Saudação para o sábado

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Foto: Reprodução Google

O sábado não é um dia inteiro, não é. Até o domingo é um dia completo, mas o sábado não. O sábado é algo pela metade, uma destas invenções divino-humanas que ninguém sabe o que é. Até Deus descansou no sábado. Eu não descanso nunca, caçadora de mim, com a alma em febre de tanto pensar a vida.

Quando sábado amanhece, não sei que dia é. Demora para cair a ficha, vou abrindo os olhos devagarzinho, remexendo o lençol. Que dia é hoje mesmo? Pode contar que é sábado. Trata-se de um dia híbrido, vivido na sensação de estarmos no limbo do tempo. Onde fica isso? Não sei. Mas que é impressionante é.

Nem queira saber. É algo metafísico. Acordar com o canto de um passarinho no muro do quintal. Acordar com um anjo vigiando aos pés da cama. Quem é você, meu amigo louro e lindo?  Posso lhe dar um abraço?

Sábado é dia de namorar. Para os solteiros e demais interessados que vão se encontrar à noite. Mas quem já casou pode namorar também. Meu lindo dizia: “casados, eternos namorados”. Se não namoram, não sabem o que estão perdendo. Mas parece que o namoro já ficou pra trás para boa parte da turma de aliança na mão esquerda. E eu, pra mor dos pecados, uso duas. Tô ferrada. E sem sábado.

Sábado. Ai que aflição. Será que tem circo na cidade? Vontade de ver um número de trapézio, de malabares, de mágica. Quem sabe o mágico pede para alguém da plateia participar do quadro, lá vou eu, e me faz desaparecer? Quem sabe o sábado vira uma ilusão de ótica permanente e eu fico em paz?

Sábado deixa a gente dodia. Não é erro de ortografia não, bela, é “dodia” mesmo, feito falava uma empregada baiana, cujas frases e palavras eram música para meus ouvidos paulistas. “Preciso de umas tauba pra consertar a cerca lá de casa”. Ui! Não é tábua, não? Que nada, ela queria era “umas tauba”. E eu não entendi?

Santa Tereza d´Avila é que sabia das coisas. Era de uma sabedoria maravilhosa. Ela costumava dizer: “Nada te perturbe. Nada te amedronte. A quem tem Deus, nada falta. A paciência tudo alcança. Tudo passa. Só Deus basta”.

Sabe aquela vontade de saber o que há por trás de todas as coisas? Ela bate sempre no sábado. Fascinam-me tantos mistérios e quero penetrá-los, entender de física quântica, da mecânica do universo e responder por que existimos. A que será que se destina?

Só sei que hoje é sábado, e esta crônica será publicada no Jornal de Piracicaba. Sábado. Saturday. Samstag. Sabato. A agenda de couro preto sabe lembrar que é sábado em várias línguas. E que estamos no janeiro da vida. O que escrever na agenda, em pleno sábado? Já sei! “When the moon is in the seventh house/ and Jupiter aligns with Mars…”.  Anos setenta, onde estás?

Que entre pela porta a temporalidade deste sábado monumental em que me encontro tão absolutamente lúcida. E tão morta de saudades do passado. Por Deus do céu! Mas, rendo-me, de joelhos. Embora o sábado não mereça minha confiança. Que estranheza no peito. Há serafins cantando. Hoje é sábado. Explosão de expectativas. Nada pode trair a exuberância deste fato.

Não diga que não entendeu nada, por favor. Diga que viajou comigo nesta festa semanal. Diga que, às vezes, um sábado à tarde pode ser fatal. É, meu bem. Está tudo certo. Só falta acertar essa agonia que o sábado me causa, não sei por quê. Certas agonias são a alavanca das nossas decisões. Sem elas, não teríamos dado um passo. E se vamos adiante, é porque o coração anda cheio de fé e esperança. Melhor assim?

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