“In Extremis” (126) – “Não atirem suas pérolas aos porcos”

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Pinacoteca Municipal Miguel Dutra. (foto: Semactur)

Lembro-me com saudade de quando, criancinhas, meus filhos me provocavam: “Papai bobo, papai bobo.” Eu me divertia. Agora quando o Dorfo, o Dorfinho – também conhecido como Adolpho Queiroz – embravece comigo, zurrando besteiras, agredindo editores de jornais, eu até gostaria de divertir-me com ele. E, então, fingindo-me de ofendido, ralhar: “Baixe as calças, menino que, agora, vou lhe dar umas chineladas no bumbum”. Mas não posso fazê-lo. Pois o Dorfo, o Dorfinho, é o “soi disant” Secretário de Cultura. E ninguém deve dar palmadas no bumbum de um assessor do prefeito.

Piracicaba está vivendo a era da estupidez. E não se trata de contágio de Brasília.  É estupidez local, caipira, em estado crescente e abertamente revelada. O patrono do Dorfinho é aquele vereador que, até recentemente, uivava, vociferava, urrava, mugia, zumbia, ladrava, rosnava, rugia, gania diante de qualquer errinho na Prefeitura. E agora, nem sequer um suave miado de gatinho? Tinha certeza sobre a indicação? Que se previnam. De minha parte, antecipei-me e já perguntei ao Dorfo: “Qual será o próximo a ser traído?”

É grave e perigosa toda essa estupidez. Ou não é estupidez insultar, provocar, agredir a imprensa quando a administração, tão frágil, precisa pelo menos da compreensão dela?  O sr. Prefeito já visitara, antes, a Pinacoteca? Foi ele próprio que propôs essa invasão do Engenho Central ou cedeu a sugestões capciosas? Por que não se avaliam opiniões da classe artística, de personalidades que, muito antes dos protagonistas de agora, vêm enriquecendo a cultura piracicabana? É depreciativo ou sinal de sabedoria consultar, ouvir antecessores? Querer editar os editores de jornais, que decência há nisso?

É crise de estupidez e da ausência de ridículo. O prefeito mostra não perceber seu acólito aproveitar-se do cargo para fazer publicidade de si mesmo. Este parece excitar-se em divulgar fotos suas quase que diariamente. “Óia aqui, negadinha. Eu e minha namorada num jantarzinho.” E lá está ele com a amada a quem deu bom emprego na Prefeitura. E se Dorfinho, em seus atuais delírios, quiser promover-se fazendo xixi? “Óia, negadinha, eu sei fazer xixi.” O ridículo é doloroso. E, se o preboste não percebe, é por gostar da ridicularia. (Aviso cultural: preboste é tratamento clássico designando alcaide, prefeito. Falô?)

Mas… Estou rindo para não chorar. A amigos, já desabafei esse meu cansaço. Não tenho sido justo para comigo mesmo. Deveria dar a meu corpo, ao espírito o direito ao descanso. Deveria considerar os suores destes 65 anos vivendo essa história, travando tantas lutas. E como gostaria de ter paz para escrever meus últimos livros, para contar as grandezas dessa terra e de nossa gente! Mas não consigo. Há dias em que me sinto sufocar de indignação. E pergunto-me: por que, no Legislativo, apenas os vereadores Raí e Pedro Kawai protestam contra a profanação? Por que o silêncio dos demais nobres edis?

Em meu cérebro, sem cessar, ecoam as palavras sábias: “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos.” A região da Rua do Porto é nosso sagrado. O Engenho são nossas pérolas. O prefeito e seu secretário não têm o direito de entregá-los aos cães e aos porcos já famintos para tirar proveito do tesouro. Será que a Câmara Municipal quer ser parte disso? Será que empresários responsáveis aceitariam ser comparsas desse mero capricho de meninos mimados? Ou há algo mais por trás disso? O que seria?

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