No Bairro Alto, também o nome “Bairro dos Alemães”

O professor Guilherme Vitti ainda é, já tendo ultrapassado os 90 anos, um dos grandes estudiosos de Piracicaba, historiador, memorialista, latinista. Os arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba sempre foram objeto de suas pesquisas,que já renderam farto material de caráter histórico para os piracicabanos. É dele um estudo sobre o nome “Bairro dos Alemães”, que segue:

“Boa parte da área citadina, com o nome de Cidade Alta (antigo Bairro Alto), tem a designação, aliás em franco esquecimento, de “Bairro dos Alemães”. Qual o motivo desse nome a essa área, localizado ao Leste da Cidade, em relação ao centro? Em meados do século XVIII, apareceram, nesta região, imigrantes da Alemanha e Suiça, que vieram procurar serviços em fazendas do município de Piracicaba e vizinhanças, principalmente na colônia São Lourenço, propriedade do cidadão Luiz Antônio de Souza Barros. (NR: Trata-se do Brigadeiro Luiz Antônio, uma das principais fortunas da época, governante de São Paulo, senhor de engenho e grande proprietário de terras em Piracicaba). A maioria não se adaptou ao serviço da lavoura, procurando, então, trabalho na cidade, já que alguns tinham conhecimento de ofícios de marcenaria, relojoaria e mecânica. Andaram um tempo trabalhando no serviço público, na construção de pontes e consertos de estradas.

Apreciando o povo pacato da região, resolveram fixar-se de vez na cidade, adquirindo lotes para a construção de suas moradias, o Norte da então estrada de Monte Alegre, hoje Avenida Carlos Botelho. Terrenos devolutos, nas cercanias da crescente urbe, eram numerosos e isso levou-os a solicitarem, à Câmara Municipal, lotes na parte alta da cidade. Em janeiro de 1853, diz a ata do dia 8, que os alemães apresentaram dez requerimentos, pedindo data (área de terras) para pagarem em serviços feitos à própria Câmara. A edilidade aceitou a proposta mediante contrato.

Entre os primeiros sobrenomes alemães aparecem: Melch, Fisher, Kupfer e outros, sendo alguns de profissão médica, engenharia, farmácia, relojoaria e artes mecânicas. Alguns deles instalaram- se na rua Rangel Pestana que, antes, se chamava, justamente, Rua do Ourives.

Tendo aumentado o número de seus descendentes, houve necessidade de cemitério próprio, já que, por serem de crença protestante, estavam impedidos de enterro na necrópole, que era oficialmente católica. Por isso, solicitaram um terreno para esse fim, tendo sido aprovado um local que, atualmente, corresponde ao ângulo do cemitério da Saudade, que confronta com a Avenida Independência e Rua Moraes Barros, com área de 17 metros de frente e 45m de fundo.”

Ainda segundo o professor Guilherme Vitti, há um ofício, de 11 de outubro de 1893, que os peticionários se identificam como moradores do “Bairro dos Alemães, na rua do Rocio”, pedem abertura daquela rua. Quase todos têm sobrenomes alemães ou suiços: José Fischer, Martinho Hebling, Carlos Diehl, Jorge Fischer, Philippe e Carlos Fischer, Bento Vollet, Jorge Henrique Schmidt.

( Foto: Av. Independência em 1933, nas proximidades do Cemitério da Saudade.)

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