O Papel Pioneiro de Piracicaba na Construção Fabril na Província de São Paulo (V)

Figura 04: Engenho Central de Piracicaba, no início do século XX. Arquivo DPH IPPLAP

Figura 04: Engenho Central de Piracicaba, no início do século XX. Arquivo DPH IPPLAP

Em 19 de janeiro do mesmo ano (1881), o Barão de Rezende fundou a Empresa do Engenho Central (Figura 04) com um capital de rs. 4000:000$000, associado com acionistas que faziam parte de tradicionais famílias piracicabanas. A Empresa foi fundada com o prazo de funcionamento previsto para vinte anos e os maquinários foram encomendados na Firma Brissonn, na França. Em 3 de maio investiu parte de suas terras, a Fazenda São Pedro, para a instalação do engenho. Quatro dias depois em 7 de maio de 1881, D. Pedro II assinou o Decreto Imperial n° 8.089, concedendo ao Engenho Central de Piracicaba autorização para funcionar. Antes de terminar o ano, chegou da França no dia 18 de novembro, a primeira remessa de maquinaria tendo início a sua montagem sob a direção de Antonio Patureaux e Fernando Desmoulin. Em outubro de 1882 as máquinas do Engenho Central foram acionadas pondo em funcionamento o complexo agroindustrial de enormes proporções. Quanto ao edifício e maquinário, era composto de oito cilindros com entradas automáticas das canas e saída do bagaço pelas fornalhas com três geradores da força de cem cavalos, servidos por uma chaminé de tijolos, com trinta e cinco metros de altura e três tanques de cobre para saturar a garapa (Carradore, 1990).

Em função das más condições do mercado e pela insuficiência de matéria-prima, o Engenho Central estagnou. Em 1888 o Barão de Rezende passou a ser seu proprietário exclusivo. Dois anos depois, em 1891 a Empresa do Engenho Central passou a se denominar Cia. Niágara Paulista, sendo sócio do Barão de Rezende, Cícero Bastos com injeção de capital. Sem alcançar maior sucesso, o Barão de Rezende decidiu vender o engenho em 1899 para três franceses: Sr. Durocher, Fernand Doré e Maurice Allain com a nova denominação ‘Sucrerie de Piracicaba’. No ano de 1907 foi fundada a sociedade anônima ‘Societé de Sucrerie Brèsilliennes’ com a presidência de Maurice Allain, o qual a presidiu até 1932, sendo sucedido por Pierre Allain.

Figura 03: Acima: Engenho Central; nº 1: Empresa Hidráulica; nº 2: Usina Elétrica; nº 3: Fábrica de Tecidos Santa Francisca. In: RAVACHE, Hans. Planta da cidade de Piracicaba - 1916. Arquivo Museu Prudente de Moraes

Figura 03: Acima: Engenho Central; nº 1: Empresa Hidráulica; nº 2: Usina Elétrica; nº 3: Fábrica de Tecidos Santa Francisca. In: RAVACHE, Hans. Planta da cidade de Piracicaba – 1916. Arquivo Museu Prudente de Moraes

Com os franceses, passou a ser a maior empresa do estado em produção e a mais importante do país, quando da incorporação à ‘Societé de Sucrerie Brèsilliennes’ que compreendia seis usinas, com produção anual de cem mil sacas de açúcar e três milhões de litros de álcool. No entanto a partir da década de 1950, a concorrência do açúcar dos outros países latino-americanos privilegiados pelos EUA no mercado internacional, a dificuldade de manutenção das peças importadas, e de mão-de-obra especializada fizeram a produção decair em todos os engenhos centrais, obrigando a transformação em usinas. Os engenhos menores também ofereciam concorrência por serem mais numerosos e de mais fácil manejo. O processo de urbanização da Vila Rezende no decorrer do século XX também impossibilitou de certa forma o funcionamento do processo operacional. Em 1970 a usina foi vendida para a empresa ‘Usinas Brasileiras de Açúcar, de propriedade de José Adolpho da Silva Gordo, tendo funcionado até 1974, data de sua desativação.

A construção central (Figura 04) foi originalmente o principal edifício do complexo e era coberta por um telhado metálico, uma espécie de cúpula com um lanternim em quatro águas, arrematado por um coruchéu. A entrada principal era marcada por uma portada de caráter neoclássico, com colunas, entablamento e um grande brasão, arrematando o conjunto. As janelas deste edifício eram, na maioria, gêmeas em arco abatido. Esse edifício foi demolido para ceder lugar na década de 1940 aos edifícios ‘gêmeos’ (7A e 7B) que serviam originalmente como fábrica e refinaria. Outro destaque para o conjunto primitivo do Engenho Central era o bloco industrial de armazém dividido em quatro empenas, com um óculo em cada ‘frontão’. Algumas das construções que se compunham com as instalações industriais, eram remanescentes coloniais da antiga Fazenda São Pedro, como por exemplo, o único restante integral da fase inicial, a casa atualmente ocupada muitos anos pela Polícia Militar Florestal (Figura 03).

Marcelo Cachioni
Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico do IPPLAP Piracicaba-SP
Professor de Patrimônio Histórico na ASSER Rio Claro-SP e Técnicas Retrospectivas na FIEL Limeira-SP.

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