Coluna ContraPonto: Seo Xiba

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Seo Xiba é um homem de quarenta anos. Excelente pedreiro, trabalhador honesto; rápido no trabalho; nunca foi enrolador ou matador de tempo. Não tem ninguém: sua mãe adotiva faleceu há poucos anos de câncer; seu pai, também adotivo, há dez anos morreu atropelado na estrada velha do Tupy, na altura do Unileste. Sua esposa o abandonou, levando o filho pequeno. Não aguentou o vício dele.

Seo Xiba, como milhões de pessoas pelo planeta afora, está escravizado pelo crack. Tudo que ganha tem destino certo: as pedras de crack. Vive pelas ruas que o ignoram o profissional e a pessoa humana excelente que é. Os que o conhecem lhe dão trabalho por um ou dois dias apenas, porque seo Xiba dá seus “perdidos” logo após receber pelo que trabalhou; e ninguém o encontra mais até que a fome o consuma.

Recentemente, pediu um real a um amigo para comprar um pãozinho, pois havia dois dias que não comia nada; estava apenas com um cafezinho puro no estômago, que uma alma boa lhe dera naquela manhã. Estava com vontade de mastigar algo; algo sólido.  Mal cheiroso e maltrapilho, adentrou uma padaria de um bairro da cidade e pediu dois reais de pão (ele carregava outro real no bolso). No saquinho, vieram apenas dois pãezinhos. Um real e quarenta centavos era o preço na etiqueta. A atendente dissera que não daria para comprar três; faltaria em torno de dez centavos. No caixa, porém, ao pagar com seus dois reais, como troco recebera quatro balas, e daquelas bem baratas. Não havia troco, “explicou” a pessoa do caixa. Sem questionar, seo Xiba pegou os pães, as balas, e se foi.

O que é isso senão a mais completa tradução do egoísmo humano em ação? Não importa o montante envolvido, exploração e injustiça – essa dos desvalidos, dos desprotegidos, dos desamparados; a de quem é pobre, miserável e desgraçado-, dói mais nos corações de quem não coaduna e nem se conforma com ela do que com as grandes injustiças que nos causam asco. Depois, quando vem a Clava da Justiça Divina e inexoravelmente age sobre o indivíduo, reclama-se da sorte ou do governo. Fácil assim.

***

SÉRGIO MORO E A JUSTIÇA

O juiz federal Sergio Moro e o advogado José Roberto Batochio, responsável pela defesa do ex-ministro Antonio Palocci, discutiram durante audiência nesta segunda-feira (6) em Curitiba.

De acordo com informações do G1, o desentendimento começou quando Batochio questionou uma pergunta feita pelo magistrado a uma testemunha. Em resposta, Moro sugeriu que o advogado fizesse concurso para juiz; e o advogado rebateu dizendo que Moro deveria fazer exame da OAB. Transcrevemos, abaixo, a discussão entre eles na audiência da ação penal que  apura suposto envolvimento entre o grupo Odebrecht e o ex-ministro Palocci.

“Moro: Tem uma frase, ali no item 6: ‘Mencionou, em referência ao diretor [Renato] Duque, que tem compromisso com o PT de ficar no cargo de diretor até solucionar a contratação dessas 21 sondas.’ O que o senhor entendeu com essa afirmação? O senhor sabe explicar?

Testemunha: Meritíssimo, eu entendi o que está escrito aqui.

Advogado: ‘Pela ordem, Excelência, as testemunhas depõem sobre fatos, não sobre o que ela acha ou entende. (…) que fique impugnada a pergunta de Vossa Excelência. E já acrescento: o fato de que o ministro, em algumas respostas de Vossa Excelência, a testemunha diz que por ouvir dizer soube que o ‘Italiano’ era o Palocci, essa defesa insiste no direito de fazer esta pergunta novamente à testemunha (sic)’.

Moro: ‘Certo, como ele é destinatário do e-mail, a pergunta é pertinente. Então eu reitero a pergunta e depois que eu terminar, eu passo a palavra (…)’.

Advogado: ‘Com o devido respeito, Excelência, testemunha não pode achar nada, a não ser que haja outro Código de Processo Penal. Porque, de acordo com o Código de Processo Penal brasileiro, a testemunha depõe sobre fatos e não opina, de modo que eu não vou aceitar essa violência contra a letra do Código de Processo Penal, com o devido respeito’.

Moro: ‘Tá bom, doutor. Sua questão já foi indeferida. Então, eu reitero a pergunta para a testemunha. A testemunha tem conhecimento dos fatos, já que é destinatária da mensagem. Se ela não souber, ela pode dizer que não sabe’.

Advogado: ‘Mas ela não pode achar, Excelência’.

Moro: ‘Doutor! A sua questão está indeferida, doutor!’.

Advogado: ‘A defesa adverte a testemunha de que ela está proibida de depor sobre o que ela acha. A lei impõe que ela deponha sobre fatos’.

Moro: ‘Doutor, o doutor faça concurso para juiz e assuma a condução da audiência, mas, quem manda na audiência é o juiz’.

Advogado: ‘Vossa Excelência preste exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Cada um aqui cumpre o seu papel, tá certo?’.

Moro: ‘Sua questão está indeferida, doutor, eu estou perguntando à testemunha. O que o senhor entendeu com essa mensagem, o que o senhor sabia sobre esses fatos?’.

Testemunha: ‘Olha, eu simplesmente li o que está escrito aqui, mas eu não tinha nenhuma opinião formada. Isso aqui é uma informação que ele colocou. Eu não tinha nenhuma relação com o Duque nem com o PT para saber se o cara ia ficar lá ou não, Meritíssimo. Simplesmente li o que está escrito’.”

PT na Mídia?

Talvez não seja sem razão que os críticos do juiz de Curitiba enxerguem nele ânsia em arrancar algo dos delatores que deem repercussão na mídia quando nela, delação, é citado o nome do PT. Há os que pensam parecer a Lava Jato sempre dar grande destaque a algum petista envolvido em escândalos  todas as vezes que graúdos, do PSDB e do PMDB, aparecem delatados. Como foi o caso de Aécio Neves na semana passada; e, da mesma forma,  toda vez que Lula aparece em primeiro lugar  nas pesquisas. E a grande imprensa parece sempre pronta para repercutir; ou se calar, quando os nomes são de outros partidos. Por que será?

Seria estratégia para desviar a atenção da opinião pública? Estariam Lula e o PT, mais uma vez, usados como bodes expiatórios ou, pior: bois de piranha, num sistema podre que é anterior à época do Império? É notório e patético o esforço para mantê-los nos noticiários negativos e alimentar as correntes de ódio contra eles.

Enquanto isso, a caravana da corrupção passa ilesa, ao que se pode interpretar. Até quando? (Apesar de todo banco de dados que a CIA e o governo americano parecem ter sobre o assunto – conforme denunciado em 2014 pelo dissidente Edward Snowden sobre a espionagem dessa potência estrangeira nos governos e empresas brasileiras –  e da cooperação entre esses dois países. Aliás, o que eles têm com isso tudo? Com que interesse?).

***

Frase de hoje: “Ao amigos, as benesses da lei; aos inimigos, o rigor da lei”. (Dito popular)

 

NOTA: Todos os dias são dias das mulheres. Nossa eterna homenagem àquelas que trabalham duro, têm mais de uma jornada de trabalho e ainda  cuidam de seus pais, de seus filhos, maridos, dos desvalidos e dos animais abandonados. Criaturas divinas. Em todos os aspectos.

Deixe uma resposta