Memória – Centro Cultural Martha Watts (8)

Reproduzimos, em capítulos, um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano – trajetórias que influenciaram a educação do Estado de São Paulo, no final do século XIX. Este conteúdo foi reunido na publicação que comemorou a inauguração do Centro Cultural Martha Watts.

 

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Empresário Raul Coury entrou no Colégio com nove anos, em 1935.

65 anos depois, o reencontro

 Raul Coury chegou ao colégio aos nove anos de idade. Era 1935 e ele entrava no terceiro ano primário. Dos 11 anos no colégio, quatro foram passados no internato masculino, que acabara de ser inaugurado no ano anterior. O ex-aluno tornou-se, mais tarde, o bem sucedido empresário do segmento de açúcar e álcool, ocupando a posição de presidente e sócio-proprietário das usinas Santa Helena, Bom Jesus e São José, entre outras.

Entre suas mais caras lembranças está a professora que o orientou durante o terceiro e o quarto anos do primário: Lucy Pyles. Ela foi uma das quatro alunas a se formar no último “curso americano para moças”, em 1933. Aos 88 anos, a barbarense Lucy vive, atualmente, nos Estados Unidos. Seu ex-aluno sabe disso porque conseguiu localizá-la no ano retrasado. “Foi a professora que marcou minha vida: era enérgica e exigente, mas sempre muito doce.”

O empresário surpreendeu a professora mandando-lhe uma foto de toda a classe ao lado dela, descrevendo Raulzinho, como era chamado, para lhe avivar a memória: “Eu era magro, mais alto que o normal, pele clara, olhos esverdeados… irrequieto, falante, chegava a perturbar a aula, mas não era deseducado”. O mesmo envelope levou junto fotografias que contaram a continuação de sua história depois de deixar o Colégio: sua família, seu lar, suas empresas, a fazenda.

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Raulzinho Coury na turma da professora Lucy Piles, que vive nos EUA.

Patrimônio recuperado

 “Fantástico. O Colégio Piracicabano, hoje, é o colégio que eu conheci. Antes, estava desnaturado: eu passava e olhava aqueles vitrôs basculantes que não me diziam nada… Aquelas janelas e as grades eram marcantes. Recuperadas, elas acentuaram bastante a lembrança da época.”

A da antiga fachada estimula um pedido do ex-aluno: o retorno das placas indicativas de que as duas palmeiras, que ladeiam a entrada principal, foram plantadas pelas professoras e irmãs Ida e Helena Schalch. “Não sei quando as palmeiras foram plantadas, mas elas são, no mínimo, da década de 20.”

A importância desse trabalho de restauração é expressa na indignação de Raul Coury com o atual prédio principal do Colégio, o Edifício Centenário, cuja edificação significou a demolição da Trinity Church – construída em 1885, na esquina da Rua Boa Morte com a Rangel Pestana. O prédio original da igreja já tinha sido descaracterizado, com a retirada de sua torre, para dar lugar a salas de aula. Raul estudou no Edifício Trinity. “A nova construção é uma violência, agride minha memória e minha visão: não tem nenhuma relação com o estilo do Colégio.”

As paredes do Colégio também registraram algumas das mensagens que nortearam o ex-aluno: “A delicadeza é a chave que abre todas as portas”, estava escrito no Salão Nobre, no primeiro lance de escadas, que levava à Biblioteca, em uma de suas galerias. No Edifício Trinity, na parede externa do laboratório, voltada para o recreio, outra frase: “O fumo embota o espírito”. Raul concordou e nunca fumou. Talvez, a recomendação já estivesse gravada há tempos: em 1891, a Sociedade da Temperança foi fundada com o apoio de Miss Watts, que já se preocupava com o tabagismo e o consumo de álcool.

E tão presente na memória de Raul quanto os tempos de Colégio é o estímulo de seu pai aos estudos: “Ele sempre me dizia que o mais importante é a educação, a cultura, o diploma. Isso ninguém tira da gente.”

Acompanhe outros capítulos da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano, seguindo nossa hashtag Memória Martha Watts.

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