ContraPonto: Escola Sem Partido?
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O que é “Sem Partido” na sociedade humana? Atualmente, e na noite dos tempos? Por acaso a imprensa, a mídia é “Sem partido”? O judiciário é “Sem Partido”? Há arte “Sem Partido”? Há educadores- em todos os níveis- “Sem Partido”? Vemos igrejas “Sem Partido”? Pastores, padres, policiais, profissionais da imprensa “Sem Partido”? Há médicos – em seus consultórios ou não- “Sem Partido”? Sindicatos? Funcionalismo Público? Escolas privadas e públicas? Universidades? Pessoas? (Estas, quando negam serem partidárias – politicamente-, escondem o verdadeiro partido a que pertencem e defendem: o de si mesmos).
A ideologia de cada indivíduo é algo complexo e presente: seja aquela individual ou própria aos diversos campos da existência; ou a que expressa o seu próprio egoísmo. Sempre, em todos os momentos e em todas as ocasiões- e absolutamente em todos os setores da sociedade-, os indivíduos manifestarão, obscuramente ou não, o que está por trás daquilo que os move: a sua própria ideologia, natural e espontânea – construída durante sua viagem pela existência; ou a que lhe foi imposta–normalmente por técnicas psicológicas subliminares- por meio dos veículos de comunicação (TV, rádio, jornais e revistas, internet e redes sociais); pela família; pela própria política ao utilizar-se dos canais de comunicação com a sociedade; e pelo próprio meio que o cerca – pelo contato social com os demais indivíduos no seio dela [sociedade].
É pura manipulação e contrassenso falar em Escola Sem Partido como projeto de Educação para o País sem discutir o “Sem Partido” das instituições públicas e privadas do conjunto da sociedade. A pregação é hipócrita e mal-intencionada; o discurso, um verdadeiro engodo.
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Ideologia
Segundo Gabriella Porto do InfoEscola, por ser uma ideologia um conjunto de ideias conscientes e inconscientes que constituem os objetivos primordiais do indivíduo, expectativas e ações, ela reflete uma visão abrangente, uma maneira de olhar as coisas como em várias tendências filosóficas, ou um conjunto de ideias propostas pela classe dominante de uma sociedade para todos os membros da mesma (o chamado produto da socialização).
As ideologias são sistemas de pensamento abstratos aplicados a questões públicas, tornando este conceito central para a análise política. Implicitamente, qualquer tendência política ou econômica implica uma ideologia, sendo ela uma proposta explícita de pensamento ou não. Ela é uma parte necessária do funcionamento institucional e de integração social. Pesquisas psicológicas sugerem que cada vez mais as ideologias refletem (inconscientemente) processos motivacionais, em oposição à visão de que as convicções políticas sempre refletem o pensamento independente e imparcial.
Estudiosos propõem que as ideologias podem funcionar como unidades pré-embaladas de interpretação que se espalham por causa de motivos humanos básicos para compreender o mundo, evitar a ameaça existencial, e manter relacionamentos interpessoais valorizadas.
Os autores concluem que tais motivos podem levar desproporcionalmente para a adoção do sistema de justificar visões de mundo. Geralmente, psicólogos acreditam que traços de personalidade, variáveis de diferença sociais, necessidades e crenças ideológicas parecem ter um fio condutor comum.
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Senador Magno Malta
Dois projetos idênticos tramitam na Câmara e no Senado Federal, de autoria do deputado Izalci (PSDB-DF) e do senador Magno Malta (PR-ES), respectivamente, que pretendem alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para a inclusão do “Programa Escola Sem Partido”.
O Projeto Escola Sem Partido (PLS 193/2016, PL 1411/2015 e PL 867/2015), em fase de Consulta Pública, tem como principal idealizador o senador Magno Malta (PR_ES), pastor evangélico e cantor (golpista de primeira hora e convenientemente calado nas questões sobre corrupção do governo Temer).
Aliás, para entender como as coisas funcionam e quem nos governa e decide o rumo da Nação, é bom lembrar que o capixaba Malta é tido como exemplo de “moral e bons costumes” pelos reacionários de plantão e gosta muito de debochar de políticos que não compactuam com suas ideias; ele virou uma espécie de ídolo da extrema-direita com seus discursos raivosos e ataque a políticos à esquerda. Como se tivesse uma ficha limpíssima. Usa a tribuna do plenário do Senado para falar em “moral e os bons costumes”, acusar adversários políticos e até debochar. Enquanto Malta acusa sem apresentar provas, o jornal Folha de S.Paulo diz ter tido acesso a e-mails que comprovam caixa 2, ou propina, para o senador na eleição de 2014.
A jogada de marketing da Consulta Pública para saber o que pensa o nosso País a respeito é pura formalidade. A tendência –caso a sociedade não reaja ( e não contem com a imprensa que deu e dá respaldo ao golpe para puxar “marchas” e apoiar os movimentos “espontâneos” de protesto contra essa ideia) -, é esses “ilustres” senhores definirem um futuro sombrio e “legalmente” autoritário para a Educação no País.
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Escola Sem Partido
Especialistas em educação consideram o projeto como disseminador de concepções e práticas preconceituosas, discriminatórias e excludentes; visa eliminar a discussão ideológica no ambiente escolar, restringir os conteúdos de ensino a partir de uma pretensa ideia de neutralidade do conhecimento. Considera como válidos determinados conteúdos que servem à manutenção do status quo e como doutrinários aqueles que representam uma visão crítica.
Em recente Nota Técnica, o Ministério Público considera que o PL Escola sem Partido é inconstitucional porque ‘está na contramão dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, especialmente os de ‘construir uma sociedade livre, justa e solidária’ e de ‘promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação’. O Escola Sem Partido propaga a ideia de que os estudantes são alvo de doutrinação política e de que os valores morais da família são afrontados por uma suposta ideologia de gênero na escola.
O complemento ao cerceamento da liberdade de aprender e ensinar fica por conta do Projeto de Lei de autoria do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), que pretende alterar o Código Penal, para inclusão de detenção de três meses a um ano para professor, coordenador, educador, orientador educacional ou psicólogo escolar que praticar o dito “assédio ideológico”.
“Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.” (Paulo Freire em “Freire” , 1996, p. 38)
Será mesmo aceitável para a sociedade brasileira engolir o “Escola Sem Partido” sem que também se discuta um Judiciário, Ministério Público, Polícias, mídia, dentre outros, “Sem Partido”?
Frase de Hoje: “Minha ideologia é o Amor”.