“In Extremis” (174) – “Arthur, o Miúdo”
Desgraçadamente, para este sofrido mas admirável país, está na Informação um dos nossos mais graves problemas. Pois, justo na denominada Era da Informação – com espantosos recursos da internet – deparamos com o brutal contraste entre os poucos bem informados e os milhões de brasileiros manipulados por má ou ausência de informação. E esta é essencial na vida das pessoas e da comunidade.
À guisa de exemplo, recorro-me, apenas, ao básico: se não sei onde fica um lugar para onde quero me dirigir, informo-me a respeito dele. Fui orientado. Educar é informar; recorrer a um profissional de medicina é, também, informar-se; jornalismo é, basicamente, a ciência e a arte de informar. Depende, obviamente, da credibilidade do informante.
Na minha experiência também de leitor – e ainda o sou – acompanho o desenvolvimento dos principais meios de comunicação nacionais. E também, dentro de minhas limitações, de alguns internacionais. Espanto-me com a verdadeira disputa, entre eles, para transmitir a informação mais clara. E enojo-me ao ver como, também entre eles, há farsas, más intenções, engodos. No entanto, nessa guerra também ideológica, há que se reconhecer os mais responsáveis, mesmo que se discorde de posições político-ideológicas. Em meu entender, os veículos têm, sim, que opinar, especialmente no atual universo das chamadas redes sociais. Ora, objetiva tem que ser a informação da notícia. No entanto, opinião – com seus argumentos lógicos – pertence à dimensão da subjetividade, da escolha.
Entre algumas das melhores revistas nacionais, considero especialíssima a “Piauí”. Há quem a considere “comunista”, superada linguagem de décadas passadas, ainda durante a Guerra Fria. “Piauí” foi fundada e ainda é presidida por João Moreira Salles. Quem é ele? João e seu irmão, o cineasta Walter Moreira Salles, são herdeiros do banco Moreira Salles, do qual se originou o Unibanco, atualmente, Itaú-Unibanco, o maior complexo bancário latino-americano. Logo, João Moreira Salles e “Piauí” são comunistas da gema, “de nascença”. Estupidez, pois, é o que não nos falta.
Pois bem. “Piauí” é outra das publicações que não chegam ao alcance da esmagadora maioria da população. Pode-se afirmar estar dirigida ao que qualificamos como elites brasileiras, econômicas, intelectuais, culturais. Sua última edição – a de junho, número 189 – circula com 34.350 exemplares. Para todo o Brasil. Se cada exemplar tiver, como média, 10 leitores, serão supostos 343.500 os que serão por ela informados. Num universo de mais de 156 milhões de eleitores ao próximo pleito de outubro!
Afinal – pergunto-me também a mim mesmo – o que estou querendo dizer com essa reflexão? De minha indignação, de meu dolorido sentimento de pesar diante da desinformação talvez metódica a que está, até aqui, condenado o povo brasileiro. E dor, também, pela displicência das tais elites que deveriam – antes de participar da discussão política – estar mais bem e solidamente informadas.
Um pequeno, mas perigoso exemplo: quem é Arthur Lira, o alagoano que preside a Câmara Federal, cúmplice de Bolsonaro? “Piauí” já revelou a perniciosa personalidade em sua edição de dezembro de 2021. O título da aterradora reportagem: “Arthur, o Miúdo”. A história desse inacreditável mandante na República é, simplesmente, de filme policial. E não foi absolutamente contestada em nenhum de seus horrendos detalhes.
Quem tiver um mínimo de preocupação com este país em estado de degradação pode se informar buscando na internet. Está lá. Para estarrecer. Informar-se ou calar-se.
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