A HISTÓRIA QUE EU SEI (132)
1988, O PT NO PODER
Quando chegou ao final de seu mandato, em 1988, Adilson Benedicto Maluf havia realizado um grande número de obras públicas que mesmo os seus mais ferrenhos adversários não poderiam negar, ainda que muitas delas fossem discutíveis e discutidas. No entanto, a sua impopularidade era crescente, especialmente nos bairros e áreas periféricas onde – muito embora tivessem sido grandemente beneficiadas durante a sua gestão – as lideranças e as populações consideravam como um retrocesso a orientação de ordem social dada pelo prefeito. Em 1988, o Brasil já tinha uma nova Constituição. Assustada, a humanidade já tomava conhecimento da existência da AIDS. Um novo ministro comandava as finanças brasileiras, Mailson da Nóbrega, que substituíra Luís Carlos Bresser Pereira. A inflação tornar-se-ia incontrolável, chegando a 933% naquele ano. Uma paraibana, Luiza Erundina de Souza, do Partido dos Trabalhadores, seria eleita prefeita de São Paulo, a maior cidade da América do Sul. E, em Piracicaba, aconteciam novas eleições, surpreendentes para alguns quanto ao seu resultado, totalmente lógicas para outros. A juventude piracicabana a tudo assistia, desfilando pelo Shopping Center Piracicaba, um novo hábito na cidade, embalando também outros ídolos: Madona, Michael Jackson, Prince. Uma nova musa ocupava as manchetes dos jornais, arrancando aplausos e alegria por seu virtuosismo como jogadora de basquetebol: Paula Gonçalves, a “Magic Paula”. Mas a decadência de Piracicaba já se fazia notar até mesmo na área esportiva. As estrelas do basquetebol piracicabano formavam, agora, um outro conjunto, não mais o da UNIMEP, mas do BCN, um banco que adquiria um time campeão. Gustavo Jacques Dias Alvim, presidente da A.D.UNIMEP, não conseguira um patrocinador para o time que não mereceu a atenção da comunidade e nem da Prefeitura. E “Magic PauIa” e suas companheiras passaram a jogar com o nome BCN estampado nas camisas, num testemunho vivo de que Piracicaba estava enfraquecida.
No PMDB de Piracicaba, a crise era incontrolável, tendo chegado ao limite as divergências entre João Herrmann Neto e Adilson Maluf. Alguma das expressões mais influentes do partido – como João Pacheco e Chaves, Francisco Antonio Coelho, Barjas Negri e Gustavo Alvim – apoiavam a tese de que, apesar das restrições que lhe eram feitas, a candidatura de João Herrmann Neto era a que tinha mais viabilidade eleitoral. No entanto, Adilson Maluf pretendia indicar candidato próprio, de sua confiança, à sucessão, sendo cogitados os secretários municipais Antonio Barrichello, Walter Godoy, José Flávio Leão ou o vice-prefeito Antonio Fernandes Faganello. Os entendimentos entre as partes interessadas não foram alcançados e deu-se, então, a grande rachadura do PMDB de Piracicaba, em memorável convenção realizada no Ginásio da Agronomia, pela obtenção do controle do Diretório Municipal do partido. De um lado, estavam João Herrmann Neto, Coelho e Pacheco e Chaves; de outro, Adilson Maluf, Antonio Barrichello e Antonio Faganello, tendo-se transformado, este último, no principal coordenador daquela convenção. Tentou-se um último acordo, entre Faganello e Herrmann Neto: quem perdesse o controle do Diretório se obrigaria a apoiar o vencedor, que seria, então, candidato a prefeito. O grupo de Adilson-Faganello venceu por pouquíssimos votos, obtendo a maioria do Diretório o que lhe daria, assim, o direito de eleger a Executiva e o Presidente, que seria José Aparecido Borghesi. Aconteceu, então, o grande golpe de Francisco Antonio Coelho: enquanto Adilson Matuf e seus correligionários iam comemorar a vitória no Restaurante Mirante – embora aconselhados por Aristides de Castro Gonçalves para que não o fizessem – Francisco Antonio Coelho adulterou a ata da convenção e elegeu a Executiva, designando-se, outra vez, Presidente do PMDB em Piracicaba. Francisco Coelho trabalhava com dois livros de atas, que usava conforme o interesse do momento. Assim, o resultado da convenção foi parar no Tribunal Regional Eleitoral, com ação impetrada pelo grupo de Adilson Maluf que viu confirmada, naquele tribunal, sua vitória na convenção. O resultado disso era que José Borghesi assumia a presidência do partido e se dava, dessa forma, um golpe mortal em doisadversários políticos: Francisco Antonio Coelho, que via sua carreira política encerrada, e João Herrmann Neto que, não tendo mais espaço no PMDB, ingressou, com os seus companheiros, no PSB (partido Socialista Brasileiro). O PMDB lançava, após difíceis entendimentos, a dobradinha Antonio Faganello-Antonio Barrichello, candidatos a prefeito e a vice-prefeito de Piracicaba.