Um camponês canta

O texto abaixo foi publicado em janeiro de 1988 no semanário impresso A Província. Preservamos datas, idades, comentários e gramática originais do texto.

musicais

A PROVÍNCIA publicou, em dezembro de 1987, um “corrido” que se mostrava como prólogo do livro “Extensionista”, de Felipe Santander, prêmio Casa de Las Americas. O “corrido” é música e estilo narrativo popular mexicano, que conta histórias do povo, acontecimentos e biografias de personagens populares. Por que essa publicação? Simplesmente porque aquele canto mexicano de um camponês pode ser, na vida das Américas, o mesmo canto de um caipira piracicabano, revelação de um sentimento do homem universal.

Venho cantar o corrido o de “Tenochtlén das flores”, um povo lindo e querido que permaneceu dormindo por diversas gerações.

E, desse grande torpor, souberam aproveitar-se, aqueles que têm nas mãos toda a força dos tostões e o poder no município.

Porém, com tanta pilhagem, corrupção e clientelismo para onde quer que eu olhar estão deixando bem feio o lugar em que eu nasci.

Por exemplo: lá no campo as hortas estão secando, os milharais vão secando, os charcÓs estão secando, os morros estão secando, até os cães estão secando, as crianças vão secando, as minhas mãos vão secando, logo haverá só deserto!

E, culpem, pois, o povinho, os camponeses , os peões, digam que são eles mesmos que a produção afundaram por idiotas e folgados.

Pois ouçam logo a verdade para não bancarem os bestas: quem vai querer trabalhar se o lucro acaba nas mãos do governo e seus cupinchas?

Eles cuidam do trator com óleo e com gasolina, mas do pobre do peão exigem mais produção só com arroz e feijão.

Pois o que aqui produzimos acaba nas mãos dos gringos; o mel, a fruta e o gado, os legumes e até os grãos, o algodão e o tabaco, café, mariscos e peixes e o presunto defumado e até o gás, mesmo encanado, por isso estamos quebrados!

E ainda tem nossas crianças que desde a mais tenra infância vagueiam nuas, perdidas, tornando-se um dia bandidos pois crescem na vadiagem.

E como assim não seria? ou como pode evitar-se se há mais botecos, biroscas e mais bordéis do que escolas pois rendem melhores lucros…?

Tomara reflexionasses tu, policial, tu, soldado, sendo também explorado da mesma forma que os homens que trabalham com o arado. E que, ao bater no operário, que lutar por seu salário, não estás salvando a pátria mas um monte de canalhas que desgraçaram teu  povo

Mas o povo, um certo dia, cansou-se, ficou de pé, pois viu que estava dormindo, que, em vez de estar tudo bem, estava é bem fodido!

E este corrido termina nem bem a luta começa contra essa antiga injustiça, a corrupção e a avareza pois acabou-se a paciência!

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