Herança de Rocha Netto, “In Memoriam”

IRMÃOS ROCHA E O FUTEBOL DE BOTÃO (2)

Em 1919, dois anos após a morte de seu pai, Rocha Netto, então com seis anos, transferiu-se de Itu para Piracicaba, acompanhando a mãe e os outros três irmãos. A escolha por Piracicaba deve-se ao fato de ser esta, a cidade na qual já residiam os familiares maternos do futuro jornalista.

Na Noiva da Colina, o lugar escolhido para viverem foi a casa n.º 25, localizada próxima ao centro da cidade, à antiga rua Saldanha Marinho (hoje rua São Francisco de Assis), entre a Rua do Comércio (hoje Governador Pedro de Toledo) e a rua Boa Morte. Mudaram-se para cá Euphrosina, Adalberto, Delphim e Weimar. Francisco, o mais velho dos irmãos, permaneceu em Itu para completar o curso primário.

Apesar da distância, o garoto nunca perdeu contato com os parentes que moravam em outras cidades do interior, vizinhas a Piracicaba, como Itu, Pirajuí, Rio das Pedras ou ainda na própria capital, São Paulo. Após a mudança para cá, sua família promovia encontros entre os familiares. Seus primos, alguns residentes em São Paulo, regularmente o visitavam e nessas ocasiões, traziam os jogos e brincadeiras que eram “moda” na terra da garoa.

Entre os chutes dados naquela rua de terra com as bolas feitas de meia e disputas de bolinha de gude, o menino Rocha Netto se encantou com uma novidade: um jogo diferente trazido pelos primos de São Paulo.Tratava-se do futebol de botão, na época febre entre os garotos paulistanos e que após ensinada a Rocha Netto e seus irmãos, começou a deslanchar e rapidamente também se tornou mania em Piracicaba.

Aprendido o jogo com os primos, Rocha e seus irmãos reuniam os amigos e vizinhos e promoviam verdadeiros festivais e torneios de futebol de botão, ou o “celotex” como era conhecido na época. Os campeonatos aconteciam na casa dos quatro garotos. O ponto de encontro para as emocionantes partidas de celotex, eram a sala e a copa de D. Euphrosina, sua mãe, que se transformavam em autênticos estádios de futebol, tanta era a empolgação dos craques do jogo de botão.

O jornalista contava que conseguiu convencer a mãe de que era preciso trocar a parte superior de uma grande mesa da sala, para facilitar a prática do jogo. “Mas não foi preciso mexer na mesa, pois ela foi muito bem lixada e acabou servindo perfeitamente para a finalidade desejada. É claro que nossa mãe não gostou muito, mas nos atendeu e era isso que nos importava”, lembrava ele.

Naquele tempo, os botões utilizados no jogo eram os comuns que poderiam ser pretos, brancos ou coloridos, facilmente encontrados em qualquer loja da cidade. “Eu e meus irmãos usávamos anilina para colorir os botões brancos, dando a eles as cores dos dez times que reinavam na capital e que disputavam o Campeonato da Extinta Associação Paulista de Sports Atléticos”, contava, acrescentando que os times famosos na época eram o CA Paulistano, o Palestra Itália, o Corinthians Paulista, a AA São Bento, o Santos FC, a AA das Palmeiras, o CA Ipiranga e a AA Mackenzie College, entre outros.

As bolas utilizadas poderiam ser feitas de diferentes materiais como madeira, de cera (as melhores) e até mesmo as “salta martins” (caroço elástico de uma frutinha silvestre). As balas de futebol que serviam como figurinhas nos botões, eram expostas nos estabelecimentos em grandes vidros redondos, com amplas bocas, e os donos dos locais, pacientemente, deixavam que os garotos esparramassem as balas nos balcões para escolher as figurinhas inéditas dos jogadores.

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