Pioneirismo de Piracicaba também no cinema. Desde 1896

O pioneirismo de Piracicaba, em todas as áreas, é empolgante. Um mergulho na história torna ainda mais forte a paixão por esta terra. Também na instalação do cinema essa visão antecipada piracicabana é notável. Cita ao Almanak Paulistano:

“Houve época em que, à semelhança das igrejas e dos campos de futebol, os cinemas faziam parte da paisagem interiorana. A paixão pelos filmes, levados inicialmente a todos os cantos pelos exibidores ambulantes, fez do cinema local uma questão até de honra.

Piracicaba, parece, foi a primeira cidade interiorana a ver a exibições de filmes em 1896, apenas algumas semanas após a chegada do cinema ao Brasil, com as primeiras exibições feitas no Rio (julho) e em São Paulo (agosto)

Naquele final de século XIX (1896), a 23 de outubro, a Gazeta de Piracicaba noticiava: “Cinematógrafo. Tem sido muito freqüentada a exposição deste instrumento fotográfico no salão contíguo ao Chops. No primeiro dia, houve um aperto dos diabos para conseguir entrada no salão e parece que tem continuado a mesma freqüência”.

Os primeiros exibidores locavam um ponto por alguns dias e, após esgotada a freguesia – ou esgotado seu estoque de filmes – , partiam atrás de novas praças. Também os circos de cavalinhos acrescentaram os projetores às suas atrações.

De chapéu na mão

Freqüentemente, entretanto, não dispunham os ambulantes de suficiente renda para alugar um ponto. Às vezes, simplesmente, tomavam uma praça, instalavam tela e projetor ao ar livre e, no final das sessões, estendiam o chapéu para recolher alguma paga.

Perfume

Por volta de 1908, começam a pipocar os cinemas fixos, casas usadas por períodos mais longos e já apresentadas como “empresas”. São 150 cidades paulistas que já podem orgulhar-se da novidade em 1910. Constituíam-se esses primeiros cinemas em barracões improvisados, sem comodidades, sufocantes nos dias de calor. Para amenizar o ambiente, alguns exibidores mais escrupulosos espargiam perfume na platéia.

Urbanidade

Havia outros gestos de urbanidade. Um deles consistia em exibir na tela letreiros com saudações ao público. Crianças ganhavam balas e bombons nas matinés.

Folhetos

Molhava-se a tela antes das exibições com o uso de uma vara chamada canudo. As projeções eram feitas por trás da tela. Nas ruas, distribuíam-se folhetos com a sinopse dos filmes. Por inabilidade dos redatores, ou para aguçar a curiosidade do público, os textos dos folhetos parece que vinham cifrados.

Ruídos

Um conjunto musical (“orquestra”) tocava música conforme o filme. Pessoas, quase sempre crianças, encarregavam-se dos “efeitos sonoros”. Cocos batidos ao chão imitavam passos de cavalo, papéis laminados torcidos davam idéia de trovões. Um contra-regra, chefe da equipe, dava a ordem para os sons. A equipe ocultava-se atrás da tela.

Fita

Filme podia ser igualmente fita. Chamava-se de “abacaxi” ao filme ruim. Falava-se em “enchente” para designar a grande afluência do público. O cinema ficava então “à cunha”.

Paixão

Nem sempre, o negócio de filmes revelou-se muito rentável. Afora, entretanto, o aspecto econômico, o ramo da exibição respaldava-se na paixão. E não só pelo cinema em si. Também a paixão partidária movimentava o ramo.

Pioneirismo de Piracicaba

Depois da apresentação “do cinematógrafo”, O Teatro Santo Estevão, localizado onde hoje é a praça José Bonifácio, constituiu-se num confortável pouso para os ambulantes cinematográficos que trouxeram os primeiros filmes à cidade. Com pedra fundamental lançada a 23 de setembro de 1871, o velho teatro que só desapareceria com quase oitenta anos, já em abril de 1887, receberia um precursor do cinema, um projetor de quadros apresentado “sob a influência da luz elétrica”… “sendo que uma pessoa explica aos espectadores todas as mutações”, escrevia a Gazeta de Piracicaba no dia 7de abril daquele ano. O espetáculo era apresentado pelo empresa do sr. Kahurt que, mais tarde, seria um dos mais ativos ambulantes cinematográficos a percorrer o interior paulista.

Os espectadores precisavam levar suas cadeiras, já que o lugar não oferecia tais comodidades. Entretanto, as sessões cinematográficas, pouco a pouco, tornam-se freqüentes no velho teatro. Em junho de 1899, lá se exibia o ambulante Faure Nicolay, com um projetor de imagens, já tornado complemento indispensável às companhias artísticas. Outro ambulante, Magno Cumea, em abril de 1900, apresenta o seu “silphorama”, outro nome sibilino dos muitos dados aos aparelhos de projeção na época.

No clube

O Clube Piracicaba começa em 1906 a fazer freqüentes exibições cinematográficas. Nesse mesmo ano, o Eden Cinema de Antônio Rigo garantia que o cliente podia ressarcir-se do preço do ingresso, com sorvete e cerveja gelada. No dia 7 de maio de 1910, chegou à cidade a cia ambulante do sr. Brás Pepe que tinha um cinematógrafo falante: conforme as imagens apareciam, os integrantes dialogavam e cantavam. Tomavam parte, além do maestro Brás Pepe, Francisco Pepe, Maria Barcelos, o operador João Rublis e o garoto Raul, de seis anos e meio (irmão de Santiago Pepe, ator de alguns dos primeiros filmes paulistas). Raul Pepe tornar-se-ia galã de Hollywood na década de 20, com o pseudônimo de Raul Roulien.

Novelo

Como a Capital e muitas cidades do interior, Piracicaba teve o seu Bijou por volta de 1910. O Teatro Santo Estevão muda freqüentemente de concessionários para as exibições cinematográficas e o resultado é um novelo difícil de desenrolar. Em 1910, a empresa Canto & Muller está ali com seu Teatro Cinema. No ano seguinte, a empresa e cinema mudam de nome (Muller & Costa e Iris Teatro), mas em 1915, Luppelt e Cia. aparecem como donos de um Teatro Cinema (seria o mesmo?). Entretanto, o Iris continua a aparecer, agora do sr. Castro e Franco (seria o mesmo Iris de 1911?), enquanto Lippelt & Cia. inauguram o Radium Cinema. Acontece que em 1911, já havia um Radium Cinema, de propriedade da empresa Claes e Franco.

Broadway

Uma coisa é certa: na década de 20, a empresa JB-Cinemas do Interior, de João Burlamaque, criador do cinema Broadway da Capital, passa a ser dona de todos os cinemas de Piracicaba, incluindo o mais tradicional deles, o Politeama, cujo gerente, o sr. Campos, tornou-se figura querida da comunidade. Surge também o Broadway piracicabano. A história cinematográfica da cidade registra ainda outro cinema muito tradicional, o Central.

Outros cinemas famosos

Outros cinemas famosos encantaram os piracicabanos: o Cine Teatro São José, em prédio ainda existente, que começou a funcionar em 1927 e onde estreou o primeiro filme sonoro, “O Pagão”, em 24/10/29. O Cine Palácio, de Francisco Andia, que se tornaria, à época, o maior cinema do interior e o primeiro a ainuguar a projeção em três dimensões, em 1954, com o filme “Museu de Cera”. Do mesmo Francisco Andia, os cines Colonial e Paulistinha e o Plaza, destruído com a queda do Edifício Luiz de Queiroz (Comurba), em 1954. Foi reinstalado, também, o cine Politeama, ao lado do atual Banco Bradesco, fronteiriço à Praça José Bonifácio.

(V.Memorial de Piracicaba-Almanaque 2000, de Cecílio Elias Netto)

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