Crescimento econômico – Papo furado de sempre

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Sabemos pela História, e até recentemente, de países devastados por catástrofes que se reergueram contando apenas com a riqueza que cada ser humano tem em si: solidariedade, compaixão, resiliência, desprendimento; amor enfim. São esses os valores que movem o mundo para frente e dignificam a raça humana. Contudo, nada dizem para gestores que só conseguem governar se dinheiro houver e, por isso mesmo, acham que tudo tem preço, inclusive pessoas.

Vejo políticos e administradores, tanto da coisa pública quanto privada pregando o crescimento econômico como único meio de melhorar a vida das pessoas. Se não forem tendenciosos são ignorantes ou ingênuos; carecendo, portanto, da sabedoria necessária para governar seja o que for. Falam de progresso tendo certo que os recursos naturais darão conta da usura humana e que nunca faltarão homens e mulheres disponíveis para trabalhar por salários que mal cobrem um aluguel de casa. Na cabeça deles, desenvolvimento é aumento do PIB e dinheiro na mão, e não melhor qualidade de vida para a população e gerações futuras.

Quando vejo os impostos esmagando pobres; as cadeias lotadas de miseráveis; peões da construção civil habitando imundos alojamentos e ganhando a miséria que ganham para erguer condomínios de luxo; o sofrimento nos trabalhadores pavimentando estradas sob sol e chuva; coletores de lixo inalando veneno diariamente; escravos em fazendas, muitas delas nas mãos de políticos que gritam contra a corrupção no Congresso – agronegociantes tidos como salvadores da economia brasileira, vários deles na verdade devastadores de florestas, exterminadores de inteiras nações indígenas e usuários de agrotóxicos que causam câncer. Quando sei do desamparo dos milhares de habitantes da bacia do rio Doce e o abandono dos ex-moradores de Bento Rodrigues-MG pela SAMARCO, cuja irresponsabilidade e ganância mataram 19 pessoas produzindo o maior desastre ambiental da história do Brasil – vergonhosamente até agora impune; a exploração sexual de crianças praticada por boçais empresários, cujo dinheiro em excesso revela o coração depravado que carregam; a angústia nos pequenos pescadores, que vêm peixes minguarem cada vez mais por causa das barragens, da poluição e da pesca industrial; a vida dura dos comerciários, cujas jornadas alongadas afastam-os sempre mais da família; o regime extenuante de trabalho de vigilantes, plantonistas, motoristas, atendentes, cozinheiras de restaurantes chiques e hotéis cinco estrelas, de faxineiras e domésticas sem registro; o cotidiano das grandes cidades – trânsito, violência, dívidas, medo – fazendo que as pessoas vivam estressadas e dependentes de drogas, e a competitividade entre empresas exigindo cada vez mais de seus empregados entendo no que se baseia o tal crescimento.

Em vez de desenvolvimento, boom econômico trouxe para muitas cidades agruras, especulação, crimes, desequilíbrio ambiental. Segundo o escritor André Lara Resende “A redução das desigualdades contribui mais para o bem-estar que o crescimento”. Isso se faz com distribuição de renda, educação e justiça social, medidas essas assumidas por governantes-estadistas e não por fantoches. Desigualdade provoca raiva, inveja e despeito. É a principal causa da miséria, da violência urbana, da solidão, das doenças que lotam hospitais, do abandono de idosos e crianças. Se todos tiverem o necessário para levar uma vida decente e criar sua família com honra certamente seremos mais felizes e menos consumistas.

“Tinham razão os economistas que, já nos séculos passados, diziam ‘não se pode ser feliz rodeado de infelizes’. Se a sua felicidade deve ser garantida pela força, não é mais felicidade”. (Luigino Bruni, mestre em Economia e Política na Universidade de Milão – Mundo e Missão – março de 2009).

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