Lixo: até Vital Brasil foi consultado

Grande desafio hoje e também do século XX, o lixo urbano já provocava polêmicas em Piracicaba desde as primeiras décadas dos 1900. Ao final da década de 1910, segundo relatórios do então prefeito Fernando Febeliano da Costa , ” todo o lixo da cidade continua a ser entregue na porteira da chácara Bartolomeu, de propriedade de Renato Bartolomeu que, de acordo com resolução da Câmara, se propôs a recebê-lo naquele local mediante pagamento mensal de 200$000. À medida que o lixo vai sendo depositado nos terrenos da chácara, sobre o mesmo vai sendo posta uma regular camada de terra”, garantia o documento oficial do prefeito.

Mencionava-se que moradores próximos ao local já haviam se organizado para protestar contra o depósito. O recolhimento era feito, então, por 10 carroceiros com veículos pertencentes à própria Prefeitura, num sistema diário, que se iniciava ao alvorecer. A cidade mantinha, ainda, um turma de “12 camaradas para varrição das vias públicas”, iniciada às 21:00 horas e que prosseguia pela madrugada. O sistema, entretanto, não parece ter sido adequado ou suficiente para a cidade que crescia. A tal ponto que, em 1926, o então prefeito Coriolano Ferraz do Amaral admitia, em seu relatório administrativo que começavam a surgir “depósitos de lixo nos quintais, com grave prejuízo das condições sanitárias.

A proposta de Coriolano foi considerada revolucionária à época: “construir em local não afastado do centro um entreposto para recebimento do material conduzido pelas carroças”, realizando-se uma seleção preliminar”. A parte putrescível, “depois de fermentada e transformada em adubo poderia ser empregada na lavoura.” A proposta chegou a ser avaliada pelo cientista Vital Brasil, no Instituto Butantã, levada pelos vereadores Rodrigues de Almeida e Bierrenbach de Lima, recebendo total apoio do cientista. Mas o projeto nunca se efetivou.

Somente em 1935 se encontra novos registros que mostram que, então, o lixo, recolhido já por caminhões na área central e por carroças em áreas mais afastadas, era transportado em vagões do Engenho Central, que “usa-o como adubo em suas propriedades agrícolas, destinando uma pequena parte ao aterro de vales”. No ano seguinte, o prefeito Luiz Dias Gonzaga indica que, agora, encontrou-se finalmente “uma solução prática: o lixo é soterrado em escavações abertas no largo fronteiro ao cemitério, corrigindo- se o referido terreno”. O texto acrescenta que, no local, não havia mau cheiro algum e nem proliferação de moscas. O custo continuava sendo o mesmo da época em que era recebido e utilizado pelo Engenho Central: 500$000 mensais. (Beatriz Elias)

Foto: Acervo A Provincia.

 

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