O melhor de Caetano Veloso
Baiano criativo, Caetano Veloso também é polêmico nas atitudes. Mas nem a mais mal-humorada das criaturas há de negar seu enorme talento.
1 – TERRA (1978)
“Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia”. Começa desse modo triste uma das canções mais representativas de sua obra. A foto da qual ele fala, quando os tripulantes da Apolo 8 fizeram, da órbita lunar, uma foto do planeta, acaba de completar 50 anos. Caetano estava preso, com Gil, no Batalhão do Exército em Realengo, zona norte do Rio, e veio a reflexão.
2 – ORAÇÃO AO TEMPO (1979)
É uma análise sobre a passagem do tempo, de forma profunda e sem pieguice. “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho”, diz a letra, que mostra a passagem do tempo em relação ao desenvolvimento de uma criança. Mas também fala do tempo como um ser divino ao qual todos estamos sujeitos. Bethânia regravou e deu título a um de seus shows.
3 – TIGRESA (1977)
Quem seria a dona de “unhas negras e íris cor de mel”? Caetano nunca revelou quem seria sua musa. A maioria identificou Sônia Braga pelo verso “era atriz e trabalhou no Hair”. Recentemente, foi revelado que a inspiradora teria sido Zezé Motta. Mas o autor colocou mais lenha na fogueira e disse o seguinte, no melhor estilo Flaubert: “A tigresa sou eu!”
4 – PODRES PODERES (1984)
Da lavra política do baiano, e faixa de abertura de seu disco Velô, Podres Poderes expressa a revolta dele em vários sentidos. A letra cita a incompetência da América Católica, ridículos tiranos, motos e fuscas que invadem os sinais vermelhos, burgueses, paisanos, capatazes. Triste é ver que o desabafo continua cada vez mais atual. A política continua a mesma. Ou piorou…
5 – SAMPA (1978)
É considerada até hoje um dos melhores retratos da capital paulista, com suas dores e alegrias. Porque o baiano não ficou na exaltação, destacou também a poluição, a “deselegância discreta de suas meninas”, “a dura poesia concreta de suas esquinas”. Mas reflete como a cidade recebe bem os seus migrantes, como os novos e velhos baianos. “E Narciso acha feio o que não é espelho”.
6 – VACA PROFANA (1983)
Foi composta para Gal Costa cantar, tanto que fala “da voz de uma mulher sagrada”. Mas a letra tem vários recortes, falando sobre religiosidade e destacando a “Movida Madrileña”, movimento artístico espanhol que surgiu após a ditadura franquista. O mais legal é que, apesar de tantas referências difíceis, era cantada a plenos pulmões em qualquer barzinho da noite.
7 – BELEZA PURA (1979)
Caetano diz que a canção destaca a “tomada” de Salvador pelos negros nos anos 70, quando assumiram a sua própria beleza, o jeito de ser. Ele conta que a primeira inspiração veio de uma canção de Elomar, O Violeiro, que fala: “viola, forria, amor, dinheiro não.” A partir daí, louva a música negra, e conta que nunca entendeu o desprezo dos intelectuais pela axé music.
8 – O QUERERES (1983)
A canção continua atual, pois acabou de ser tema de abertura de uma novela da Globo. Caetano fala sobre s contradições das relações amorosas, o que se quer e o que se consegue. O autor revela que a estrutura lembra a poesia de cordel, mas revela inspiração de It Ain’t me Babe, de Bob Dylan, sobre tema parecido. Ou seja, a pessoa amada quase nunca está onde se quer.
9 – UM ÍNDIO (1977)
Modesto (e Caetano consegue ser modesto?), ele revelou que sua maior satisfação com a canção foi conseguir rimar Bruce Lee com Muhammad Ali. “Para mim, isso é o que vale na música”, disse. Porém, a letra fala sobre extraterrestres (algo que ele já havia abordado em Não Identificado e London London). “Oculto quando terá sido o óbvio”, termina.
10 – DESDE QUE O SAMBA É MAIS SAMBA (1993)
Até os sambistas mais tradicionais reconheceram a bela homenagem ao ritmo que puxou o disco Tropicália 2. “É uma celebração, um samba sobre o samba. Gosto muito da idéia de que ‘o samba ainda não chegou, o samba ainda vai nascer’. Nessa canção o samba é um projeto de Brasil, e eu gosto disso”, revelou em entrevista à revista Época. E virou clássico.