio Pezzato e de Marinho Castelar (in memoriam). Na charge humorística, destacamos o trabalho do professor Nilson Villa Nova e do designer gráfico Eduardo Grosso, e, finalmente, na música, temos composições de Nivaldo Santos, Marinho Castelar, Paulo Checolli e Alessandro Penezzi.

Na peça Lugar onde o peixe pára, apresentada no Teatro Comunale di Tesero, na região de Trento, Itália, os bonecos foram utilizados como elementos cenográficos, representando antigos moradores e pescadores do Piracicaba. Depois, os bonecos foram deixados em solo italiano, como parte do intercâmbio cultural com o Centro de Pesquisas Cênicas – Non Solo Danza – e como uma lembrança da cidade brasileira “onde o peixe pára”, Piracicaba.

Em outro espetáculo, Dança dos Bonecos, apresentado na Casa do Povoador, em 1999, pela Cia. de Ballet Studio 415, as bailarinas utilizaram-se de figurinos e coreografias baseadas nos movimentos e nas posições dos bonecos.

 

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