A Mulher e a Família

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“As famílias de trinta ou quarenta anos atrás eram mais sólidas e equilibradas.” Qual seria a interferência da mulher nesse equilíbrio? Por que razão, hoje, o casamento atravessa uma crise tão grave, de tão grandes proporções?

No mês em que se comemora o dia da mulher, meio discriminatório, convenhamos, o tema proposto acima, vale uma abordagem.

Há trinta ou quarenta anos atrás, o machismo dominava em toda linha. O homem era senhor absoluto. Sua palavra, sua vontade e sua conduta, nem sempre louváveis, eram , quando pouco, respeitadas. Ele podia dar suas “escapadas”, e o adultério masculino não era considerado um crime. Os próprios filhos e a família o desculpavam.A mulher devia ser submissa e aceitar, mesmo que tal atitude lhe custasse o sacrifício da própria identidade. Ou quando ela se insurgia, gerando um relacionamento apenas social, para salvar as aparências e evitar o rompimento do vínculo, estabelecia-se um acordo, tendo em vista a segurança dos filhos e seu desenvolvimento harmonioso e sem traumas. Havia porém, um sentimento de revolta latente, de frustração que explodiu.

A mulher insurgiu-se contra uma situação de hipocrisia e de castração. E foi mais além, com muitos excessos. Não se pode, contudo, responsabilizá-la sozinha, pela crise que sobreveio. Das mais graves, nos dias de hoje.

Tentando reagir à dominação machista, a mulher quis ocupar espaços maiores do que os que lhe cabiam, em termos fisiológicos e psicológicos. A igualdade com dignidade – uma justa pretensão – extrapolou. Ela passou a ser competidora do homem, quase uma adversária. Nesta competição hostil, o casamento perdeu sua posição de união e perenidade. Esvaziou-se do sentido de complementação por excelência. E os filhos vêm assistindo, perplexos, ao desmoronamento de uma união que julgavam sólida, transformada em desrespeito mútuo e no desamor, atitude que a criança, inconscientemente, rejeita.

Os fatores históricos e sociais apressaram as transformações e estas atingiram, sobretudo, a mulher. Suas funções específicas e intransferíveis, que não podem ser substituídas pela governante, pela cozinheira ou babá, sofreram conseqüências desastrosas. Sua presença como mulher e mãe é e será sempre necessária, embora não se peça a ela que permaneça no lar como simples espectadora das transformações sociais.

Ocorreu, entretanto que, em busca do reconhecimento que faltava e, realmente como uma fuga,a mulher apostou tudo, fora de casa. As atividades domésticas passaram a ser menosprezadas; mesmo não saindo para trabalhar fora, sua posição é diminuída, dentro da mentalidade consumista. O desejo de adquirir também aumentou, em função desta mesma mentalidade. O fato é que, hoje,pela superficialidade de ter quanto mais, ou pela necessidade premente, a mulher ajuda nas despesas. Diga-se, com justiça, que seu desempenho no campo profissional é ótimo, superando a concepção quase mítica de sua incapacidade.

Por outro lado, esta realização complicou-lhe grandemente a vida. Ao voltar para casa, suas tarefas são maiores, depois de um dia cansativo. O trabalho cotidiano a espera, os filhos requerem sua atenção, desde que, no lar, a família não precisa da funcionária, da economista, da pesquisadora ou da catedrática.O cansaço, contudo, lhe abate o ânimo: ela deixou de ser a companheira,a conselheira, a orientadora, a formadora. Já não é aquela figura ideal e feminina, capaz de compartilhar com o marido daqueles momentos a dois, tão necessários ao casamento. E para os filhos, sua ausência na vida de crianças e jovens se reflete no quadro triste da sociedade atual. É visível a diferença entre os filhos que recebem os cuidados maternos daqueles que foram terceirizados e entregues à responsabilidade de outros.

Nada impede, salvo em casos de necessidade extrema, que a mulher, buscando sua realização pessoal e seu aprimoramento, se dedique, com prioridade, à formação dos filhos, à manutenção harmoniosa da família, no sentido de uma convivência saudável e bem aproveitada em qualidade. Será preciso, contudo que o homem também colabore e redimensione sua atuação, deteriorada pelo machismo e o egoísmo inconsequente.

Algumas vezes, é preferível a separação a uma convivência prejudicada por brigas e discussões constantes, pela desvalorização, pela concorrência e o desamor. Não é bom para os filhos o convívio de inimigos em potencial a lhes oferecer uma realidade deturpada pela hipocrisia e o duelo recíproco. Este exemplo pernicioso vai refletir mais tarde na própria conduta dos filhos adultos.

A união é uma necessidade para as duas partes, pois não é bom estar só, desde que homem e mulher estejam devidamente preparados para um compromisso sério que exige maturidade, vocação e respeito. Acima de tudo, o amor , capaz de enfrentar as dificuldades inevitáveis. Só assim se constituirá a família verdadeira, capaz de contribuir para a formação de um salutar organismo social.

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