Fror pra Rosa de Jesuis.

Quem tivê zóio de vê, zóio de inxergá, há de vê e de inxergá as fror nas água do rio, fror de tuda cor, que bóia e se agarra nas pedra do Sarto. Sem zóio de vê, o nego apenas inxerga e pensa que é limbo, limo, rebordo, pensa inté que as água faiz renda de muié rendera pra agrudá e gudunhá naqueles calhau. Mai num é. É tudo fror de oração: fror amarela, fror azur, fror vermeia e até fruta-cor. Se tivê farta de fror roxa é purque roxo é cor de morrê e, nas pedra do Sarto, as gente vai lá pra agradecê. Cada fror nas água caída é oferenda oferecida de caipira pra Santa que a Igreja esqueceu, que tá viva e num morreu, a dona sinhá que criô sua própria cruiz, e que teve sua própria luiz — tô falano de dona Rosa de Jesuis.

 

Preto véio e nego cafuzo, fio de índio e fiandera de roda de fuzo, sabe do que tô lembrano: Rosa de Jesuis trocô chiquê e riqueza – ela podia tê sido até marquesa – pra cuidá de gente esquecida, dos morfético e morfioso daquela vida, na povoação desassistida e nada formosa, do Capitão Correa Barbosa, terra de canoero e desterrado, de bandido e desgraçado, tudo marcado de lepra leprosa.

 

Tô contano de sabê, cunversa de pescadô, tamém iscuitada dessas história os contadô: Rosa de Jesuis nunca conheceu hóme, no jeito bíbrico de conhecê. Ficô virge e sortêra, muié prendada, muié rendera, fia de pai rico e mãe benzedera. Ela nasceu Rosa e foi oferecida pra Jesuis. No nome dela, ficô um destino: Rosa de Jesuis, que podia sê Rosa da Caridade, Rosa da Bondade, mai tamém Rosa do Coração Partido, doído, Rosa da Ressurreição, da Comunhão, santa Rosa da Anunciação. Nascida em lençor de renda, num quis morá em fazenda, teimô em ficá na marge direita de onde, na bera do rio e à espreita, a cidade nasceu. Lá, Rosa cresceu, Rosa viveu. E, logo debaxo do Sarto, ela fez o que mais queria: uma casinha simpres como a marido da Virgi Maria, a choupana de José, casinha de sapé.

 

A casa virô, conforme me contaro, um verdadero hospitar, tar e quar. Só uma diferença: num tinha a parecença desses sem beleza e alegria, pois dona Rosa, a de Jesuis, fez rosário de Ave Maria com cheiro de açassuiz, um jardim à bera das água, pareceno renda de anágua, cum rosa, cravo e jasmim. E tamém cum miosótis, o “num esqueça de mim.”

 

Dona Rosa, a de Jesuis, cuidô de tudo que é doença, expursô lumbriga, das ferida tirô puis. Foi dotora e enfermera, a nossa médica primera. E ainda mai ela foi: curandera, partera, benzedera. Muié branca, em tempo de escravo, os preto pagava ela com doce de açúca mascavo.

 

Mai – ai que pena, ai que dó! – Rosa de Jesuis foi perseguida e martrada por tudo que é fazendero e tropero – os ancestrar dos usinero — que dela fizero pó. E dona Rosa morreu à bera do Sarto, ninguém sabe se na parte de baxo, se nas pedra do arto. Só se sabe que, quando a arma de Rosa desencarnô, tudo – lá pros lado do Engenho — ficô azur, um véu da cor do céu, tudo azulô.

 

É pur isso – ó, mecê que vê sem inxergá e que inxerga sem vê – que tem pétala de fror sempre boiano nas água do rio, logo ali de quem desce as escada do Mirante. E, inda hoje, burbuiante, o rio canta modinha infeitada de luiz: “Dona Rosa, santa Rosinha de Jesuis, tire dos pobre e dos doente essa dor, essa cruiz…”

 

Quem tivê zóio de vê, zóio de inxergá, há de vê e de inxergá as fror nas água do rio, fror de tuda cor, que bóia e se agarra nas pedra do Sarto. Sem zóio de vê, o nego apenas inxerga e pensa que é limbo, limo, rebordo, pensa inté que as água faiz renda de muié rendera pra agrudá e gudunhá naqueles calhau. Mai num é. É tudo fror de oração: fror amarela, fror azur, fror vermeia e até fruta-cor. Se tivê farta de fror roxa é purque roxo é cor de morrê e, nas pedra do Sarto, as gente vai lá pra agradecê. Cada fror nas água caída é oferenda oferecida de caipira pra Santa que a Igreja esqueceu, que tá viva e num morreu, a dona sinhá que criô sua própria cruiz, e que teve sua própria luiz — tô falano de dona Rosa de Jesuis.

 

Preto véio e nego cafuzo, fio de índio e fiandera de roda de fuzo, sabe do que tô lembrano: Rosa de Jesuis trocô chiquê e riqueza – ela podia etc.

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