Comércio piracicabano: perdendo terreno para cidades vizinhas?

Que estudos existiram hoje a respeito da relação entre os piracicabanos e o comércio local? A Unimep fez, no início do século, um estudo que merece, ainda, registro para efeito de reflexão. É o que segue:

Em 2001, Piracicaba contava 2.947 estabelecimentos comerciais, que respondiam pelo emprego de 15.223 pessoas. Da arrecadação do ICMS, 22% são resultantes justamente do movimento do comércio, segundo informações veiculadas pela Prefeitura Municipal de Piracicaba segundo informações veiculadas pela Prefeitura Municipal de Piracicaba.

Mas o comércio varejista enfrenta problemas. E justamente na tentativa de estabelecer novas oportunidades mercadológicas a partir de um diagnóstico mais preciso de seu quadro atual, a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba, numa parceria com a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio, incumbiu a UNIMEP de desenvolver uma pesquisa nesse sentido. O trabalho foi desenvolvido pelos Profs. Nádia Kassouf Pizzinatto e Francisco Crócomo, do curso de Economia da Universidade, que realizou vários encontros com lojistas locais para expor os resultados. Do trabalho, muitas são as informações que poderão orientar empresários e grandes lojas em suas perspectivas de expansão ou sobrevivência.

A mais preocupante, entretanto, não deixa quaisquer dúvidas: o comércio de Piracicaba não atrai as atenções de consumidores de cidades vizinhas. E pior, perde muitos de seus clientes para cidades da região, como Santa Bárbara D’Oeste, Limeira e Campinas, com shoppings centers que conquistaram a preferência do consumidor piracicabano.

O problema é que tal tendência já fora denunciada há alguns anos, justamente quando um outro grupo de economistas da UNIMEP concluiu o programa Piracicaba em Dados, desenvolvido em parceria com o SEBRAE. Em 1998, quando sua divulgação foi formalizada, um dos aspectos que caracterizavam a análise apresentada era justamente a fuga de consumidores em busca de compras nas cidades vizinhas. O total de estabelecimentos da cidade – incluindo indústria, comércio e serviços – somava, em 1997,5.212 unidades. A maior concentração de lojas estava na área de vestuário, com 550 unidades. No ano anterior, segundo o Ministério do Trabalho, o comércio fechara 628 vagas na cidade e o ano se encerrava com 10.247 pessoas empregadas no setor.

O alerta dado, entretanto, àquela época, pouco parece ter repercutido entre empresários. A situação continua se repetindo.

Uma cidade que prefere o centro ao shopping

A pesquisa realizada em dezembro de 2002 – portanto já em época de compras intensas que poderiam ter inclusive levado maior número de consumidores às lojas – ouviu 750 consumidores, nos vários pontos comerciais da cidade, assim como 150 empresários de 14 ramos de atividade. 52% eram homens e 48% mulheres, entre os empresários, sendo 29,33% deles os próprios proprietários das lojas; 50,67%, gerentes e 20%, encarregados. Os consumidores se dividiram entre as classes de renda familiar A e E, concentrando-se, num percentual de 81,8%, numa renda familiar até R$ 2.000,00.

De fora de Piracicaba, foram detectados apenas 2,9% dos consumidores, além de 1,73% vindos da zona rural. Ou seja, o comércio não pode se considerar um pólo de atração regional. E, destes 2,9% encontrados, 82% buscavam no centro os produtos desejados, sendo, a grande maioria, proveniente de Rio das Pedras e São Pedro.

A pesquisa, entretanto, também dá margens a outros dados que devem merecer atenção de empreendedores: o pouco impacto que o Shopping Center Piracicaba exerce sobre a população piracicabana que, em sua grande maioria — caso a pesquisa seja um retrato fiel da realidade – opta pelo Centro da cidade para realizar suas compras. Uma análise que certamente complica ainda mais as considerações a respeito do Shopping já que, tanto consumidores como empresários, não economizam críticas às condições do próprio centro piracicabano, parecendo conhecerem detalhes seus problemas e indicando as providências que deveriam ser efetivadas.

A síntese parece simples: “o Centro é local de compra para tudo”. Já o Shopping se desenhou como um espaço mais elitizado, cuja maior concentração de vendas se dá no ramo de jóias. Os seus freqüentadores apontam, entretanto, como motivos para ali estarem, questões como amplitude no horário de atendimento, maior facilidade de estacionamento, justamente os problemas maiores do Centro.

Neste quadro, o centro da cidade continua sendo uma grande Babel. A pesquisa detectou ali consumidores de praticamente todos os bairros da cidade, embora nesses locais também floresçam novos corredores comerciais, dos quais o mais evidente é o do Dois Córregos. Já nos bairros permanecem com mais vigor as compras de conveniência, como medicamentos, frutas e verduras, carnes, miudezas e material de construção.

Como melhorar

Consumidores e empresários parecem concordar em vários itens no que se refere aoFotos do centro de Piracicaba, Tiago Guttierrez,2003 que possa afetar a qualidade do comércio local. Para 58% dos empresários, ela viria com medidas de segurança, seguidas por facilidades de estacionamento (49%) e de locomoção dos pedestres (28 %) e treinamento de funcionários, assim como melhoria da aparências das lojas. No caso dos consumidores, a segurança também parece ser a maior das preocupações, indicada como prioridade para 62% dos entrevistados. As outras melhorias, em ordem decrescente, deveriam ocorrer em questões como preço e crediário (59%), circulação de pedestres (51%), facilidade de estacionamento (42%), formas de atendimento (39%), conforto (33%) e aparência das lojas (14%).

O que, na prática, isso representa acaba gerando leituras diferentes. Para 98% dos entrevistados, a melhoria da segurança foi visualizada como aumento de policiamento.

Mas no caso do conforto para compras, isso representou desde aumento do tamanho das calçadas até a introdução de calçadão exclusivo para pedestres no centro da cidade. No caso da melhoria do trânsito, muito sindicam a extinção da Zona Azul, outros tantos reclamam do preço dos estacionamentos.

Mas a facilidade reclamada praticamente por quase todos se dá com relação ao horário de atendimento. 90,67% dos consumidores desejam o comércio aberto das 8:00 às 20:00 horas, de segunda a sexta-feira, e, até as 18:00 horas, aos sábados. E mais: farmácias, padarias e supermercados deveriam funcionar 24 horas por dia, de segunda a sábado, para mais de 80% dos entrevistados, que também desejam um horário mais ampliado no setor bancário.

Enquanto nada disso ocorre, é possível que grande percentual continue buscando os shoppings de Santa Bárbara D’Oeste, Limeira e Campinas, para compras, especialmente, de eletroeletrônicos, presentes, roupas masculinas e femininas para adultos.

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