A vida revisitada

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Depois de tantas elucubrações políticas e econômicas, fazemos uma pausa para meditar no tanto de vida que a vida é. A vida e seu mistério intrínseco. A vida e o que ela nos revela todos os dias, seja na nossa luta diária, no riso e na lágrima, na vontade de errar menos, nos pressentimentos e nos sonhos.

Carl Jung escreveu: “Depois da metade da sua vida, comece uma nova vida”. A frase soa tão simples e fácil, como se partir para uma segunda metade fosse uma tarefa praticável e comum. Não, não é. Há que se perder a pose, para compreender o enunciado e iniciar uma nova vida.

Se para o autor Paulo Coelho, “o mundo conspira por aquilo que queremos”, pode-se acreditar, então, que uma força superior vela por nós sem cessar e nos ajuda a realizar nossos desejos.

Clarice Lispector dizia que estava habituada a uma vida difícil e que uma vida fácil a deixava desnorteada. Ah, que bom é permitir ao coração que, primeiro, conheça o caminho mais espinhoso, para valorizar as calmarias e a fruição das alegrias.

Talvez não seja prudente acomodar-se no sofá confortável, mas compreender que a vida é feita de desafios e imprevistos e só vence quem não desiste. Não acostumar-se às facilidades, à bonança, e aceitar de joelhos a chegada das tormentas. Tal atitude forma com sabedoria um coração.

A vida também mata. Hélio Silva escreveu: “A gente se mata. A gente não morre de morte morrida. A gente morre é de vida vivida.” Só é possível compreender estas palavras à medida que se as vive, no entendimento de que a vida é tão fatal quanto a morte.

É tão fascinante o perigo de viver, mística é a dor de estar vivo. Há uma delícia em despertar a cada manhã, o corpo espreguiçando-se, respiração e tônus muscular, o movimento vital se espalhando em cada gesto. Pode haver algo mais belo?

 

Há muito mais, há o imaginário, o que se busca pela vida afora. Florbela Espanca escreveu num trecho do seu diário: “Faço, às vezes, um gesto de quem segura um filho ao colo. Um filho, um filho de carne e osso, não me interessaria, talvez, agora… Mas sorrio a este, que é apenas amor em meus braços.”

O que é apenas amor em nossos braços? Aquilo que ainda não existe, mas já é amado, um amor que possui a latência e a promessa. De graça, existe a Poesia, esta que nos redime e nos consola. Bendito seja todo verso libertador.

Um poema caído dos céus, feito um anjo, anda pela casa e anuncia novos tempos. Saudação escatológica, linguagem do amanhã. Com a tevê ligada, o mistério compete com o marketing e se dilui entre xampus, eletrodomésticos e refrigerantes.

Necessária e assombrosa Poesia! Já foi mais importante, talvez. Mas é preciso resistir, esta resistência heroica de cada manhã, sopro vital, grito primal, caverna ancestral de cada um.

Ao vencedor da corrida, o repórter perguntou sobre como chegou lá. O atleta respondeu sereno: “É simples. Eu não desisti.”

Não desistir da vida, jamais.

 

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