A HISTÓRIA QUE EU SEI (IV)
Obviamente, Piracicaba era uma cidade pequena para a vivência universal de um homem como Jorge Pacheco e Chaves, com seu mundo de intensas e constantes viagens ao Exterior, ligado às artes e à cultura. “Ele quis civilizar Piracicaba … Mas foi incompreendido.” – comenta sua nora Ruth, casada com João Pacheco e Chaves, filho de Jorge e Jane. Na verdade, os contemporâneos de Jorge Pacheco e Chaves concordam com a herança cultural e política que ele representava, de forma a não aceitar viver a política paroquial e nem mesmo o cotidiano da administração pública.
Foi na administração de Jorge Pacheco e Chaves que Luiz Matiazo – um dos funcionários municipais mais participantes da história administrativa do município nos últimos 50 anos – foi contratado, ainda jovenzinho. Luiz Matiazo comenta: “Era um homem muito fino, de educação e cultura esmeradas.” Outra antiga funcionária, Cacilda Azevedo Cavaggioni, recorda-se com emoção de Jorge Pacheco e Chaves e da festa de fim-de ano que ele promoveu na Chácara Nazareth, convidando os funcionários da Prefeitura: “Era um gentleman, uma pessoa adorável.”
De sua administração, há poucas obras. Não apenas os tempos eram politicamente confusos, como, especialmente, Jorge Pacheco e Chaves não tinha pendores administrativos. Sua preocupação era com a “civilidade” de Piracicaba, com a beleza da urbe e, por isso mesmo, o que ficou da administração de Jorge Pacheco e Chaves foi a reforma do jardim central, num projeto ambicioso que despertou reações dos oposicionistas diante do corte de árvores para o plantio de outras. Era um jardim ao estilo europeu, o pretendido por Pacheco e Chaves. E, tal qual ele o projetou, o jardim permaneceu até os anos 60, quando foi modificado. Foi a marca de sua administração, a de um homem, talvez incompreendido, realmente em seu tempo. Ele pretendeu que o jardim fosse “uma réplica pequenina das Tulherias” da França.
Um sonhador, um esteta, um intelectual? O fato é que sobraram mágoas em relação a Piracicaba, de forma que Jorge e Jane Pacheco e Chaves se mantiveram praticamente refugiados na Chácara Nazareth, pouco participando da vida da comunidade, a não ser através de relações especiais com uma pequena e seleta elite social. Tanto assim foi que a volumosa biblioteca de Jorge Pacheco e Chaves – na qual estava a segunda “Brasiliana” do país, na época, conforme os seus contemporâneos – foi doada, com documentos de grande importância histórica, ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Um dos filhos de Jorge e Jane preparava-se, enquanto isso, para ingressar na política: o engenheiro João Pacheco e Chaves. Ainda quase ao final do século 20, Mercedes Pacheco e Chaves Lunardelli – filha de João e Ruth Pacheco e Chaves – comenta: “A participação política de minha família vinha se dando desde o Império. Esta, a minha, é a primeira geração sem mandato político.” Pois, com João Pacheco e Chaves, o poder retomaria à Chácara Nazareth, passando por ela por mais algumas décadas. O fato é que Jorge Pacheco e Chaves, mesmo não tendo deixado obras palpáveis, acabou transferindo para o filho João a responsabilidade de uma continuação política da família. Era a presença da elite em Piracicaba, em contraposição à aristocracia rural representada pelos velhos “coronéis” do PRP que, no entanto, não estavam desaparecidos em março de 1945, quando Jorge Pacheco e Chaves deixou a política.
Preparávamo-nos para acolher uma nova fase política. Em fevereiro de 1945, Churchill, Roosevelt e Stalin reuniam-se na Criméia, na “Conferência de Yalta”, começando a repartir o mundo política e materialmente destroçado pela longa guerra. Em São Paulo, o Governador Fernando Costa mal podia suportar os estertores de sua administração, diante dos clamores pela queda de Getúlio Vargas e pela redemocratização.
Em Piracicaba, em 28 de junho de 1946, nascia Adilson Benedicto Maluf. Um piracicabano substitui Fernando Costa, o advogado Sebastião Nogueira de Lima que fica no governo poucos dias, para aguardar que José Carlos de Macedo Soares assuma o governo, preparando São Paulo para os novos tempos da democratização.
Em Piracicaba, Jorge Pacheco e Chaves, informado e intelectual que era, enxergava a proximidade das grandes transformações no país, mas não tinha apetite político ou disposição para assumir uma próxima e certa liderança partidária que os novos ventos já anunciavam. Por outro lado, a sua admiração por Getúlio Vargas o colocava numa posição de lealdade constrangedora. Pois, vindo do Partido Democrático por herança familiar, era estranho que ele admirasse Getúlio: “Ele beijou o rabo do cavalo que Getúlio montou …” – brincam os seus familiares. Essa admiração, com possível certeza, se deveria aos laços de amizade que Jorge Pacheco e Chaves manteve com Simões Lopes até os últimos tempos. No entanto, a queda de Getúlio Vargas era irremediável: o Exército brasileiro lutara na Europa em nome da democracia. Como manter-se, no Brasil, fiel e a serviço de um governo antidemocrático, totalitário?
Jorge Pacheco e Chaves foi substituído por Bento Luiz Gonzaga Franco – primo de Luiz Dias Gonzaga – que assumiu a Prefeitura no dia 15 de abril de 1945, três dias depois da morte, nos Estados Unidos, do Presidente Roosevelt e da posse de Harry Truman como o novo presidente norte-americano e homem que autorizaria o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazáki.
Chegávamos ao fim da guerra. Na Prefeitura de Piracicaba, Bento Luiz Gonzaga Franco, o Dr. “Bentinho”, teria o encargo de responder por um tempo de transição, mas muito rico em acontecimentos e transformações.
Boa Tarde….meu nome é Marilia Cavaggioni. Moro em Santo André. Sei muito pouco sobre os Cavaggioni. Foram, junto a outros italianos, fundadores de Piracicaba? Gostaria, se possível de mais informações. Obrigada
Eu gostaria de visitar a chácara Nazaré