Máscaras verdadeiras

Máscara de carnavalFascinante – o mínimo que se deve afirmar – é o estudo da máscara, suas origens arquetípicas, seus significados. A mitologia, a história, filosofia, psicologia, psicanálise, praticamente todas as ciências nas áreas humanas estudam e abordam a máscara como um dos símbolos mais antigos e referenciais da humanidade.

Elas, as máscaras, encontram-se desde as pinturas rupestres e permanecem até hoje, seja entre os bandidos que estão fazendo barbáries nas ruas brasileiras, seja no Carnaval. Máscara tem, entre os latinos, o significado etimológico de Persona, derivativo do demônio Phersu, entidade má dos etruscos. E, também, de masca, derivado do árabe, significando farsa.

Mas, numa croniqueta, isso não importa tanto. Pois são os seus diversos significados que nos servem para identificar o mascarado. Pode ser o bandido, como pode ser o alegre e divertido palhaço. Pode ser símbolo do demônio como dos deuses. A máscara tem muito a ver, também, com o hypocrate dos gregos, atores que mudavam de personalidade e de postura. O hipócrita de hoje é o hypocrate do passado. E ambos usam máscaras.

Na verdade, na verdade, a máscara é uma propriedade da própria civilização. Nas relações entre si, as pessoas – todas elas – usam máscaras para se revelarem civilizadas. Um sorriso pode ser a máscara que oculta ódios. Uma gentileza pode mascarar raivas ocultas. Um beijo pode revelar amor e, também, a traição. Enfim, a máscara é parte de nosso cotidiano mesmo que não o percebamos conscientemente.

O ser humano esconde, por trás da máscara, a sua própria impotência. Mascarando-se, ele espera superar-se a si mesmo. Ou seja: ele se torna a própria máscara que usa. Bandidos não são bandidos porque usam máscaras. Eles apenas se deixam revelar através delas. E Papai Noel não é bonzinho apenas por suas máscaras. A máscara apenas revela a bondade que estava oculta na pessoa que a vestiu.

Carnaval é o tempo propício, adequado, o verdadeiro tempo das máscaras. Nas ruas, nos clubes, nos salões, nas praças, nos desfiles – os mascarados revelam sua alegria e desejos daquilo que são ou que gostariam de ser. E, então, o Brasil volta a ser verdadeiramente brasileiro, um país que sabe como mostrar a sua índole verdadeira, em máscaras que superam as do cotidiano, feitas de amargores, de decepções, e de frustrações.

Talvez, as máscaras de Carnaval possam ser a verdadeira identidade de um povo que parece destinado a ser feliz, apesar dos bandidos mascarados – em todos os níveis, incluindo especialmente o da política – que o massacram. É óbvio que o sentido original da máscara nem sempre pode ser identificado com sua relação simbólica. Mas quase sempre. Somos as máscaras que usamos, que escolhemos.

O Carnaval – aliado à expectativa pela Copa do Mundo – tira o Brasil, pelo menos por um bom período, da onda de pessimismo, de derrotismo que, especialmente em alguns meios de comunicação, deprimem o povo. Como dizia o saudoso Joãosinho Trinta: “Quem gosta de lixo é intelectual; povo gosta de luxo.”

E, enfim, Rei Momo reinará no lugar dos reis da soja, dos bancos, da indústria, do comércio, da Bolsa de Valores. E o Brasil recuperará sua alma verdadeira, que é, sim, hedonista e dionisíaca. Bom dia.

1 comentário

  1. Delza Frare Chamma em 04/03/2014 às 16:39

    Linda crônica, Cecílio!!!!!!!!!!!!!

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