“Bosteiro” de Piracicaba

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A história da nossa cidade tem fatos curiosos, desconhecidos da grande maioria dos que nasceram aqui, ou que a escolheram para viver por opção e que, historicamente, não podemos deixar que se perca no tempo que passa rápido.

Estranho a assessoria de imprensa do Semae ao ser procurada para informar o ano de construção dessa primeira estação de “tratamento” de esgoto, e o prefeito que a mandou construir, não saber informar e desconhecer que ela tenha existido e não ter registro disso.

Na rua do porto, ali no primeiro quarteirão da Rua Rangel Pestana, fôra construída a primeira estação de tratamento de esgoto doméstico, e que foi desativada e demolida, dando lugar tempos depois à construção da Loja Maçônica.

Na verdade, era uma estação de decantação dos dejetos domésticos e que antes de rolarem direto para as águas do nosso rio, era “tratado”. Não combinava com limpeza que era própria das nossas águas.

Piracicaba era, pelas autoridades da época, uma cidade que se preocupava com o meio ambiente muito antes de se falar e discutir isso pelo mundo afora., pioneira nisso.

Não me recordo da época da sua construção que tinha forma circular grande para aquele tempo, e a sua cobertura abaulada, era de alvenaria cimentada, com respiros por onde saiam os gases e fumaça que se formavam na decantação do lixo humano, “bosta” mesmo, como era comum se ouvir.

Não tardou, e logo ganhou o nome de “bosteiro” e o apelido de Vesúvio – o vulcão, por causa do cheiro e da fumaça que saía dali.

Era cuidada por um senhor, funcionário municipal que morava por ali mesmo, bem próximo dela. Era o zelador sr. Luiz Buldrini, que levava o seu trabalho muito a sério.

Quando havia uma quantidade suficiente para esvaziar a grande caixa, o material era retirado por ele e posto para secar e,quando seco, as placas eram quebradas, moídas, e se tornavam esterco dos jardins públicos, hortas.

Caprichoso, tinha a sua horta ali, onde se achegavam compradores das hortaliças..

Certa feita, dois homens batiam palmas na casa, para chamar seu Luiz e nada de ele atender. Um deles gritava:

“Seu Luiii, seu Liiii, tem arfácia?”

“Ã ?”, respondia ele.

“Tem arfácia?”

Seu Luiz, longe, não entendia.

O outro então para ajudar o amigo, gritava enquanto ele vinha:

“Tem arfalce?”

Naquele dia seu Luiz vendeu quase todo alface para os dois.

Era comum ver as crianças brincando em cima da tampa do Vesúvio onde ali também tiravam fotos.Tinha um carinho especial por elas e permitia que brincassem por ali delas e, querido delas, muitas vezes as reunia pedindo para rezar com ele ali. É que no bosteiro, também vinham pelo esgoto, muitos fetos abortados.

Seu Luiz fazia o papel dele quando os encontrava: recolhia cada um com respeito, lavava-os, dava um nome. Era aí que chamava as crianças para rezarem com ele por aqueles fetos, dava um nome, os batizava, e fazia em lugar por ele mesmo reservado, o sepultamento deles.

Desativado o bosteiro, seu Luiz foi transferido para cuidar do jardim da cadeia onde hoje está a Pinacoteca. Foi a decretação da morte dele. Entristeceu-se.

Lembrei-me desta história por pensar que, desativado, foram abertos dezenas deles pela cidade, sem nenhuma preocupação ou cuidado da parte das autoridades sanitárias, da saúde pública, da municipalidade.

As nossas praças e ruas viraram verdadeiros bosteiros, agora, de animais de estimação, e também levando em conta o alto número de animais abandonados pela cidade: 20.000.

Hoje, sem o menor senso de limpeza pública, higiene e respeito pelas pessoas, proprietários de cães saem com eles para caminhadas e os levam para despejarem o lixo que começam a fazer dentro de suas próprias casas, que seria o lugar mais digno e ideal para deixarem os seus estimados animais fazerem os seus cocôs.

É muito fácil querer tê-los e levá-los a lugares públicos, e saírem na maior cara de pau deixando os cocôs ali para serem pisados ou tirados por pessoas que nada tem a ver com o hobby desses “espertos”, ou então deixarem ali até secar, contaminando o meio ambiente.

Não bastasse isto, pessoas levando os cães para “passearem”, saem com jornais e saquinhos nas mãos para serem vistas como quem zelam pela recolha dos cocôs, deixam os “montes” ali, dão uma de “migué” e dão no pé. Fazem isso com 6, 7 cães levados nas coleiras, tipo às 6 h da manhã, à noite às 23 h. na Praça Turcão e arredores na Nova Piracicaba, e deixam os cocôs ali, achando que não são vistos.

Enganam-se a si mesmos (as). Tolice. Foram filmados…

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