A beleza do Advento
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Estamos vivendo aquele tempo inconfundível. Digo sempre que o Advento natalino traz para nossa vida um hálito novo. Basta começar dezembro e vemos anjos pairando no ar, uma emoção encantadora e pura se acende em nosso peito.
Esta época bendita me reporta à infância, à escola primária, às férias compridas e às mangas. Com uma mangueira no fundo do quintal, a sétima maravilha era esperar a data magnífica, sentada no galho mais alto, de onde a menina governava o mundo.
Naquele tempo, todas as verdades eram absolutas. Havia poucas dúvidas no coração. A casa era sagrada, o pai e a mãe onipresentes, regendo a ordem para tudo e para todos. Meus irmãos e eu convivíamos em grande harmonia e era um sonho ficar acordada até tarde para ir à Missa do Galo na Igreja dos Frades.
Durante aquele santo ofício, que coisas se passavam em minha alma? Quase não me lembro. Mas hoje tenho certeza de que era um Natal vivido com fervor. Um Natal feito de novenas, cantos, celebrações e abraços. E havia a chegada de parentes, os tios e primos de São Paulo, a madrinha adorada, a casa sempre cheia para a completa confraternização.
O Advento é uma preparação sem igual para a nossa fé. Trata-se de um tempo de graças para os crentes. Talvez os agnósticos e os não crentes, enfim, também se deixem tocar por este espírito de bondade e de paz que se espalha em toda parte.
Para os cristãos, é a data máxima, o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem. Ele está ali, em cada presépio e sua concepção do que tenha sido aquela noite santa e feliz. Jesus, Maria e José, a caminha de palhas, carneirinhos, ovelhas, pastores, uma noite estrelada, a estrela de Belém.
A cena humilde e majestosa se repete na montagem do que foi o nascimento do Menino. Quão aflito estaria o jovem casal, ao perceber que era chegada a hora da mulher dar à luz? Como as coisas aconteceram?
A grandeza e o mistério daquela noite estão reproduzidos no presépio encantador, conforme a imaginação de cada um, buscando representar o mais belo cenário concebido pelo amor.
Para mim, Advento é amor. Contudo, um amor sofrido, marcado por lembranças, as da infância e as da juventude, quando o Natal não pesava tanto no coração como agora. Já não sei mais que tempos vivi, algumas cenas se apagaram das retinas e as semanas que antecedem o Natal me inspiram profunda tristeza, um abatimento confuso e indefinido.
São sentimentos contraditórios, pois também sentimos alegria, vontade de contatar quem está longe, desejar felicidades, escrever uma crônica onde se derrama a alma e se fica de joelhos diante da vida.
E assim, é chegado o Advento deste ano da graça de 2016. Lembro dos presságios para o ano 2000, quando se profetizava que o mundo iria acabar. Não acabou e aqui estamos na festiva espera do Rei.
Que as santas velas do Advento acendam em nós um pouco mais de esperança. Tivemos a bravura de derrubar a presidente e contamos com um novo governo. Mas ainda esperamos as mudanças necessárias.
É fatal a pergunta: mudou o Natal ou mudei eu?