Hidrovia: o projeto já existe.

Ao longo dos meus 50 anos de jornalismo em Piracicaba, nunca via nada semelhante, como factóide, do que a “construção da hidrovia, Piracicaba, marco inicial do Mercosul.” Que estamos em situação privilegiada, lá isso estamos. E tanto que Sud Mennucci, nos 1930, já percebera a importância disso e escrevera sobre o que ele chamara de “Mesopotâmia Paulista”, a Piracicaba junto ao nosso rio e ao Tietê.

Mas a lengalenga da hidrovia se transformou em problema mais sério, pois passou a ser aproveitada para interesses político-partidários e como promessas em tempos de eleição ou quando não há como mobilizar ou distrair a opinião pública. Ou o povo já se esqueceu de quando um candidato do PSDB, há alguns anos, prometeu a hidrovia e a geração de mais 100 mil empregos? Todos os candidatos, nos últimos quase 20 anos, falaram disso, do imenso lago para exploração turística, de coisas fabulares e fantasiosas. Mas a grande pergunta nunca foi respondida: a quem interessa a hidrovia nesse trecho, qual a importância estratégica que isso teria para pesados investimentos dos governos estadual e federal? Sem respostas, responde-se com projetos.

Agora, volta-se a falar novamente em um grande projeto. Alguém está inventado ou não sabe do que se trata. Pois esse grande projeto já existe e foi elaborado pelo escritório do então todo-poderoso Sérgio Motta, falecido, fiel escudeiro de Fernando Henrique Cardoso. O escritório dele era a Hidrobrasileira e o governo estadual, de Mário Covas, pagou uma fortuna para a elaboração do projeto. Tive o privilégio de vê-lo, pois a presidência daquele grupo estava sendo exercida pelo então vice-presidente da empresa, o prof. Plínio Xavier de Mendonça, um dos primeiros professores a participar do elenco que desaguou na Unimep, companheiro de personalidades do atual tucanato, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, Gilberto Dupas, Vladimir Rioli.

O deputado Mendes Thame sabe desse projeto. Pois, segundo Plínio Xavier de Mendonça, seria preciso que os deputados interessados em Piracicaba e aliados do então governador Mário Covas insistissem para disponibilizar, no orçamento do Estado, a verba de 40 milhões de reais, necessária para o início das obras. Ou seja: projeto havia, já estava elaborado e pago pelo Estado. Faltava a execução. E ainda falta. Só que, pelo visto, aquele projeto desapareceu, sumiu, ou não interessa. Como criar fatos novos se estiverem prontos? Por quê não se procura esse caríssimo projeto da lavra do escritório do falecido Sérgio Motta? Ou era uma outra embromação, logo no início do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso?

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