Maldições sobre o Bongue (I)

picture (7)O vereador e o Morato

Piracicaba é terra onde maldições e bênçãos acontecem, mesmo que espíritos pragmáticos o neguem ou zombem delas. Maldições, especialmente estas, são mais notórias, pois palpáveis, perceptíveis, notórias, sensíveis. Há maldições sobre famílias e sobre pessoas, maldições sobre lugares. Quando o sagrado é profanado, elas, as maldições, precipitam-se de maneira incontida e incontrolável.

A administração de Barjas Negri está marcada por uma grave maldição e ele sabe disso, como também disso sabem amigos, ex-amigos, inimigos e até as pedras das ruas. A tragédia está no fato de certas maldições atravessarem o tempo, atingindo inocentes e, também, os incautos que ficam expostos à cólera do divino. E, pior ainda, há maldições que atraem outras, como se fosse uma embriaguez insuperável, o mal chamando o mal, a desgraça invocando novas desgraças. Fantasmas do passado agem no presente, causando infelicitações mesmo que cobertas de lantejoulas.

A administração atual, como a perseguir uma maldição atrás de outra, desafia um dos espaços mais perigosos de Piracicaba, onde lenda e realidade se unem, onde o peso de fantasmagorias está solto no ar: o Bongue. É um espaço espiritual intocável, nossos ancestrais sabiam disso. A própria palavra “bongue” é revestida, ainda agora, de mistérios e de segredos não desvendados, gritos de escravos, de índios foragidos, o lugar onde a Inhala Seca se refugiou para inquietar almas atormentadas. “Bongue” relaciona-se a “ponga”, “pongá”, “bonjy”, “bongá” coisa que ressoa, ruído confuso, de som metálico, como o da araponga. Esses ruídos poderiam ser, conforme Mestre Guilherme Vitti, “ecos quando se emitem gritos ou alaridos, em razão do conformato do morro em curva”. E por que não os gritos de arapongas e os gemidos da Inhala Seca?

 

O vereador José Luiz Ribeiro, em seu monumental primarismo, evidentemente não sabe disso. E Barjas Negri – na sua prepotência e arrogância próprias de espíritos brutos, mesmo que passando por academias – zomba do sagrado, do qual se julga profanador intocável. Por quê a estação de esgotos nas proximidades do Bongue? E por quê, agora, o vereador querer tirar o secular nome Morato, substituindo pelo de Salim Maluf, saudoso e competente comerciante, mas tão distante da história cultural e espiritual de Piracicaba?

Aquele espaço – chácara do Morato, o Morato, Ponte do Morato – é o que temos de espaços marcantes e históricos de Piracicaba, especialmente o nome, a memória, a lembrança, a lição de vida, o símbolo: Francisco Morato. Ora, o Fórum de São Paulo leva o nome de Francisco Morato, um dos mais insignes brasileiros, honra de Piracicaba. E, enquanto Barjas Negri insiste em desafiar maldições e fantasmas – “et pour cause”? – Zé Luiz Ribeiro se presta a novos servilismos, sem saber o que faz e para onde vai.

Esse tempo alucinado de falsas euforias diante do etanol – parcerias suspeitas entre bancos,empresários, políticos, sindicalistas e até ditas instituições filantrópicas – é a maldição de Mamom, que enlouquece os homens e alucina os desvairados. Há maldições sobre Bongue. E não será nenhum projeto de loteamento ou de condomínio, elaborado por João Chaddad, que irá vencer cóleras divinas.

Para ajudar a enlouquecer ainda mais os já ensandecidos, é preciso retomar histórias dessas maldições sobre o Bongue. É uma contribuição na tentativa de, pelo menos ajudar homens de boa fé a não se deixarem contaminar por iconoclastas. Na verdade, em Piracicaba, até as maldições têm o lado benéfico: elas existem para que os males não se repitam ou não se espraiem. Se aviltado, o Bongue vomita maldições. Quem viver verá. (Continua.) E bom dia. (Ilustração: Araken Martins.)

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