Retratos de João Chiarini

“O Pilão”, livraria onde João recolheu a intelectualidade

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Num momento de descontração familiar.

Agitador cultural, estimulador de talento, João Chiarini foi um homem completamente à margem de questões materiais. Nunca soube tratar de negócios, de dar preço às coisas. Morreu como viveu: um homem pobre. Mas livre. Um de seus maiores sonhos foi ter e manter uma livraria, muito mais para estar entre livros, reunir artistas e intelectuais, do que vender. No início dos anos 60, João Chiarini tentou realizar esse sonho, conseguindo um espaço na Galeria Brasil – de propriedade dos irmãos Brasil, Paulo, Francisco e Ary – onde instalou a livraria “O Pilão”.

Em “O Pilão”, Piracicaba viu acontecer os mais belos momentos da inteligência piracicabana na segunda metade deste século. Era mais do que uma livraria: ponto de encontro de artistas, de escritores, local de palestras e reuniões intelectuais, galeria para exposições de pintura e escultura, espaço de vernissages, de apresentação de música e cultura popular. Para os piracicabanos, tornou-se obrigatório passar, diariamente, pelo “O Pilão”. Aquela ebulição artístico-cultural apaixonava João Chiarini. Uma livraria, porém, precisa, para sobreviver, de seu lado comercial. João Chiarini não tinha qualquer tino para o comércio. Sua paixão eram as artes, a cultura. E, então, “O Pilão” fechou. Depois dele, nada igual se fez em Piracicaba.

Dedicatórias com sabor de história

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Escoteiros: João Chiarini está no meio da foto, em pé. Agachados: Bilo (James Pernambuco) e Ariovaldo Rubiatti.11

Por muito tempo ainda, a biblioteca de João Chiarini – agora sistematizada e organizada na UNIMEP – será uma fonte para melhor se conhecer o homem que teve, no mundo artístico-cultural, mais admiradores e respeito fora de Piracicaba do que em sua própria terra. Bastará uma leitura dos livros cujos autores fizeram dedicatórias a João Chiarini e, então, muito se saberá de suas relações com a cultura brasileira. A sua correspondência – da qual, muita coisa se perdeu – valeria para um melhor entendimento de uma época.

Jorge Amado foi interlocutor permanente de João Chiarini. Em alguns livros do grande escritor brasileiro, lá estão dedicatórias afetuosas: “Para Chiarini, velho e querido amigo”; “Para João e Iraídes, com meu carinho”. Dedicatórias de Zélio, de Ziraldo, de Thales de Andrade, de um sem número de escritores e artistas brasileiros. Para confirmar o que Piracicaba, hoje, sabe: João Chiarini é insubstituível.

[Este conteúdo foi publicado no “Almanak de Piracicaba”, editado pelo jornalista Cecílio Elias Netto, do jornal impresso “A Província”, que circulou como suplemento do jornal “A Tribuna Piracicabana”. Para este projeto, foram elaborados vários fascículos ao longo do período de novembro de 1995 a agosto de 1997.]

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