Nos tempos do Jornal do Povo Piracicabano
Em 1978, repórter da Folha, recebi um convite tão inusitado quanto desafiador— assumir emergencialmente a direção de um semanário em Piracicaba. O editor do jornal se demitira e era preciso fechar o número seguinte. Meio desencantado com várias coisas, aceitei e depois de conhecer o dono do jornal — João Herrmann Neto, o prefeito diferentão, que me recebeu de calça jeans, botas enlameadas, sentado no chão de seu gabinete — fui apresentado ao Peninha. Ou Bonifácio Placeres Júnior. Magro, cabelos compridos, barba, riso fácil, era o diretor de arte do Jornal do Povo Piracicabano, cuja redação pequena e mal ajambrada, funcionava numa garagem próxima ao centro da cidade.
Foi o início de uma parceria profissional que durou um ano e de uma amizade que segue até hoje. O Jornal do Povo, distribuído gratuitamente na cidade inteira, tinha Peninha pra todo lado. Na criação das capas à maneira das revistas — lembro de uma em particular que mostrava um despertador envolto em supostas bananas de dinamite e um título na linha “Piracicaba, um caso de polícia a cada 32 horas” ou coisa assim. Mas também em ilustrações que salvavam a pátria da publicação de orçamento exíguo e pretensões tão gigantescas quanto as de seu proprietário, para quem a revolução brasileira teria em Piracicaba sua Sierra Maestra sem florestas, nem montanhas.
O traço era naif, quase infantil. Figuras humanas de formas arredondadas, quase sempre em ação. O humor era a regra, embora Peninha também ilustrasse textos mais sérios, com outro tipo de desenho. Sua criatividade não se limitava a essa produção semanal e depois diária — encurtamos a periodicidade e aumentamos o formato, sonhando com influenciar pessoas e apoiar o projeto político renovador do prefeito. Nas horas vagas, Peninha desenhava e pintava — as paredes de seu apartamento o comprovam — mas na lida da redação, ele colocava seu talento a serviço dos textos, das notícias e de alguma opinião. Afinal, o jornal era do povo.
*Paulo Markun foi editor do Jornal do Povo Piracicabano.
[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]
Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.