As dua Rosa e Rosinha

Num tive curpa, nasci pra ficá escrevinhadô. Rabiscadô de coisarada da memória, da hestória. Mai, por tudo o que se escrevinha – tenha ô num tenha adereço – sempre se paga um preço, sina minha.

 

Nos caminho da vida, nessas estradona perdida, incontrei uns crítico de escrevinhação alheia, pra eles num importa se, no coração do escritô, tem coisa bunita, se coisa feia. E tudos ele me falô, na observança das ignorança de escrevinhadô: “Pur que tem tanta rosa nos jardim que ocê inventa, imagina? Tem rosa demai. Pur que ocê num tenta colocá, cum elas, tamém cravo, jasmim, bonina?”

 

Nunca ponhei arreparo nisso. Mai descobri que rosa é meu vício, tenho que reconhecê. Rosa é meu bem e é o meu mar querê. Tudo que tem de bão, o meió que existe; mai, tamém, o mai feio, o mai triste.

 

Arrespondo e vô contá, num repente de lembrança, de coisa que se passô, na distança, coisa de amá e de odiá. Tá tudo aí, na rosa, fror e praga de meu primero jardim, ai que bão e ai que triste pra mim. Foi três Rosa na minha vida, as primera: uma, a Rosa frêra; a outra, a Rosa bandida; e a Rosa, Rosinha. E óie que nem tô me arreferindo a uma rosa das mais venerada, a Rosa de Jisuis de que inté já falei.

 

Entre essas Rosa tuda, apareceu Deus, como se pra eu aprendê, nos sonho meu, quar dos céu eu ia merecê: o da Irmã Rosa, frêra do colégio, governanta de Jesuis, juíza dos privilégio, vistida de preto e cum véu, metida a dona do mundo e do céu? Ou escoiê otra luta, de carne e de osso e de cruiz, que nem a Rosa dona do hoter, Rosa puta, Rosa do border, muié de poca ropa que parecia vistida de luiz? A Rosa do Hoter Lago num tinha véu, mai conseguia fazê, do inferno, um céu. A Rosa frêra usava véu, vistida como pro frio do inverno. E fazia, do céu, um inferno.

 

Mai Rosa Rosa de verdade, Rosa do coração, foi Rosa Rosinha, namorada minha, moleca do quarterão. Rosa Rosinha, de pé no chão, vistida de chita, tinha boca de rosa vermeia, rosa na oreia, pele de rosa queimada, zóio de rosa fechada, minina levada, a bem amada. Nas lembrança da vida, nas luta, ora, veja: não me ficô a Rosa da igreja, nem a Rosa puta. No coração, lateja a Rosa Rosinha, minha vizinha.

 

Portanto, que os crítico do escrevinhadô intenda. E intenda quem intendê pudé. As rosa de minha lembrança, tudas ela têm nome de muié. Rosa Rosinha, meu bem me qué, meu mar me qué.

Deixe uma resposta