Ele tem razão – Dois

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Ele tem razão quando diz: “E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário?” (Mt 5, 46). Para pertencer ao movimento de Jesus é preciso ser extra-ordinário, porque o ordinário a massa já faz e o mundo continua na mesma. Se nossa atenção não ultrapassa os que nos são caros, viraremos tribos? Quando digo “Bom Dia!” a alguém, estou lhe desejando um proveitoso e agradável dia. E isso serve para os que cruzam meu caminho, afinal se o dia de todo mundo for bom, o meu também será. Tanto que não há felicidade que resista a um ser humano revirando lixo ou jogado na calçada. Não importa se o outro retribui minha saudação, afinal quem deseja coisas boas aos semelhantes, mais ainda a desconhecidos e até gente azeda, é uma pessoa de bem com a vida, sua alegria de viver vem de dentro. Já arrumei bons amigos puxando prosa. Embora não precise andar por aí saudando até poste, tento não perder as oportunidades que a vida me dá para aprender coisas novas, deixar a zona de conforto e enfrentar desafios. Há quem passa pela mesma rua durante anos e não faz um amigo sequer. Nem toupeira é assim. A questão é de bom senso. Diga-se de passagem, Jesus trouxe um jeito de viver e não religião. É comum membros da mesma crença não se cumprimentam ao se encontrarem na rua. Nem se lembram que ocuparam o mesmo banco na igreja. Acham isso normal. São ordinários.

Tanto Jesus tem razão que chegamos ao que chegamos. Condomínios de acesso restrito atravancam o espaço urbano, formando agressivos guetos segregacionistas. Até o bispo daqui mora num deles. Algumas congregações religiosas de certo modo também vivem desse modo. O mesmo se passa com casas lacradas de cima abaixo. Muros altos, fios eletrificados, portões de chapa e interfone. Só falta a faixa: “Não se aproxime”. O livro dos Provérbios diz que “vale mais um vizinho perto que um irmão longe”. Isso porque em caso de emergência de que vale um irmão distante? Sem querer generalizar, morar nessas casamatas modernas demonstra desprezo pelo semelhante, medo do diferente e falta de fé no bem, que sempre vence o mal. Quem se fecha fica só, quem se abre ganha respeito e companhia. Respeito e companhia trazem segurança.

Tinha também toda razão quando disse: “Todo aquele que usa a espada, pela espada morrerá”. (Mt 25,26). A História mostra. O coronel que comandou o massacre do Carandiru em 1992 foi morto a tiros pela namorada anos após. O delegado Fleury, que torturou adoidado na Ditadura, morreu afogado – a mando dos militares, dizem. Hitler se matou, Gaddafi foi trucidado. Os EUA, que exterminaram nações indígenas inteiras para se apossar de suas terras e mataram milhares de crianças no Vietnam, no Oriente e em diversas partes do mundo agora vêem seus filhos sendo massacrados em seu próprio território, dentro do sagrado ambiente escolar. O Brasil, então precisa passar a limpo o vergonhoso tempo da escravidão e explicar porque mata tantas pessoas inocentes, pretas e pobres. E quanto mais mata mais violento fica.

Além de pleitear redução na maioridade penal e flexibilização do Estatuto do Desarmamento, a Bancada da Bala na Câmara Federal tentará relaxar as regras para compra, registro e porte e armas de fogo. Desta vez, querem liberar a compra de armas por qualquer pessoa com 21 anos de idade. Vejam a insanidade. Se o Estado autoriza porte de armas vai ter que dar um curso de como usá-la correta e eficientemente na hora do pega. Ou o bandido vai esperar o cidadão buscar a arma e atirar certinho no alvo?

Alegam que o bandido está armado e o cidadão de bem não. Nisso eu concordo. Realmente o bandido mais perigoso que existe – o Estado Brasileiro – está armado até os dentes e tomado de ladrões.

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