Codepac aprova relatório para registro do sotaque caipira como patrimônio imaterial
O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba(Codepac) aprovou o relatório final para o registro do dialeto e sotaque caipiracicabanos como patrimônio imaterial. A proposta foi apresentada por um grupo de quatro instituições culturais da cidade – Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), Academia Piracicabana de Letras (APL), Instituto Cecílio Elias Neto (Icen) e a Associação Piracicabana de Artistas Plásticos (Apap). O decreto, que oficializa o linguajar caipira local como identidade cultural da cidade, será assinado nos próximos dias pelo prefeito Gabriel Ferrato.
A instrução do processo administrativo chamado de Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial – Dialeto e Sotaque Piracicabano foi feita por Renata Gava e Marcelo Cachioni, membros da equipe técnica do Codepac. Foram analisados aspectos históricos, linguísticos, sociológicos e antropológicos, publicações, materiais informativos em diferentes mídias, referências documentais e bibliográficas pertinentes do referido bem. “Também foi feito levantamento de registros audiovisuais e gravações sonoras do projeto Documentários, da Célula – MISP (Museu da Imagem e do som de Piracicaba), cedidos por André Boareto e Raul Rozados. Foram entrevistadas personalidades ligadas à cultura e às tradições de Piracicaba, como os cururueiros Moacir Siqueira, que faleceu este ano, e Jonata Neto, o poeta Marcha Lenta, e os músicos Toninho da Viola e Nilo da Viola”, conta Renata.
“Piracicaba tem particularidades muito interessantes, que a faz ser conhecida nacionalmente ou até além das fronteiras, como a sua pamonha, o seu peixe no tambor, o rio e, claro, o seu sotaque caipira. Dessa forma, o registro do linguajar como patrimônio imaterial é, sem dúvida, uma forma de garantir essa herança para a população, de valorizar a cultura, a história e a memória da cidade e dos piracicabanos e também das cidades da região”, ressaltou o prefeito Gabriel Ferrato.
"Nosso linguajar é a marca deixada no caminho dos bandeirantes. É único e marcante. Piracicaba que já foi chamada de 'fim de linha', hoje é um dos mais promissores municípios do estado e do país. Ter nosso dialeto caipiracicabano registrado como patrimônio pelo Codepac é preservar as raízes e a forma de vida do nosso povo", afirma a secretária da Ação Cultural, Rosângela Camolese.
Para Mauro Rontani, procurador-geral do município e presidente do Codepac, o registro é muito positivo para a cidade. “Iremos deixar formalizado, mediante um documento elaborado por um conselho formado por pessoas reconhecidas na área cultural, o registro de um patrimônio que é de toda a sociedade piracicabana, que é o seu sotaque, a sua marca registrada. Isso garante que as raízes do povo piracicabano sejam preservadas na história futura”, ressalta Rontani.
DE SP PARA O INTERIOR – De acordo com o jornalista Cecílio Elias Neto, estudioso da cultura piracicabana e conhecido pela sua luta em defesa do linguajar caipira, o sotaque caipiracicabano nasceu em São Paulo, a partir da relação dos índios com os portugueses, e chegou até Piracicaba pelos rios, fixando-se no Vale do Médio Tietê. “É uma questão que deveria ser defendida regionalmente, por todas as cidades que se consideram caipiras”, defende.
Cecílio explica que o caipiracicabano é uma língua em que a pronúncia do R se dá com a língua voltada para dentro, enquanto o carioca fala o R com a língua voltada para fora. “Por isso, onde um caipira fala, é logo notado. A língua é a sua identidade. Muitas vezes ele se vê em uma posição inferior, como se estivesse cometendo um erro. Isso é absurdo”, enfatiza.
O jornalista lembra que o presidente Prudente de Moraes ficou conhecido como Biriba, o presidente caipira. “Com essa força de projeção nacional, deveríamos explorar melhor esse diferencial como uma marca. A cidade tem sido procurada pelos grandes canais de TV exatamente pelo seu sotaque. E os repórteres falam de Piracicaba com entusiasmo, porque de fato toca em uma raiz cultural. Uma raiz cultural, por sinal, que deveria ser melhor explorada economicamente, para fortalecer nossa economia”, concluiu.