A morte anunciada de Piracicaba.

Apenas os muito tolos, muito estúpidos e ingênuos – ou os de muita má fé – não perceberam que, nos últimos anos, o comando de Piracicaba pôs-se a serviço de grandes corporações e conglomerados. A lassidão da maioria de nossos homens públicos e seu comprometimento com interesses econômicos, a fragilidade e até mesmo conivência de alguns meios de comunicação, a covardia de muitos e a indiferença de lideranças silenciosas permitiram essa tragédia que se consuma: a morte anunciada de Piracicaba, em véspera de se transformar no paraíso de coreanos, a “Hyundainópolis”, como já se anuncia.

Segundo a Forbes – cujo texto reproduzimos em manchete – a Hyundai – menina dos olhos de um complexo político-empresarial piracicabano – pretende investir uma fortuna formidável para criar uma outra cidade dentro de Piracicaba, projeto que prevê estrutura para outros mais 250 mil habitantes. A Forbes até já lhe deu nome: “Hyundainópolis”, como se Piracicaba se tivesse transformado num quintal usável de coreanos e de seus comparsas, pois comparsa é aquele que faz parte conivente de parcerias. Trata-se, pois, da destruição total de uma cidade que foi orgulho dos paulistas e dos brasileiros, “Pérola dos Paulistas”, “O Ateneo”, “Atenas Paulista”, “Florença Brasileira”. Por descuido e desleixo, já foms, também, chamados de “Amsterdam Brasileira”, quando as drogas devastaram a cidade por culpa de nossas lideranças. E, agora, a morte final: de Piracicaba, a “Hyundainópolis”.

O processo de venda, de doação, de entrega, de transformação de um jardim num quintal de interesses, de uma cidade primorosa em um grande cortiço vem de alguns anos, com o silêncio criminoso, insistimos, dos que têm responsabilidade social e política. A pouco e pouco, fomos permitindo tudo. Cedemos espaços, metro por metro; trocamos a decência pela indignidade; a honradez e os princípios, por valores sórdidos e mesquinhos. Nossos antepassados remexem-se em seus túmulos e nós – descendentes que ainda tentamos honrar-lhes o legado – cobrimo-nos de indignação.

Há um crime sendo perpetrado a partir da Prefeitura Municipal, dos partidos políticos, do silêncio conivente e também deletério da Câmara de Vereadores, da leniência dos poderes públicos e, em especial, da covardia dos homens de bem. A invasão coreana – pois qualquer outro nome será apenas eufemismo – tem que ser contida. Da maneira como as coisas estão postas, é como se fosse uma guerra em defesa de valores: nós ou eles; Piracicaba ou “Hyundanópolis.”

A quem servem os grandes condomínios, pontes, rotatórias, avenidas, senão a essa “Hyundainópolis” que está surgindo? E a Piracicaba verdadeira, seremos a cloaca dessa sórdida negociata de interesses que se escondem por trás de um falso e mentiroso desenvolvimento? Querem matar Piracicaba. E ele pede socorro. Porta vozes da Hyundai falam até em “república coreana em Piracicaba”. Parece que, por acordo com o prefeito, já tomaram posse. É um momento de morrer ou sobreviver. Quem sobrar verá. Bom dia.

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