Camilo Riani e suas facetas
Desde quando é conhecido por gente, Camilo Riani faz os seus rabiscos. O lápis e o papel na mão sempre o acompanharam desde a infância, juventude, adolescência, vida adulta, e estão aí até hoje. Um relacionamento sério, compenetrado, divertido e que, com o passar do tempo, amadureceu. Cresceu, ganhou forma, sutileza, singularidade. A lealdade de Camilo com a arte se mantém firme e forte. Como um enlace deve ser.
Camilo vem de uma família numerosa, além dele, são 12 irmãos. É o décimo da lista. Camisa 10. Número clássico e eternizado entre os futebolistas, mas o talento do menino passava longe dos pés. Estava nas mãos. Desenhava tudo o que via: figuras, objetos, pessoas. O futebol, definitivamente, não era a sua praia, mas, felizmente, o desenho se tornou o seu paraíso.
Os desenhos renderam-lhe o seu primeiro emprego. Mesmo que, enquanto crescia, Camilo negasse que se tornaria um artista. Mas o destino o colocou nesse caminho das artes. O prazer de desenhar apenas por diversão se tornou uma função profissional. E, seguindo carreira, o ímpeto de aprender coisas novas só aumentou, tal característica o incendiava por dentro.
Aquietação nunca fora uma qualidade do jovem rio-clarense, e ao ter conhecimento sobre um concurso de caricaturas em homenagem ao artista Henfil, apoiado pela Rede Globo, não pestanejou em enviar um desenho. A partir disso, iniciou uma carreira vitoriosa em premiações pelo Brasil e o mundo. A título de curiosidade: dentre os jurados, o que mais brigou para que a arte de Camilo fosse vencedora foi nada mais, nada menos, do que Ziraldo.
Os seus traços começaram a tomar forma, até encontrar a maneira Camilo Floriano Riani Costa de desenhar, de ver a vida, dos detalhes perfeccionistas e de ser. Rabiscos intencionalmente exagerados e informações passadas pelas suas obras sem usar uma palavra sequer, serviram para homenagear músicos, artistas e amigos que estiveram próximos durante todos esses anos.
Se engana quem pensa que a obra de Camilo Riani se resume em apenas caricaturas. O jogo de palavras é outra grande característica do artista gráfico. Frases como “sou mais algo ritmo do que algoritmo”, “valorize a sua melhor parte” e “arte para escapar da morte” são expressões que articulam um diferente conceito – que vai além de desenhos e pinturas –, colocando a prova de que tudo pode ser arte. Até palavras.
Após tantos anos desenhando, escrevendo e aprendendo, a criatividade se mantém mais viva do que nunca. Recentemente iniciou uma série de cartungrafias (termo criado pelo próprio Camilo). O conceito se define em três aspectos diferentes ao olhar a imagem. De perto são micro cartuns; de média distância, transmutações em outras composições; e de longe, o desenho num todo, estilizado, juntando todas as partes, para entendimento livre de quem vê.
Independente da maneira como Camilo Riani cria, seja desenhando ou escrevendo, o artista gráfico não para. E não demonstra vontade de querer parar. A pergunta que fica é “como uma mente tão criativa funciona?”.
A resposta pode ser dita pelo próprio Camilo, mas, afinal, existe uma necessidade real por uma réplica desse questionamento? A verdade é que cada uma de suas artes revela, pouco a pouco, o que se passa na cabeça de um dos maiores expoentes do humor gráfico do interior paulista.
*Luis Carlos da Silva Filho é jornalista formado pela UNIMEP e assessor de imprensa da AHA – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]
Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.
Genial: “sou mais algo ritmo do que algoritmo”