A dor e a delícia de ser mulher

Outros jeitos 1

Editora Planeta

Está na categoria dos fenômenos literários que ainda acontecem, por mais que o mundo esteja em crise. Num tempo que a chamada literatura “para mulheres” (coisa machista, não?) dedica-se a obras água-com-açúcar para quem não consegue ousar na vida, as palavras da indiana Rupi Kaur em Outros Jeitos de Usar a Boca (Editora Planeta, 254 páginas, R$ 29,90) chegam para provocar reflexão.

Já está na lista dos mais vendidos no Brasil, depois de quase um ano entre os dez mais do New York Times. Qual a razão de tanto sucesso? Não é difícil explicar. É fácil de ler, pois traz pequenos poemas telegráficos em que a autora consegue exprimir muita coisa. O livro está dividido em quatro partes: A Dor, O Amor, A Ruptura e A Cura.

Em cada uma delas, Rupi se revela sem medo. Fala de machismo, rejeição, amores abusivos e redenção. “O primeiro menino que me beijou/ Segurou meus ombros com força/ Como se fosse o guidão da primeira bicicleta/ Em que ele subiu quando tinha cinco anos”, diz, num poema. “Você cresceu ouvindo que suas pernas/ São um pit stop para homens que procuram um lugar para repousar/ Um corpo vazio desocupado o bastante para receber hóspedes/ Mas nenhum nunca chega disposto a ficar”, se revela em outro. Nascida há 24 anos e hoje radicada no Canadá, Rupi sentiu tudo isso na pele. Algumas afirmações parecem deslocadas para nós, latinos, como a de que qualquer elogio à beleza de uma mulher é desnecessário, pois ela não fez nada para isso. Mas o resultado é provocante.

rupikaur

Rupi Kaur

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