Prudente de Moraes: “O Pacificador”

Prudente de Moraes – Obra de Almeida Junior/Pinacoteca do Estado de SP.

Até na figura física dos dois estadistas há semelhanças. E suas origens, também: Lincoln, nascido na zona rural, foi lenhador; Prudente de Moraes, nascido na roça, caipira paulista.

Prudente José de Moraes Barros nasceu na então pequenina Itu, no dia 4 de outubro de 1841. Seu pai, José Marcelino de Barros, era um cidadão influente na região, fazendeiro respeitado, criador de gado. E sua mãe, Catarina Maria de Moraes, pertencia à alta linhagem paulista, descendente de velho tronco português. Além de Prudente José, o casal teve os filhos Frederico José, Fernando José, Joaquim José, Manoel e Cândida.

A tragédia se abateu sobre a família de Prudente José quando ele tinha apenas dois anos: o pai, numa de suas viagens para colocação de gado em São Paulo, foi assassinado por um escravo rebelde. Dona Catarina assumiu o comando da família, voltando a casar-se apenas alguns anos depois com Caetano José Gomes Carneiro. Entre os filhos, Prudente José era o que mais demonstrava interesse por humanidades. As primeiras letras ele as teve com sua mãe. Depois, ingressou no Colégio Ituano e, aos 13 anos, ingressou na famosa escola ituana do Mestre Manoel Estanislau Delgado. Estimulado por sua mãe, mas contrariando o padrasto, Prudente José completou os estudos no Colégio de João Carlos Fonseca, em São Paulo. E, aos 18 anos, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ao lado de colegas que teriam, como ele, papel decisivo na vida republicana brasileira: Campos Salles, Teófilo Ottoni, Rangel Pestana, Bernardino de Campos e outros.

Advogado e político

Enquanto Prudente José estudava, seus pais adquiriram uma fazenda na então Vila de Constituição, como Piracicaba se chamou por um período. (Seria o próprio Prudente de Moraes o responsável para que Piracicaba readquirisse o nome de origem.) Passando as férias na fazenda, Prudente José se encantou pela vila e pela região, decidindo montar a sua banca de advogado em Piracicaba. Tinha 23 anos.

Filia-se ao Partido Liberal, é eleito vereador, destaca-se por suas atividades camarárias e advocatícias. Em 28 de maio de 1866, casa-se, em Santos, com Benvinda da Silva Gordo, filha de tradicional família paulista, também de políticos, Antônio José da Silva Gordo e Ana Brandina de Barros Silva.

Ainda sob a monarquia, Prudente José é eleito deputado mas rapidamente se desilude com as articulações da Corte, animando-se dos ideais republicanos. Retorna a Piracicaba e às suas atividades profissionais. Mas está movido pela vontade de transformações. A Guerra do Paraguai termina, o Brasil se deixa motivar por novas idéias, em Itu cria-se o Partido Republicano Paulista e a ele Prudente de Moraes se filia, afastando-se do Partido Liberal. Duas idéias básicas agitam o movimento: a abolição da escravatura e a queda da monarquia. Prudente de Moraes volta à Assembléia Legislativa, agora como deputado pelo PRP.

Em novembro de 1889, Prudente de Moraes é chamado urgentemente a São Paulo. No dia 15 de novembro, proclama-se a República, caindo a monarquia. No dia 16, forma-se o primeiro governo provisório republicano de São Paulo comandado pelo triunvirato formado por Prudente de Moraes, Rangel Pestana e Souza Mursa. Em 3 de dezembro, Prudente é designado para Governador de São Paulo, o primeiro na instauração da República. Honraria com que passa a ser conhecido: “O mais puro dos republicanos.

Um caipira na Presidência

Deixando o governo de São Paulo, Prudente de Moraes é eleito Senador da República. O caipira de Itu, morador de Piracicaba, começa a receber o reconhecimento nacional por sua integridade, competência e bom senso. O Brasil estava conturbado, vivendo o estado de guerra civil com as lutas no Nordeste, no enfrentamento a Antônio Conselheiro, figura lendária que arrastava multidões na Bahia e que transformara Canudos num centro de resistência à nova ordem. Além disso, torna-se cada vez mais claro que o Marechal Floriano Peixoto tem a ambição de se manter na presidência da República. Nesse clima, Prudente de Moraes é eleito presidente, tomando posse no dia 15 de novembro de 1894. É o primeiro civil a chegar à presidência e, então, se torna o “Consolidador da República, para, ao final de seu mandato, ser reconhecido como o “Pacificador do Brasil.

Para se avaliar a luta de Prudente de Moraes, no dia de sua posse ele não tinha qualquer condução para ser conduzido do hotel ao Palácio do Conde de Arcos. E após a posse, foi o embaixador da Inglaterra quem lhe deu carona para retornar ao hotel. No Palácio, não havia documentos, nem registros, nada além de uma mesa com oito poltronas e um armário. Dali, Prudente de Moraes começou a governar.

Quando encerrou seu governo, já doente, tinha pacificado o Brasil, com um administração notável em que consolidou divisas com a Argentina, reincorporou a ilha da Trindade que tinha sido tomada pelos ingleses e consolidou a República. Retornou a Piracicaba onde a sua doença, tuberculose, se agravou. Morreu no dia 3 de dezembro de 1902, às 13h05.

Sua residência se transformou em Museu que pertence ao governo de São Paulo e seu túmulo, no Cemitério de Piracicaba onde ele se encontra embalsamado deverá ser transformado em panteão, por iniciativa das universidades paulistas, USP, UNICAMP, UNIMEP, do Ministério da Cultura, nas comemorações do centenário de sua morte em 1902.

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