A mítica “Loca de Pedra” que não deixou vestígios

Não há registros fotográficos da “loca de pedra”, local que se tornou lendário à beira do rio Piracicaba, nas proximidades de onde, hoje, se encontra o Hotel Beira Rio. O único registro iconográfico que restou foi uma pintura de Fortunato Losso Neto, óleo sobre cartão, 21x16m, datada de 1930, preservada na coleção particular de Marcelo Batuíra Cunha Losso Pedroso, neto do pintor, médico e jornalista. (A foto do quadro é do livro de Marcelo Batuíra, “De Piracicaba a Nitcheroy”, sobre a vida e pintura de Eugênio Losso e Losso Neto.)

João Chiarini, em sua coluna de “Memórias”, no jornal “O Diário” descreveu a loca de pedra, na edição de 18 de maio de 1980. São estes os principais trechos:

“A ‘Loca de Pedra’ existiu à rua Luiz de Queiroz, entre as ruas Monsenhor Manoel Francisco Rosa e Cristiano Cleopath. O único registro que ficou foi uma tela pequena, pintada por Fortunato Losso Netto, que o fêz antes de ingressar no “Jornal de Piracicaba”. Era um sobradão comprido. Feito de pedras curugas, com reboco nos ajustes. Havia várias residências, geralmente,

ali moravam filhos de ex-escravos. Embaixo existia a venda de Ângelo Nozela. Na parte de cima da quadra, encontrava-se a chácara de Hans Rehder. As portas levavam às sacadas, podendo ver-se o salto, pois, se não tinha construído a Estação de Tratamento da Água, à rua Luiz de Queiroz.

Via-se a Caixa D’Água, a primeira, que foi demolida, porque diziam que ela “dava tifo”. Era um enorme reservatório, quase à cabeceira do Salto, mas no seu lado esquerdo, pouco acima do “Pisca”. Olhava-se, também, o “Canão Vermelho”, que levava a água do segundo reservatório à Usina Elétrica – a primeira multinacional que entrou aqui, a “The Brazil Southern Eletric Company” – que recebeu o Salto, para sua exploração, mais a primeira caixa, mais a segunda, através da ação mais antipática, injusta, antipiracicabana que existiu, o contrato da Eléctrica com duração de 30 anos.

Entre o Canão, corria a água dos dois lados, que saía pelo ladrão. Em cima dele, a gente pescava dos dois lados. Eram mandis amarelos, piavas, lambaris, de rabos vermelhos e até tuviras. Com o contrato, ninguém mais podia chegar na área da Elétrica. Havia guardas dia e noite. E a pesca de vara acabou no Canão, na Caixa nº 2, no Pisca. Com o serviço de tratamento de abastecimento de água, houve mais um motivo para a derrubada da Caixa 1. Esse serviço é obra de José Rodrigues de Almeida, então prefeito. Começou a ser servida à população, a água filtrada, em 1º de agosto de 1931. Paralelamente, bloqueava, a princípio, com pedras curubas, formando um paredão para a retenção d´água, forçando-a a deslizar até a Casa das Máquinas. Mais tarde, as pedras foram cimentadas, contrariando as leis sobre terrenos da Marinha, que ali nunca foram terrenos da marinha.”

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