Inquietações bem-humoradas de um artista precoce
Posso dizer que fui, em dado momento e por acaso, além de amigo, mentor do Derli Barroso, de cuja amizade desfruto até hoje. Esses laços amistosos se iniciaram na primeira década dos anos cinquenta, quando ele e eu frequentávamos a Igreja Metodista de Piracicaba. E, desde então, mantivemos esses laços e contatos, mesmo à distância e intermitentes, quando se dirigiu para novos desafios na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo e, posteriormente, para os Estados Unidos onde frequentou a School of Visual Arts de Nova Iorque. A partir daí não parou mais de trabalhar como “designer” gráfico e fotógrafo. Há muitos anos reside nos Estados Unidos, onde tem trabalhado. São também muito festejadas as exposições que tem feito.
Mas, seus primeiros passos no campo das artes foram dados aqui em Piracicaba em 1958, um pouco antes de concluir o então chamado Curso Normal do Instituto Educacional Piracicabano, quando tinha seus 15/16 anos. A revista “Mirante”, liderada por Renato Wagner, vinha com uma nova proposta editorial para revolucionar a linguagem gráfica, a redação e a forma de realizar anúncios publicitários. Tudo o que o jovem Derli precisava para exercer suas habilidades, como “designer”, fotógrafo e, enfim… como cartunista.
Com as páginas abertas por Wagner, ele produziu, no período em que a revista circulou, dezenas de cartuns, caricaturas, tiras de quadrinhos, com as temáticas da época, sobre política e temas do cotidiano. Há alguns anos, por iniciativa do jornalista Edson Rontani Júnior, filho de um dos pioneiros do humor gráfico na cidade, foi realizada uma exposição na Pinacoteca Municipal, com vários cartuns colhidos pelo organizador nos exemplares da “Mirante”.
E pudemos ter a certeza de que Derli Barroso contribuiu decisivamente para que a cidade de Piracicaba desse espaço à imaginação criativa de um jovem talento que perfilava entre os grandes nomes da época, como Rontani e Wagner.
Bem lembrado para mais esta homenagem no livro “Piracartum”, Derli passa a figurar de forma definitiva no rol dos artistas gráficos que contribuíram para o exercício dessa profissão e arte, com seu talento e imaginação criativa. Para mim, é muito bom poder constatar que os frutos da minha eventual mentoria, produzidos por ele, continuam sendo reconhecidos e reverenciados pela cidade.
* Gustavo Jacques Dias Alvim (in memorian), Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba e Academia Piracicabana de Letras.
[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]
Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum