Cacilda: de “Filha de Maria”, a dama do teatro
Nas lembranças e arquivos do jornalista S.FERRAZ, estão os momentos da retomada do teatro amador piracicabano na década de 1950. O cultivo ao teatro existia desde o início do século. Leandro Guerrini e Jaçanã Altair, nos anos 20 e 30, colhiam admiração com suas peças teatrais e radiofônicas. Depois, houve um hiato. Até que, na década de 50, com o Departamento Municipal de Cultura e no governo de Samuel de Castro Neves, o teatro piracicabano renasceu.
“Cacilda Azevedo (depois, Azevedo Cavaggioni) foi a nossa grande estrela” – diz S. FERRAZ, ele, também, ator que se consagrou nas salas piracicabanas, tendo Cacilda como parceira principal. Eles eram o “par romântico” da cidade. “Os Azevedo eram uma família de artistas, teatral. Bráulio de Azevedo, irmão de Cacilda, era humorista nato. E tiveram um sobrinho, o Roberto Azevedo, que se consagrou nos teatros brasileiros.” – conta S. FERRAZ, selecionando fotos e recortes de jornais em seus arquivos.
Neles estão Cacilda Azevedo e ele próprio, em peças aplaudidíssimas em Piracicaba e em outras cidades: “O amor que não morreu” e a inesquecível “Iaiá Boneca”, de Ernâni Fornari, entre outras. A direção era de Leandro Guerrini e havia outros atores piracicabanos – amadores, mas com requinte profissional – como Guilherme Vitti, Amadeu Provenzano, Maria Olívia Sampaio.
Cacilda,o paradoxo
Cacilda Azevedo Cavaggioni foi uma das mulheres mais paradoxais de Piracicaba, uma das primeiras feministas, mas a seu modo. Era “Filha de Maria”, católica convicta, pertencia a grupos da Ação Católica e Congregados Marianos e, no entanto, assumia o pioneirismo de ter sido a primeira mulher-radialista em Piracicaba, atriz de teatro desde a juventude, iniciando-se com “Joaninha Buscapé”.
S. FERRAZ conta o que poucos piracicabanos sabem: “Quando a peça ‘Joaninha Buscapé’ foi apresentada em São Paulo, um grupo de atores do antigo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) viu a interpretação de Cacilda e, entusiasmado, foi indicá-la para o diretor Jim Moretti, que estava à procura de alguém que fizesse personagens ingênuos. Cacilda era a atriz ideal e Jim concordou. Mas desaconselhou a sua contratação apenas por um motivo: Cacilda era menina de família tradicional e jamais iria se profissionalizar.”
Com S.FERRAZ e Cacilda, tendo Leandro Guerrini como diretor, Piracicaba viu renascer um momento glorioso do teatro amador, que, a partir de 1950, tomou novos rumos.