Brazil e a “Última flor do Lácio”…

EstrangeirismoArrisco-me  apostar que, entre a juventude brasileira, haveria, talvez, meia dúzia ou dez jovens capazes de identificar esses primeiros versos: “Última flor do Lácio, inculta e bela/És, ao mesmo tempo, esplendor e sepultura…”  Quem é o autor, o que pretendeu dizer? Contar, eu não conto. Pois sei que já há gente correndo para clicar no Google…

O que, porém, estou querendo dizer é que – inspirando-me em recente lamentação do Luís Fernando Veríssimo – coloco-me, também, entre os que estão alarmados com a aceitação passiva da língua inglesa no cotidiano brasileiro. De Brasil, estamos tornando-nos, realmente, Brazil. E, daqui a pouco, voltaremos a ser – como o José Serra chegou a confundir ainda recentemente – o que fôramos: Estados Unidos do Brasil. Só que, agora, com Z.

Ora, é óbvio que a mobilidade da língua de um povo é natural, uns idiomas influenciando outros e assim por diante. Pronunciamos palavras de cujas origens  nem sequer mais lembramos. Dois exemplos quase simplórios: futebol e abajur. O “football” , inglês, foi assimilado e aportuguesado. O “abat jour”, francês, também. Há palavras de origem árabe, espanhola, grega e assim vai. O  dramático e doloroso, porém, é constatar a adoção pura e simples de palavras e expressões estadunidenses como que por submissão.

Aliás, insisto em chamar o povo daquele país da América do Norte de estadunidense, pois é o que eles são. Dizem-se americanos ou norte-americanos, mas isso por pura arrogância e pretensão. Norte- americanos são todos os habitantes da América do Norte, razão porque mexicanos e canadenses também o são. E os Estados Unidos não são a América, como se gabam de dizer. Eles são, sim, um país chamado Estados Unidos, da América do Norte. E, pelo visto, o Brazil está se tornando os Estados Unidos da América do Sul. Deveríamos, então, dizermo-nos também americanos. Ou sul-americanos exclusivos, ignorando os demais países abaixo do Equador.

De minha parte, confesso não mais conseguir ler cadernos de economia ou de informática. Preciso ter, ao lado, um dicionário inglês-português, pois o meu conhecimento da língua anglo-saxônica também está superado, tal o volume de novas palavras vindas do economês e da alta tecnologia. Os mexicanos – mais orgulhosos de si mesmo do que nós, brasileiros – não dizem site (saite), mas sítio. Vá lá que sítio seja inadequado. Mas por que não aportuguesarmos, então, apenas para saite? Millôr Fernandes já o fizera. Prometo que, a partir de agora, eu o farei. Estou, pois, escrevendo no saite do jornal A Província.

E o “delivery”? Nem vou comentar, pois meu espaço encurta. E prefiro, então, ater-me à estupidez da palavra mídia. Ela significa “meios”, referindo-se também a meios de comunicação. Logo, mídia são eles, os veículos de comunicação. Só que a pronúncia é estúpida, pois é palavra latina, feminino de medium, meio, singular. O pensador MacLuhan popularizou-a com seu livro revolucionário, “Mass Media”, onde ele propôs que o meio é a linguagem. Usou a palavra latina media. Os estadunidenses – em seu isolacionismo cultural – pronunciaram-na mídia e aqui estamos nós, macaquitos, repetindo-os. Aliás, os nossos jovens, quando felizes, agora dizem: “Yes!” E mataram o “Viva nóis, viva tudo, viva o Chico Barrigudo”…

A língua é um dos valores fundamentais da Pátria. Perguntem-nos aos franceses. Por aqui, vamos bagunçando tudo, atirando “pérolas aos porcos”, jogando fora tesouros. Apenas para honrar essa “Última flor do Lácio, inculta e bela”, deixo a pista do que o poeta louvou em seguida: “Ouro nativo que, na ganga impura, /a bruta mina entre os cascalhos vela/. Amo-te assim, desconhecida e obscura, /tuba de alto clangor, lira singela.”

“Understand?” Então, “good morning”.

2 comentários

  1. Carlos A. A. Campos em 25/05/2013 às 14:33

    O meu professor de latim ensinava que, na verdade, a última flor do Lácio é o romeno. Não me recordo mais das justificativas dele, mas havia uma historinha e argumentos. Há algum erudito entre os seus leitores que possa esclarecer aquela afirmação? Bem, se Bilac não o sabia será que alguém ainda sabe dessa ocorrência? Para finalizar e tentar ilustrar a sua crônica conto que um colega de ginásio, gozador, vivia repetindo: "Quê gê fé di mai laife?"

  2. Marisa Bueloni em 26/05/2013 às 22:01

    Pois é, Cecílio. Estamos fritos. Sem contar a nova língua escrita na internet da vida…
    Você já deve ter visto, claro.
    Fazer o quê, me diga?
    Um abraço e parabéns pelo texto!

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