A busca do PETRÓLEO em Águas de São Pedro (I)

A Revista Mirante, nº 9, de novembro de 1957, trouxe importante relato sobre a descoberta de petróleo na nossa região. Confira:

“Um saldo profético

Verá o céu, para o qual aponta esta torre colossal, jorrar
o ambicionado ouro negro em quantidade satisfatória?

A história do petróleo em nossa região vem de longe. Talvez nem se possa precisar com certeza a primeira manifestação de «desconfiança» da existência do ‘ouro negro’ por estas bandas. Contudo, as notícias mais precisas datam mais ou menos de 1923 e devêmo-las ao irriquieto escritor Monteiro Lobato.

Foi ele quem iniciou intensa campanha pela imprensa, denunciando a existência do petróleo na Fazenda Araquá, próxima de Charqueada, município de São Pedro.

Dessa campanha resultaram pesquisas intensivas na região indicada, as quais, por motivos sobejamente conhecidos, ligados à orientação governamental de então, em decorrência da pressão internacional, não puderam ser levadas a bom têrmo, sendo mesmo violentamente interrompidas por ‘ordem superior’. Da campanha e das pesquisas sobrou apenas, além das profundas decepções, um saldo de inestimável valor econômico, social e profético: o estabelecimento de mais uma importante estância hidro-termal no Estado a de Águas de São Pedro.

Em face do que se esperava da descoberta do petróleo, não há dúvida, o saldo parece não passar de um parto da montanha. Convenhamos, porém, que foi muito melhor isso do que ficar inteirameate ‘em branco’. Além de tôdas as vantagens de ordem comercial, medicinal e turísticas, com repercussão positiva na melhora das vias e meios de transportes, Águas de São Pedro, com aquela torre à margem da estrada e próxima ao povoado, surgiu e ficou como prova permanente de nossa primeira crença, entusiasmo e esforço na descoberta do petróleo. Transformou-se num marco vivo, a repetir pelos anos que se seguiram, através de milhares de turistas, uma afirmação que não foi provada porque não o permitiram, mas também não foi contestada. Aquela tôrre, que parece de brinquedo ante a atual erguida na Fazenda Pitanga, durante esse tempo decorrido, como que vem repetindo sem cessar um refrão só : – ‘aqui existe petróleo’.

O engenheiro Andrauss – mágico da real idade

Mas não foi só Águas de São Pedro que ficou repetindo teimosamente o refrão. A estância teve o mérito de mantê-lo vivo e ao alcance de milhares de pessoas, entre elas, naturalmente, entendidos nacionais e estrangeiros, cuja consciência e imaginação viviam empolgadas pelo ‘caso’. Outros locais também ficaram marcados pelos acontecimentos e entraram para a história, permanecendo vivos e atuantes em suas páginas. É o caso da fazenda São João do Araquá, que chegou a celebrizar-se tanto quanto a atual Pitanga, falando-se, naqueles tempos, com insistência, no petróleo do Araquá ou da região do Araquá.

Não longe dessa Fazenda, surgiu um bairro famoso do qual se contaram e ainda se contam maravilhas – o do Querozene, também no município de São Pedro. Sabe-se que os brejos, nesse bairro situado ao sopé da serra, ‘pegavam fogo que ficava aceso dias’ e que no estrume do gado vacum e suíno de seus pastos notavam-se «uma graxa e cheiro de querozene’. Daí o nome do bairro, que não deixa dúvida quanto aos indícios evidentes. Tudo isso revela, não obstante os tampões oficiais de cimento e a proibição das pesquisas que nem o estado novo nacionalista, em seu ‘curto período’, conseguiu remover a crença no petróleo. E a volta do país à liberdade democrática incumbiu-se, embora tarde, de fazer surgir o mágico que desencantaria a realidade, escondida por um tabú com 30 anos de existência. Esse mágico foi o engenheiro patrício Roberto Andrauss.

O doutor Andrauss, numa reportagem desta natureza, tem o direito, por justiça e gratidão, de figurar como personagem central do auspicioso acontecimento que veio reviver a luta pela descoberta do petróleo em nossa região. Movido por elevado espírito de aventura, tendo a alicerçá-lo a chama de sadio idealismo e patriostismo, e de puro amor à pesquisa do sub-solo, tudo isso calcado na velha crença de que ‘aqui existe pretóleo’, o engenheiro Roberto Andrauss, sozinho, gastando somas fabulosas de seu bolso generoso, auxiliado por alguns técnicos tão idealistas, quanto ele, sem alardes, meteu mãos à obra de perfuração de um poço no bairro do Recreio. Serviço particular, com maquinaria modesta, conquanto caríssima para um bolso só, levou meses para produzir resultados esperados. Mas produziou-os e brilhantíssimos.”

*CONTINUA

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