Nos tempos do Jornal do Povo Piracicabano

Bonifacio

Bonifácio Placeres Júnior, o Peninha, veio de São Paulo para Piracicaba após um início de carreira na Editora Abril, com revistas infantis, passando na divisão de educação, para 4Rodas, Casa Cláudia, entre outras. Depois disso viveu um período em Piracicaba onde atuou na assessoria de comunicação da Prefeitura, ilustrando cartilhas didáticas para as Secretarias de Educação e Saúde. Trabalhou como cartunista do jornal “O Diário”. E depois foi para o “Jornal do Povo Piracicabano”, onde desenhou capas e cartuns. De volta a São Paulo, tendo trabalhado na Gazeta Esportiva, Gazeta Mercantil, entre outros projetos gráficos importantes. Atualmente trabalha como diretor de redação e sócio da Multi Arte Video, empresa especializada em vídeos institucionais, gestão de crise e assessoria de imprensa. Foi o criador, junto com Fausto Longo, da logomarca da UNIMEP.

Em 1978, repórter da Folha, recebi um convite tão inusitado quanto desafiador— assumir emergencialmente a direção de um semanário em Piracicaba. O editor do jornal se demitira e era preciso fechar o número seguinte. Meio desencantado com várias coisas, aceitei e depois de conhecer o dono do jornal — João Herrmann Neto, o prefeito diferentão, que me recebeu de calça jeans, botas enlameadas, sentado no chão de seu gabinete — fui apresentado ao Peninha. Ou Bonifácio Placeres Júnior. Magro, cabelos compridos, barba, riso fácil, era o diretor de arte do Jornal do Povo Piracicabano, cuja redação pequena e mal ajambrada, funcionava numa garagem próxima ao centro da cidade.

Jornal do povo

Foi o início de uma parceria profissional que durou um ano e de uma amizade que segue até hoje. O Jornal do Povo, distribuído gratuitamente na cidade inteira, tinha Peninha pra todo lado. Na criação das capas à maneira das revistas — lembro de uma em particular que mostrava um despertador envolto em supostas bananas de dinamite e um título na linha “Piracicaba, um caso de polícia a cada 32 horas” ou coisa assim. Mas também em ilustrações que salvavam a pátria da publicação de orçamento exíguo e pretensões tão gigantescas quanto as de seu proprietário, para quem a revolução brasileira teria em Piracicaba sua Sierra Maestra sem florestas, nem montanhas.

O traço era naif, quase infantil. Figuras humanas de formas arredondadas, quase sempre em ação. O humor era a regra, embora Peninha também ilustrasse textos mais sérios, com outro tipo de desenho. Sua criatividade não se limitava a essa produção semanal e depois diária — encurtamos a periodicidade e aumentamos o formato, sonhando com influenciar pessoas e apoiar o projeto político renovador do prefeito. Nas horas vagas, Peninha desenhava e pintava — as paredes de seu apartamento o comprovam — mas na lida da redação, ele colocava seu talento a serviço dos textos, das notícias e de alguma opinião. Afinal, o jornal era do povo.

*Paulo Markun foi editor do Jornal do Povo Piracicabano.

Ayatolla

Abelha

[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]

Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.

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