O analfabeto mais poderoso do mundo

Um dos mais conceituados jornais do mundo, “The Economist”, dedicou a capa e reportagem especial à “decolagem do Brasil” rumo ao desenvolvimento, já anunciando, para a próxima década, tornarmo-nos a quinta economia do mundo. Estudiosos vão ainda mais longe, considerando as transformações brasileiras, as riquezas do solo, a abundância de água, produção espetacular de alimentos: em 20 anos, o Brasil poderá ser a terceira economia do mundo, apenas atrás de China e Estados Unidos.

A revista “Forbes” indicou o presidente Lula como a 33º mais poderosa personalidade do mundo, ao lado de políticos – do nível de Obama, de Putin, do presidente Chinês – e de grandes empresários e banqueiros. Ora, se considerarmos a sábia e enciclopédica opinião de Caetano Veloso e a disenteria verbal de Arnaldo Jabor, estamos diante de uma situação absolutamente inusitada. O raciocínio é simples: nenhuma das poderosas personalidades citadas é considerada analfabeta. Se Lula é o único analfabeto, eis a espetacular, a notável, a formidável, a transamazônica consagração: Lula é, pois, o mais poderoso analfabeto do mundo.

No entanto, Caetano Veloso e Arnaldo Jabor parecem ter mais prestígio – ou são mais facilmente usáveis – nas redações dos jornalões brasileiros do que todos os grandes economistas do mundo, os chefes de Governo e de Estado. Não adianta “The Economist” enaltecer o Brasil, anunciar a nossa ascensão como país altamente respeitável; nem adianta a revista “Forbes” colocar o presidente Lula como um dos mais poderosos homens do mundo, liderando o nosso país; nem adianta a Inglaterra conceder ao presidente o título de Estadista do Ano; pouco importa se o líder israelense Shimon Perez enalteceu o presidente do Brasil como grande líder, querendo parceria privilegiada. Isso tudo é besteira, se Caetano Veloso, Arnaldo Jabor, Fernando Henrique Cardoso, Arthur Virgílio, o pessoal do DEM, esse antigo PFL, disserem o contrário.

Os gregos clássicos tinham a palavra doxa para definir o que se diferenciava da opinião sólida, opinião a partir do conhecimento. A doxa era a opinião frequentemente oposta ao verdadeiro conhecimento. No Brasil de nossos dias, nos meios de comunicação, a opinião baseada no conhecimento verdadeiro tem sido atropelada por aqueles que apenas dão palpites baseados no “achismo”. Não há necessidade de argumentos, de análises sérias, de conhecimento de causa. Se Caetano Veloso abrir a boca para falar qualquer das suas petulâncias, escancaram-se, para ele, todos os espaços da oposição que nem mais sabe como ser oposição. Se The Economist discordar de Caetano Veloso, é The Economist que está errado. Aliás, há intelectuais brasileiros que se lamentam: “Lula só respeitado no exterior.” Tal qual Obama?

É inacreditável que, nesse momento mágico da vida brasileira, com o mundo de olhos postos no Brasil como exemplo de superação, sejamos obrigados a ouvir conversas de botequim, sempre agradáveis, interessantes, mas apenas de botequim. O que mais estão querendo? Por que não haver um esforço nacional de grandeza, de fervor cívico e, em conjunto, mergulharmos na busca de soluções de problemas que ainda existem e que precisam ser equacionados? Já ouvi amigo meu, professor universitário, chamar o presidente Lula de “molusco”. São gracinhas desse tipo que mostram a irresponsabilidade de pessoas bem qualificadas diante das urgências do país.

Não se pode confundir palpite com opinião, “achismo” com conhecimento. Opinião – incluindo esse artificialismo a que se deu o nome de opinião pública – é assunto sério demais para ser semeado como boato. Seria bom lembrar: “O público não é o povo; a sociedade burguesa não é a sociedade geral; o bourgeois (burguês) não é o citoyen (cidadão) e o público dos particulares não é a razão.” A manipulação da informação deveria ser qualificada como crime hediondo, pois é veneno que mata lentamente.

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