Piracicabanos de sucesso lá fora: JAMIL MALUF

No ano de 1988, o Semanário A PROVÍNCIA trouxe reportagem sobre Jammil Maluf, maestro de sucesso dentro e fora do Brasil. Confira:

Um dos mais brilhantes maestros do Brasil

A cidade pode se orgulhar de possuir um dos mais brilhantes maestros do Brasil: Jamil Maluf. Nascido em Piracicaba, filho de Jamil e Talge Maluf, esse sagitariano desenvolveu junto à Orquestra Sinfônica Jovem do Teatro Municipal de São Paulo um excelente trabalho de popularização da música erudita, seu maior objetivo, desde 1981.

“Existe um forte preconceito no Brasil de que a música erudita não possa ser popularizada. Esse preconceito se disseminou em uma determinada época e é uma visão errônea e demagógica”.

Maluf contrapõe a isso a grande aceitação que as orquestras têm quando se apresentam em lugares públicos. “Quando fui tocar pela primeira vez no Parque Ibirapuera, sugeriram que tocasse Danúbio Azul e O Toreador, por serem obras mais populares. Faço exatamente o contrário e é um sucesso”, lembra-se Jamil.

Desenvolvendo desde 83 em São Paulo o Projeto “Série entre outros sons”, onde a orquestra jovem toca com músicos populares como Hermeto Paschoal, Arrigo Barnabé, Tetê Espíndola, Vânia Bastos, Premeditando o Breque, Pau Brasil e ltamar Assunção, Maluf conseguiu um forte apoio da imprensa, divulgando seu projeto e a música erudita.

Na TV Cultura, Jamil apresentou o programa Primeiro Movimento que é um misto de concerto e variedades. Descontraído e de altíssima qualidade, o Primeiro Movimento já alcançava o terceiro lugar na audiência em apenas quatro meses. Apresentou também dois programas na Rádio Cultura, um diário, Palheta, e um semanal, Fraque & Claque, onde pessoas desconhecidas ou não, como Beatriz Segal, Paulo Autran entre outros, falavam sobre a influência da música em suas vidas.

Esse maestro “‘heterodoxo” gosta de tocar músicas de qualquer período e acha um erro a especialização do músico. “Toco desde Bach até Philippe Glass. O potencial do músico é infinito”, diz o maestro piracicabano.

Na Alemanha, a inclinação pela música foi espontânea e um pouco por influência da família, já que seu pai queria que cada filho tocasse um instrumento. Seu primeiro instrumento foi a sanfona, cuja formação adquiriu em Campinas. Porém, não tinha muito interesse em ser sanfoneiro, dedicando-se mais às aulas de piano que seu irmão tomava.

Maluf revelou que até aos 17 anos – sua primeira fase, em Piracicaba – estava confuso; grande admirador de Edu Lobo, compunha músicas semelhantes às dele. Posteriormente, já em São Paulo, o maestro se apaixonou pelo que é a base para os seus trabalhos: a música erudita, que ele considera “mais formal”. Durante quatro anos na Capital, Maluf participou de vários cursos livres na área, preferindo-os às faculdades onde a matéria é lecionada, por considerar baixo o seu nível de ensino.

Com o propósito de se firmar na carreira, Maluf foi para a Alemanha, através de uma bolsa de estudos, se aperfeiçoar em música erudita. Chegando lá, a bolsa dançou. “Recebi uma carta que começava dizendo assim: ‘Infelizmente .. .’ Uma carta assim, a gente nem acaba de ler”.

Apesar desse acidente de percurso “tragicômico”, segundo ele, não desanimou. Conseguiu sobreviver dando aulas de piano e graças à ajuda da família. Dois anos depois, ganhou uma bolsa do governo alemão e estudou na Escola Superior de Música durante sete anos, tornando-se maestro. “Eu não nasci para ser maestro, só o sou por tocar piano, compor e possuir uma formação bastante eclética” .

Apesar das propostas na Alemanha, Maluf decidiu voltar para o Brasil por ser uma pessoa bastante inquieta e não conseguir se encaixar em nenhum padrão ortodoxo. A carreira na Alemanha, julgava “quadrada, conservadora e tradicionalista”. Sem se considerar um xenófobo, preferiu ficar e descobrir o seu próprio país. “Aqui no Brasil é mais fascinante para criar porque está tudo por fazer”, afirmou Jamil, convicto.

A carreira

Crítico feroz da arte fabricada em estúdios, Maluf encara as apresentações ao vivo como uma verdadeira seleção dos bons e maus artistas: “Ao vivo depende do astral, do clima e do espaço físico. O resto é maquiagem”.

Espírito Caipira

E por acreditar em talento, Jamil Maluf já defendia a formação de uma fundação cultural ligada ao Teatro Municipal de Piracicaba, patrocinada pelos setores público e privado, além, é claro, da participação popular. “A arte não pode ser imposta, ela deve, sim, ser necessária”.

Maluf lembrou que nos EUA os cidadãos comuns apresentam-se voluntariamente tanto para a divulgação e o aprimoramento artístico.

O maestro confessou, entretanto, que pode haver uma barreira em seus projetos: a idade. “O artista é essencialmente egocêntrico e é isto que o faz subir no palco. Sou conhecido por ser inovador e se, algum dia, devido ao peso dos anos, não puder ousar mais, paro com tudo, compro um sítio e vou criar galinhas. Não quero que ninguém me veja babando na batuta”, arrematou.

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