Além da notícia dois

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jornal(1)1. Nada contra a nova passarela pênsil, desde que sem mais nenhum problema social a resolver, tivéssemos dinheiro sobrando para bizarrices. Vi na foto da inauguração, entre as rosadas e sorridentes caras de sempre, um sacerdote da Igreja Católica, da qual mesmo indigno, sou membro. Embora tal padre seja na cidade figura mais folclórica que ungida, é um consagrado, e pergunto o que fazia ali o representante de uma Igreja que fez opção preferencial pelos pobres? Foi benzer concreto armado ou referendar um fato político irresponsável, pois enquanto brindam o monstrengo, que custou quase 4 milhões de reais aos munícipes, milhares de cidadãos vivem em barracos cercados de lixo e esgoto a céu aberto? Talvez para a Igreja piracicabana caiba a advertência do Apocalipse à igreja de Laodicéia: “Assim, porque és morno, nem frio e nem quente, estou para te vomitar da minha boca. Aconselho-te a comprar de mim vestes brancas (…), e um colírio para que unjas teus olhos e possas enxergar”. (Ap 3,16).

2. Sobre o tráfico, o governador disse que São Paulo produz milho, cana, (…) não cocaína. Mas produz gente que a usa, o que é muito pior – digo eu. Exceto os que gostam e os que usam drogas para fugirem da vida e de si, uma população saudável não cai nessa. Drogas sempre existirão. Se não for uma será outra. Em vez de desperdiçar dinheiro e vidas humanas no seu inútil combate, precisamos saber por que se consome tanto, apesar da tragédia que causam. Afinal, que tipo de sociedade esse governo criou?

3. Falando nisso, o Estado e o Brasil perdem feio a guerra contra o tráfico. Dobrou número de adolescentes na antiga FEBEM acusados de vender drogas. São 42% dos internos; em 2000 eram 5%. Em 12 anos o aumento foi de 98%. “Queria o meu próprio dinheiro para comprar minhas coisas. (…) tudo o que os outros têm eu também queria ter”. G.17 anos. “(…) pedi um tênis de R$ 400 para minha mãe e ela disse que não podia comprar. Via muita gente com moto, roupa boa. Por que eu não posso? Decidi traficar”. R.16 anos. (Folha 20.05.13). Adolescentes pobres que traficam encaram a atividade como trabalho. Os pais – exceto os ricos – têm condições de bancar filhos até 16, 18 anos? Em vez de meios adequados o Estado Brasileiro restringe-lhes drasticamente condições de trabalho; a Escola como está eles não suportam mais; ser atleta profissional, sem chance; atividades públicas nos campos das artes, cultura e esportes não é prioridade dos governos e a maioria dos cursos profissionalizantes serve às empresas e não às aspirações juvenis. Afinal, o que tem essa sociedade a oferecer para os jovens? Só no Estado de São Paulo, 9.220 deles os juízes internaram na Fundação CASA. Poderiam estar brilhando nos campos esportivos e nos laboratórios de pesquisa.

4. São muitas queixas, Brasil afora, contra o atendimento ruim da Saúde Pública. Piracicaba não fica de fora. Em menos de uma semana dois pacientes morreram em UPAs locais à espera de vagas para internação. Dinheiro não falta, tanto que fazem pontes com mirante, passarela estaiada, viadutos, aquário, estádios de cair o queixo para pernas de pau e cartolas se enricarem mais ainda. O problema está na gestão. Está passando da hora de alguém responder. Ninguém é responsável ou isso não é crime? Para que servem Promotoria Pública, Ministério Público, Defensoria e etc.? Esperamos mais da Justiça que prender ladrões de salame, deter moleques que vendem drogas para comprar tênis e encher abrigos de crianças pobres.

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