Incomodações
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Se comprovado está que “stand-by” – aquela luzinha inútil que fica acesa nos aparelhos domésticos mesmo desligados – é desperdício de energia, submetendo o cidadão mais consciente à encheção de saco de desconectar tomadas todas as noites, por que continuam fabricando aparelhos sem ter como desligá-las? Falando em luz, já participei de reuniões em escolas onde as janelas estavam fechadas, cortinas abaixadas, luzes acesas e ventiladores a todo o vapor, apesar do clima ameno e de o sol bombando lá fora. Se em escolas se vê tamanha falta de bom senso e desperdício, imaginem Brasil afora. Aliás, que juízo tem pessoas que ficam em ambientes fechados por horas a fio? Além do perigo de contágios, devem gostar de bafos e da flatulência dos outros. Falando em lugar fechado, ar condicionado virou moda na cidade. Exceto os que precisam, as pessoas já não suportam mais o menor desconforto. Elas estando bem o resto que se dane, visto que esse aparelho aumenta o calor externo e pesteia o ambiente interno. Mais árvores e menos asfalto; menos concreto e mais jardins, e arejadas construções amenizam calor naturalmente. Porém, massa não reflete; é movida a instinto. Em vez de mudar o comportamento prefere paliativo.
Se males do cigarro afetam tanta gente e oneram o sistema de saúde, por que são fabricados sem restrições? Fábricas de cigarros são mais fortes que o Estado? Do mesmo modo, armas de fogo existem para tirar vidas. Qualquer covarde estando armado é capaz de assaltar, ameaçar, sequestrar e matar. O mercado bélico fomenta guerras, oprime povos, enrica gente de mau caráter, desaloja populações inteiras, destrói famílias e empodera fanáticos. Nos EUA, chacinas são comuns. Bebem do próprio veneno. Fábricas de armas não são fechadas porque bancam políticos, e norteamericano gosta mais de rifle que da Bíblia. É o país que mais tem gente presa. Isso é nação civilizada? A caipirada local que não sai de Miami acha lá o melhor país do mundo. A onda dos ricos agora é ter filho nos EUA para ganhar cidadania americana. Go!
Grande é o número de pessoas que só pensam em si. Trata-se de gente ignorante ao extremo, já que uma coisa puxa a outra. Dentre eles estão os que usam som no último volume. Reclamar é arrumar encrenca. Por serem broncos, as músicas que curtem são da pior espécie. Se o número de desentendimentos e ocorrências por perturbação de sossego é tão grande como demonstram estatísticas, por que não se proíbe fabricar aparelhos cuja potência ultrapasse os 75 decibéis tolerados pelo ouvido humano?
Cada vez que vejo uma lombada sei que está lá porque alguns não respeitam limites de velocidade. Em vez de jogar dinheiro fora construindo essas geringonças, que aumentam a poluição e o consumo de combustível; dificultam a agilidade de equipes de socorro e dos coletivos; e penalizam também quem anda direito, não seria melhor a prefeitura fiscalizar mais e punir quem não pensa na coletividade, e investir muito em educação? Falando em trânsito, se o número de acidentes envolvendo motos é tão alto como demonstram os dados, por que não se fabricam motos com velocidade limitada? E já que na maioria das estradas brasileiras não se pode andar mais que 120 Km/h que sentido tem fabricar carros cujos velocímetros marcam 220?
Pra encerrar o papo, a policia não vence prender vendedores de drogas. As cadeias estão lotadas deles, e a sociedade – que nem dinheiro para médico tem – banca; fora a nefasta rede de crimes que o tráfico sustenta. Usar pode porque muitos ricos dela precisam. O mané que as vende é que vai preso: quem manda viciar ‘cidadãos de bem’? Sempre existirão drogas porque sempre haverá gente fugindo de si. Em vez de fustigar a violência como vem fazendo, o Estado deveria assumir seu controle como faz com as lícitas. É livre o ser humano. Ninguém vai conseguir impedi-lo do que quer que seja. Tratar as coisas com maturidade e transparência é o melhor caminho.